Investir melhor
Correndo de chinelos no mercado financeiro
Com certeza você já sabe quem é o Isaque. Aquele cidadão que completou uma corrida de rua de 8 quilômetros usando chinelo e roupas simples.
A foto tomou conta de todos os portais e chama atenção porque ele está cercado por outras pessoas que estão usando óculos de sol, roupas e tênis especiais para corrida. Produtos sofisticados e caros, que muitos acreditam melhorar a performance de quem os utiliza.
Não pude deixar de traçar um paralelo com o mercado de investimentos.
Tem muita gente que usa produtos financeiros caros e sofisticados que, no longo prazo, não vão entregar resultados condizentes com os custos ou com o que prometem. Alguns nem vão terminar a corrida e vão sumir em pouco tempo.
Fundos de gestão ativa com altas taxas de gestão e taxa de performance, ou carteiras recomendadas, raramente batem a média do mercado consistentemente em períodos longos.
Não estou emitindo uma mera opinião. A S&P Down Jones Indices, empresa líder global em prover índices para o mercado financeiro, faz dois estudos trimestrais sobre o desempenho de fundos de gestão ativa em diversos países, incluindo o Brasil.
O SPIVA demonstra qual o percentual de fundos de gestão ativa que conseguem entregar performance acima dos seus índices de referência (ou seja, da média do mercado). Para o Brasil, esse comparativo está disponível em janelas de 1, 3, 5 e 10 anos. No maior período, apenas 19% dos fundos bateram a média do mercado. Você pode conferir aqui
Outro estudo, mais complexo, é o Scorecard de persistência. Esse acompanha individualmente o desempenho dos fundos que bateram a média do mercado, para conferir se conseguiram superar novamente a média nos anos seguintes. No caso dos fundos de renda variável brasileiros, daqueles que superaram a média no ano de 2020, apenas 1,6% deles conseguiram manter a persistência do resultado nos quatro anos seguintes. Veja o Scorecard de persistência aqui
A alternância de performance é absolutamente comum, algo natural na vida. Ninguém tem alta performance consistentemente por longos períodos. Você já viu algum time de futebol ficar 5 anos consecutivos entre os 3 primeiros lugares do campeonato?
Mesmo você já deve ter tido alta performance no seu trabalho ou em alguma atividade recreativa, mas não se manteve no topo por 5 anos consecutivos. As circunstâncias vão mudando e os altos e baixos, inerentes à vida, acontecem.
No mercado financeiro não seria diferente. Por isso, gestores de fundos e analistas de mercado também dificilmente entregarão resultados superiores à média consistentemente em longos anos.
Isso sem falar nos influenciadores digitais que dizem ter desenvolvido métodos de investimentos. (Aqui, este colunista precisa respirar fundo antes de continuar escrevendo, para conseguir se expressar com o devido decoro que essa coluna merece).
Para poupar o meu e o seu tempo, basta você entender que nem os profissionais 100% dedicados à gestão de recursos e análise de investimentos conseguem bater o mercado. Não será o influenciador, que estuda mais marketing do que finanças, que conseguirá entregar resultados consistentes de longo prazo. Você faria um grande favor a si e ao seu patrimônio se parasse de dar ouvidos a essas pessoas.
Correndo de chinelos no mercado financeiro
No mercado financeiro, os fundos de índice são os produtos que completam as provas de longo prazo de forma simples e eficiente. Apelidados de ETF (exchange traded funds), esses fundos têm por objetivo entregar resultado igual ao de um índice de referência. Para tanto, os gestores apenas investem nos mesmos ativos que fazem parte de um índice, em proporções praticamente iguais. Essa estratégia, que é quase que um copiar e colar, é chamada de gestão passiva.
As cotas de um fundo de índice são negociadas na B3, de forma que o investimento está disponível por meio de todas as corretoras de valores. Como a estratégia de gestão é simples, as taxas de administração desses fundos tendem a ser bem mais baixas e não existe cobrança de taxa de performance.
O Ibovespa B3, por exemplo, que é o principal índice de referência da bolsa de valores no Brasil, é “copiado” por oito fundos de índices. A menor taxa de administração entre eles é de 0,03% ao ano, enquanto a maior é de 0,50% ao ano. Os dois fundos com maior liquidez cobram 0,10% ao ano e existe um em que a taxa é de 0,15% ao ano, mas que está, temporariamente, 0%.
Brasileiros ainda não acordaram para os ETFs
Milhões de pessoas investem via fundos de índices. Cerca de 20% dos recursos geridos no mundo estão em ETFs. Porém, no Brasil, esse número não chega sequer a 1%. Quem será que está errado? O mundo ou os brasileiros? O mundo ou o influenciador digital que quer te convencer a comprar o método de investimentos dele?
Quem investe em fundos de índice estará sempre na média do mercado, pagando baixo custo pela gestão dos recursos. Existem opções de renda variável, incluindo criptoativos, e de renda fixa.
Para escolher em qual investir, basta entender a metodologia do índice. Para manter a simplicidade, para correr de chinelos nos seus investimentos, escolher fundos que replicam índices amplos (como o Ibovespa B3 ou o S&P 500) já é suficiente.
Gestão passiva e ativa podem coexistir no seu portfólio de investimentos. O que não faz sentido é não investir nada em fundos de gestão passiva.
Espero que o exemplo de simplicidade do Isaque possa te ajudar a olhar com mais interesse para o mercado de fundos de índices!
As opiniões contidas nessa coluna não refletem necessariamente a opinião da B3
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