Objetivos financeiros

Risco na medida certa para você

Quando você ouve a sua playlist preferida, quanto mais alto o volume melhor? Ou a partir de um certo ponto fica tão alto que te incomoda? Com investimentos vai ser bem parecido. Não é preciso assumir alto risco, apenas até onde te deixa confortável

Diversificação. Foto: Adobe Stock
A diversidade de ativos disponíveis no mercado hoje colabora com a estratégia de diversificação. Foto: Adobe Stock

Homem branco, com cabelo castanho claro. A foto o retrata de forma lateralizada, com uma camisa polo azul.

Arthur Vieira

@arthurvmoraes

Professor de finanças, palestrante, consultor, apresentador e sócio do Clube FII


Assumir risco ao investir é como regular o volume que você escuta música. Você escolhe entre uma escala, desde o baixo até o mais alto. 

Só não tem o botão “mudo”, ou seja, não existe nenhum investimento sem risco (assim como nada da vida).

Quando você ouve a sua playlist preferida, quanto mais alto o volume melhor? Ou a partir de um certo ponto fica tão alto que te incomoda? Com investimentos vai ser bem parecido. Não é preciso assumir alto risco, apenas até onde te deixa confortável. 

Acontece que na playlist dos investimentos você regula dois botões de volume. Um de quanto gostaria de ganhar e o outro de quanto risco de perder aceita assumir. Toda vez que você sobe o volume de quanto quer ganhar, o volume do risco sobe junto. Mas o contrário nem sempre acontece.

Vamos entender como ir subindo nessa escala gradativamente até encontrar o volume ideal. Mas antes é preciso ter bem claro duas coisas:

  • 1 – O único risco ao investir é o de perder dinheiro. Existem dezenas de fatores que podem levar a esse único resultado indesejado, mas é só isso o que pode acontecer, perder dinheiro.
  •  2 – Não se assume risco de graça! Só faz sentido escolher investimentos mais arriscados se existir chance de ganhar mais do que em outros investimentos conservadores. 

Apesar de haver dezenas de fatores de risco, no dia a dia você vai lidar principalmente com três deles, que são os fatores de risco de crédito, liquidez e mercado. E é aumentando aos poucos o volume desses fatores que você vai encontrar o ponto certo para você.

Fator de risco de crédito é o risco de tomar um calote. Quando você investe em renda fixa, empresta dinheiro para alguém, que pode ser o governo, bancos ou empresas de outros setores. Sempre existe uma chance de você não receber o seu dinheiro de volta. O volume desse fator de risco funciona assim:

Quando você investe em títulos do governo, pelo Tesouro Direto, o risco é mínimo. Quando investe em títulos de bancos, como CDB, LCI e LCA, o risco é um pouco maior, conforme o banco que emitiu o título, mas você conta com uma espécie de seguro, oferecido pelo FGC (Fundo Garantidor de Créditos), que te devolve até R$ 250.000,00 caso o banco tenha problemas e não honre o seu investimento. Já títulos emitidos por outros tipos de empresas, como debêntures, CRIs e CRAs, não possuem garantia do FGC e vão ser mais ou menos arriscados conforme a empresa que os emitiu.

Então o volume do fator de risco de crédito começa nos títulos do Tesouro Direto, passa em seguida pelos títulos bancários com cobertura do FGC e fica mais alto nos títulos sem essa cobertura. Você escolhe até onde quer ir.

O fator de risco de liquidez significa entender quanto tempo demora para seu investimento se converter novamente em dinheiro na sua conta. Existem investimentos com liquidez imediata ou em um dia útil, como títulos do Tesouro Direto, CBDs e contas remuneradas, outros em que os prazos são maiores, como 30 ou 60 dias e ainda investimentos em que não existe regra definida e geralmente a liquidez depende da venda do ativo, o que a torna menos previsível.

Um primeiro estágio para aumentar o volume do risco e do retorno é alongar o prazo dos seus investimentos em renda fixa. Compare no seu banco um CDB com liquidez diária (que você pode resgatar a qualquer momento) com um CBD que só permite resgate após 6 meses. Você perceberá que o CDB com prazo maior para resgate oferece mais ganho. 

Você não precisa ter todo o seu dinheiro disponível a qualquer instante. Após formar uma reserva de emergência, em aplicações pós-fixadas com resgate imediato (no mesmo dia ou em 1 dia útil) invista em títulos bancários, com cobertura do FGC e com prazos mais longos. 

Perceba que você pode estar assumindo o mesmo nível de fator de risco de crédito, investindo em um título do mesmo banco, mas conseguindo um pouco mais de ganho por aceitar aumentar o fator de risco de liquidez. 

Sobre o fator de risco de mercado, ele é aquele sobe e desce de preços. Tudo o que pode ser negociado oscila de preço, tanto títulos de renda fixa quanto de renda variável. O tamanho da oscilação e a imprevisibilidade sobre os motivos que fazem os preços oscilarem é que vão dar a medida desse fator de risco. Algo como ondas do mar. Podem ser pequenas ou grandes, raras ou frequentes. 

Na renda fixa esse fator de risco é bem pequeno nos investimentos pós-fixados e vai aumentando nos investimentos prefixados, quanto maior for o prazo até o vencimento. Títulos que rendem indexador mais juros prefixados (como IPCA + X% ao ano) também oscilam bastante de preço. Na renda variável a imprevisibilidade é maior e, por isso, o fator de risco de mercado é considerado mais alto.

Aumentar o volume desse fator de risco demanda planejamento e diversificação. Não se deve ter todo o dinheiro exposto a alto risco de variação de preços, então o planejamento implica em ter uma reserva de emergência em títulos pós-fixados de renda fixa e, além disso, distribuir seu dinheiro em diferentes investimentos que tenham grande variação de preço, para não depender dos resultados de apenas um deles. 

Risco com inteligência

Comece a aumentar o volume do risco aos poucos e pela renda fixa pós-fixada. Primeiro pelos fatores de risco de liquidez e crédito. Mais prazo no mesmo banco ou investindo em títulos de bancos pequenos e médios.

Aumentar o fator de risco de mercado começa ao investir parte do dinheiro em renda fixa prefixada ou IPCA + juros. No passo seguinte, invista aos poucos em fundos imobiliários, fiagros e ações. Comece com pouco, vá diversificando, até se habituar com as ondas de preços. No começo parece assustador, mas quem é do mar não enjoa. Depois de algum tempo e com mais conhecimento, você se acostuma. 

Assumir risco de perder dinheiro não é coisa para quem é valente e sim para quem é inteligente! Investimento não é tudo ou nada. Tenha um conjunto de investimentos, uns com menos risco outros com mais, combinando os fatores até o volume ideal para você.