Organizar as contas

Aprenda com os ovos de Páscoa


Homem branco, com cabelo castanho claro. A foto o retrata de forma lateralizada, com uma camisa polo azul.

Arthur Vieira

@arthurvmoraes

Professor de finanças, palestrante, consultor e apresentador


Já viu o preço dos ovos de Páscoa? Comparou um ovo do chocolate “x” com uma barra do mesmo chocolate e notou que o ovo custa muito mais caro? Pois é, temos uma lição para aprender com isso.

O que justifica a diferença de preços não é a matéria prima, a embalagem nem nada físico. A justificativa está no verbo precisar.

Em uma negociação, quem conjuga o verbo precisar está em desvantagem

Se você tem filhos pequenos, você precisa comprar ovos de Páscoa, então a outra parte vai se aproveitar e subir o preço. A partir da segunda-feira após o domingo de Páscoa, o preço dos ovos vai desabar porque a necessidade muda de lado. O lojista será quem precisa vender, você só compra se quiser.

Essa regra vale para tudo, inclusive investimentos. Aprenda com os ovos de Páscoa e evite entrar em negociações conjugando esse verbo.

Nos períodos em que os juros estão altos existe maior chance de você precisar usar parte do seu dinheiro investido. Isso acontece porque o motivo dos juros altos é a inflação e a consequência é a desaceleração da economia. Por isso muita gente sente os reflexos no orçamento e na vida profissional, perdendo o emprego ou faturando menos.

Investimentos de renda fixa prefixados e híbridos, e os de renda variável, tendem a desvalorizar quando os juros sobem.

Vender investimentos como Tesouro Prefixado, Tesouro IPCA+, Tesouro Educa+ e Tesouro Renda+, além de debêntures, CRIs e CRAs que sejam prefixados ou híbridos, tende a acontecer com prejuízo nesses tempos. O mesmo para a maioria dos investimentos de renda variável, como fundos imobiliários e ações.

Se você precisar vender ou resgatar algum investimento, não vai escolher o preço e poderá ter de fazê-lo até com prejuízo. Não se martirize por isso. Ainda bem que você guardou e investiu dinheiro, tendo agora de onde tirar, mesmo que com prejuízo. Planeje-se para melhorar seu portfólio e não precisar passar por isso na próxima fase difícil da economia ou da sua vida.

Quem tem reserva de emergência, ou seja, aplicação conservadora de renda fixa, pós-fixada, com possibilidade de resgate diário, já consegue se precaver dessas situações no mercado financeiro, levantando dinheiro sem assumir prejuízos.

Os investimentos adequados para essa reserva são o Tesouro Selic, CDB pós-fixado de bancos grandes e fundos DI com baixa taxa de administração e sem crédito privado na carteira (se o seu fundo tem CP no nome, tem crédito privado e pode desvalorizar nesses momentos).

Se além de uma boa reserva você também tiver seguros, não apenas o do carro, mas coberturas como seguro saúde, residencial, de vida e de responsabilidade civil (para profissionais liberais), a proteção será ainda maior.

Perceba que com planejamento e um bom portfólio você se coloca do outro lado da negociação, do lado de quem quer, mas não precisa. Só venderá títulos sensíveis aos juros por conveniência, quando estiver apurando um bom lucro. Caso contrário, vai se valer da reserva e dos seguros, para os períodos ruins.

Fora dos investimentos tradicionais também funciona assim. Se você precisar vender seu carro ou um imóvel, tendo pressa, pode ter que aceitar preços mais baixos do que o justo.

Acontece também em situações cotidianas, como buscar um emprego melhor. Enquanto você está trabalhando, uma oferta de emprego em outra empresa é algo que você pode aceitar, se for conveniente. Já se estiver sem emprego, volta a conjugar o verbo precisar e aí não tem muito poder de barganha.

Aprenda a dourar a sua pílula valorizando você e seu patrimônio, se planeje para não entrar em negociações desfavoráveis. Uma boa reserva de emergência vai ser sempre a principal proteção.

E sobre os ovos de Páscoa: compre o que couber no seu orçamento e deixe sua criança feliz! Depois você economiza em outras compras, nas situações em que não esteja conjugando o verbo precisar!

As opiniões contidas nessa coluna não refletem necessariamente a opinião da B3

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