Bateu suas metas? O COPOM não
Mais uma vez a inflação vai ficar acima da meta. Entenda o que é isso e como te afeta.
O Brasil adota o regime de metas para a inflação desde 1999, assim como centenas de outros países. Atualmente a meta é que a inflação termine o ano em 3%, podendo ficar dentro de um intervalo que vai de 1,5% a 4,5%.
Acredito que o seu chefe não seja assim tão bonzinho, mas o chefe do COPOM é e considera que a meta é atingida mesmo que a inflação fique 1,5 ponto percentual abaixo ou acima do núcleo. Essa “molezinha” é importante e tende a ser benéfica até para você.
Perceba que desejamos ter inflação, porém baixa, estável e previsível. Essa é a ideia que permeia o regime de metas. E desejamos porque inflação nada mais é do que o reflexo de uma economia aquecida e em que as pessoas têm confiança para gastar.
Já inflação alta e imprevisível causa estragos terríveis na vida das pessoas, especialmente os mais pobres. Por isso é importante sempre tentar controlá-la. Quem viveu antes do plano real (1994) sabe muito bem que estragos são esses e não gosta nem de lembrar dessa época.
Estabelecer uma meta e comunicá-la com antecedência tem a função de ancorar expectativas. Algo mais na linha da economia comportamental. Isto é, o regime de metas funciona para que e desde que as pessoas acreditem que a meta será cumprida.
Já sabemos que para 2025 e 2026 a meta continua sendo de inflação em 3%, podendo ficar entre 1,5% e 4,5%, então, desde que acreditemos que a meta será atingida, já temos uma boa noção de como planejar nossos investimentos e gastos futuros. Nós, as empresas e o governo.
Quem manda, quem executa e como?
Quem estabelece a meta e o intervalo de tolerância é o Conselho Monetário Nacional (CMN), que é composto pelo Ministro da Fazenda, Ministro do Planejamento e Orçamento e pelo Presidente do Banco Central do Brasil. CMN é o “chefe”.
Quem tem que cumprir a meta é o COPOM (Comitê de Política Monetária) formado por presidente e oito diretores do Banco Central do Brasil.
A principal ferramenta que eles têm é a taxa básica de juros, a conhecida Taxa Selic Meta. O comitê se reúne oito vezes por ano para decidir se alteram ou não os juros, sempre com objetivo de tentar conduzir a inflação, que é um fenômeno natural, para a meta.
É como se os juros fossem o remédio e a inflação a febre. Quando a febre sobe, precisa aumentar a dose do remédio e então o COPOM aumenta os juros. Quando a febre finalmente baixa é possível diminuir a dose do remédio, baixar juros.
A lógica por trás disso é que juros mais altos levem à diminuição do consumo, por dois motivos: para quem precisa pagar parcelado as coisas ficam mais caras, pois os juros maiores encarecem as parcelas. E para quem tem dinheiro sobrando acontece um incentivo para investir, ao invés de gastar, já que os investimentos pós-fixados (como Tesouro Selic e outros) passam a render mais. Com menos pessoas gastando, ou, no jargão dos economistas, menos demanda, se espera que os preços parem de subir.
Perceba que o remédio é amargo e tende a dificultar a vida de todos. Por isso que aquela “molezinha” do chefe é importante. Adotamos esse regime com bandas para poder tolerar inflação um pouco acima do centro da meta, para que o COPOM não precise ficar subindo juros com mais frequência e intensidade. Tem ocasiões em que a inflação sobe por um motivo passageiro, sazonal, e se for esse o caso o COPOM pode deixar as coisas se acertarem sozinhas, sem precisar amargar mais a nossa vida.
Quando o remédio faz efeito e a inflação dá uma folga, o COPOM pode baixar juros, facilitando a vida dos consumidores e dificultando a vida dos investidores mais conservadores, já que as aplicações pós-fixadas passam a render menos. Isso faz com que o dinheiro circule mais, seja para consumo, seja para investimentos mais arriscados, o que movimenta e aquece a economia. Com isso, em algum momento a inflação vai voltar a subir e então o COPOM vai ter que aumentar a dose do remédio de novo, para que ela não fuja da meta. É um ciclo sem fim.
E o que acontece quando a inflação fica fora da meta?
Lembre-se que o regime de metas para inflação só funciona se acreditarmos nele. Por isso, se a meta não é atingida, o presidente do Banco Central escreve uma carta para o Ministro da Fazenda, mas também aberta para toda a população, explicando os motivos que levaram a inflação a ficar fora da meta e, principalmente, os motivos para acreditarmos que voltará a ficar dentro da meta nos anos seguintes.
Cartas abertas já foram escritas 7 vezes (2001, 2002, 2003, 2015, 2017, 2021 e 2022). Uma curiosidade é que 2017 foi a única vez em que a meta não foi atingida porque a inflação ficou abaixo do mínimo.
Em 2024 provavelmente a oitava carta será enviada, pois a inflação acumulada está acima de 4,5%. Se você tiver curiosidade de ler as cartas abertas, elas estão disponíveis aqui.
A partir de 2025 acontecerá uma pequena mudança no regime, pois a meta deixará de ser para o fim do ano e passará a ser para um período de 12 meses corridos. Vai ter carta aberta se a inflação ficar mais do que 6 meses acima da meta estabelecida pelo CMN.
Agora você já sabe porquê se fala tanto sobre COPOM e Taxa Selic Meta. Principalmente, entendeu porquê os juros sobem e descem o tempo todo. É o ciclo sem fim de estabelecer a dose ideal do remédio para manter a febre da inflação dentro da meta.
Eu desejo que você atinja as suas metas pessoais e sugiro que as comunique com antecedência para as pessoas que você gosta. Talvez um regime de metas te ajude a manter a vida mais equilibrada também!
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