Mercado

Arthur Vieira: O motor do mercado de capitais é flex

O mercado de capitais segue cumprindo seu papel como um dos principais meios de financiamento da economia


Homem branco, com cabelo castanho claro. A foto o retrata de forma lateralizada, com uma camisa polo azul.

Arthur Vieira

@arthurvmoraes

Professor de finanças, palestrante, consultor e apresentador


O mercado de capitais é muitas vezes tratado como se fosse um ente conhecido, com vontade e voz única. E até como se tivesse endereço fixo, a Faria Lima. A verdade é bem diferente, o mercado não tem endereço, nem voz ou vontade simplesmente porque ele é composto por todos nós, milhões de pessoas, empresas e entidades de governo, que utilizam as diversas soluções que o mercado oferece.

O tão falado mercado não é o fim, ele está no meio dos agentes que têm dinheiro para investir e dos que precisam de dinheiro para empreender. Mais do que estar no meio, o mercado é um dos meios que todos nós temos para investir ou levantar dinheiro.

Sempre tem alguém e um motivo do outro lado

Se você investe em um determinado ativo, certamente tem um motivo pelo qual entende ser do seu interesse colocar parte do seu dinheiro naquilo. E se esse determinado ativo está disponível no mercado é porque o governo ou alguma empresa o emitiu, para captar dinheiro por algum motivo que é do interesse do governo ou da empresa.

Você pode investir o seu dinheiro em imóveis, joias, plantação de batatas, negócio próprio e tantas outras opções fora do mercado de capitais. Assim como empreendedores podem conseguir dinheiro para seus projetos fora do mercado de capitais, pedindo emprestado para parentes, amigos ou bancos, ou ainda buscando sócios conhecidos para formar uma empresa.

Se o dinheiro passou pelo mercado de capitais é porque, dos dois lados da mesa, de quem investe e de quem emite títulos, alguém entendeu que aquela solução era ideal para os seus objetivos.

Lembre-se sempre que você investe com interesse de ganhar, em um título que alguém emitiu com interesse de usar aquele dinheiro para viabilizar algum projeto, geralmente buscando ter lucro.

Para o investidor, o ideal é que o investimento renda muito e tenha baixo risco. Para quem emite, o ideal é que seja a fonte de recursos mais barata possível.

Perceba que o quanto você espera ganhar é o quanto o seu dinheiro custa para quem emitiu o título.

Da mesma forma que você busca balancear seus investimentos entre renda fixa e variável, com interesse de proteger o seu patrimônio e aumentar seus ganhos, as empresas balanceiam suas emissões de títulos de renda fixa e renda variável, com interesse de levantar dinheiro ao custo mais baixo possível, para poder investir nos seus respectivos negócios.

Existem dezenas de títulos financeiros, mas todos eles se enquadram entre renda fixa, que formaliza um empréstimo em troca e ao custo de juros, ou renda variável, que formaliza uma sociedade em troca e ao custo de participação nos lucros.

O motor do mercado de capital é flex

Assim como um carro flex, que pode ser abastecido por etanol ou gasolina, quem emite títulos pode abastecer seu caixa com empréstimos (renda fixa) ou títulos de propriedade (renda variável ou equity).

Proprietários de veículos flex utilizam o combustível que for mais vantajoso financeiramente, entre preço e autonomia para rodar. Os departamentos financeiros das empresas utilizam os títulos que forem mais vantajosos em termos de custos e direitos políticos. E nesse aspecto, a renda fixa é preferida, pois o custo é mais baixo e não confere direitos políticos para quem investe.

Considerando que o etanol é mais barato, ele dá o tom da preferência. Quanto mais subir o preço do etanol, mais cara ainda será a gasolina e maior será a procura por Etanol e menor a por gasolina.

Quanto maior for o custo de emitir títulos de renda fixa, maior será o retorno para quem investe, maior será a preferência por eles. Já os títulos de renda variável ficam menos interessantes tanto para quem investe quanto para quem emite.

Com a taxa básica de juros (Selic) no maior patamar dos últimos 19 anos, é natural que a renda fixa ocupe maior espaço no mercado de capitais. Os dados demonstram isso claramente.

AnoVolume Total Captado via Mercado de CapitaisRenda FixaRenda VariávelSelic ao final do ano
2019430.345.057.83469,60%30,40%4,50%
2020378.676.762.17257,42%42,58%2,00%
2021610.080.069.22670,23%29,77%9,25%
2022547.956.021.39083,67%16,33%13,75%
2023470.059.412.54384,98%15,02%11,75%
2024788.105.718.17890,54%9,46%12,25%
2025528.494.861.17692,21%7,79%15,00%
Fonte: Boletim Mercado de Capitais – ANBIMA / Banco Central do Brasil

Nos anos de 2019, 2020 e 2021, com a Selic em patamares abaixo de 10% ao ano, a emissão de títulos de renda variável ficou entre 30% e 40%, aproximadamente, do volume total de dinheiro captado no mercado de capitais. Já entre 2022 e 2025 (dados até setembro), com a Selic alta e subindo cada vez mais, a renda variável vai perdendo espaço para a renda fixa. Natural e esperado que isso aconteça.

Mas isso não significa que o mercado de capitais esteja fraco. Pelo contrário, segue cumprindo seu papel de ser um dos principais meios de financiamento da economia. Note como o volume total captado em 2024 foi o maior dos últimos anos e em 2025 já superou o total de 2023 e poderá ainda ser maior do que o ano de 2022.

O posto de combustível da economia está funcionando muito bem! Combustível não falta, apenas a preferência por etanol ou gasolina varia ao longo do tempo.

Seja com títulos de renda fixa ou de renda variável, o mercado de capitais segue vigoroso, servindo às pessoas, empresas e governos de títulos para que todos alcancem os seus objetivos. 

*As opiniões contidas nessa coluna não refletem necessariamente a opinião da B3

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