Objetivos financeiros

As mentiras que nos contam sobre as finanças pessoais


Carol Stange, colunista Bora Investir. Fonte: Arquivo pessoal.

Carol Stange

Educadora e planejadora financeira, especialista e analista em investimentos, Carol Stange atua como multiplicadora do programa “Eu e meu dinheiro” do Banco Central e acumula as certificações CEA (Anbima) e CNPI-T (Apimec), além de ser Consultora CVM, criadora da marca “Como enriquecer seu Filho” e cofundadora do Instituto de Educadores Financeiros.


É natural do ser humano carregar suas crenças vida afora, inclusive as financeiras. E não adianta dizer que com você é diferente. Elas estão tão enraizadas em nossa mente que não há questionamentos. Pensamos e fazemos o que fazemos porque foi assim que aprendemos, e certamente, essa “verdade” aprendida é única e incontestável. Opiniões à respeito dos hábitos de consumo, investimentos, financiamentos, criação financeira dos filhos e casa própria? Todos temos.

As crenças financeiras são como lentes pelas quais enxergamos o mundo – essas lentes foram formadas a partir das nossas experiências, educação, cultura e influências de pessoas importantes e queridas na nossa vida, principalmente durante nossa infância.

Crescer vendo o pai guardar algum dinheiro dentro de casa “porque o banco não era confiável”, ouvir a mãe alertando sobre “papel de mulher é cuidar da família e não de dinheiro” são bons exemplos de como crescemos sendo expostos à definição de papeis, responsabilidades e verdades sobre finanças. 

Para exemplificar como algumas crenças financeiras regem boa parte do nosso comportamento financeiro, separei três grandes “verdades absolutas” que certamente deixarão você pensativo não só em relação à sua própria vida financeira como para a daqueles com quem você convive e compartilha afeto. 

  1. “Segurança financeira vem de um bom emprego e de um salário garantido”

Vamos alinhar alguns pontos antes? É claro que um bom salário e um bom emprego podem trazer segurança financeira imediata, porém é preciso lembrar da falta de garantias quando falamos da perpetuidade dessa segurança. Mudanças organizacionais acontecem, chefes vão e vêm, empresas nascem, são compradas e morrem todos os dias. Será que ter um bom emprego com uma remuneração atraente é mesmo sinônimo de segurança financeira? 

Ter um bom salário, mas não poupar nada dele, não garante segurança alguma. Aliás, esse tema está relacionado a uma conjução de fatores, que começa com hábitos de consumo equilibrados, passa pela reserva financeira e investimentos focados em conquistas financeiras, e termina em um bom planejamento de aposentadoria e sucessório. Segurança financeira vai muito além de apenas um “bom emprego com um salário garantido”.

  1. “Investir só vale a pena se a rentabilidade for alta, caso contrário, deixar na poupança é o suficiente”

A rentabilidade oferecida pela poupança não é suficiente para garantir poder de compra ao investidor ao longo do tempo. 

Em outras palavras, imagine a seguinte situação hipotética: você tem dinheiro disponível hoje para comprar uma TV à venda por R$ 3.000,00, mas por algum motivo, escolhe guardar esse mesmo dinheiro na poupança e voltar à loja daqui 1 ano para realizar a compra. 

Em um ano, essa mesma TV estará à venda por R$ 3.200,00 e seu dinheiro na poupança estará corrigido para R$ 3.070,00. Você perdeu, ao longo desse período, poder de compra. Isso quer dizer que as coisas ficaram mais caras, mas a rentabilidade do seu dinheiro na poupança não acompanhou. Apesar dos números serem apenas para exemplificar, fica simples de entender como esse processo acontece no dia a dia, não é?

Esse é um dos motivos pelo qual vale buscar investimentos que remunerem pelo menos 100% do CDI, que garantam a mesma remuneração da taxa Selic ou ainda, remunerem mais do que o IPCA (índice oficial da inflação). 

  1. “Pensar na aposentadoria é mais indicado após os 40 anos”

Aposentadoria é coisa para quem tem mais de 40 anos? Ledo engano. Tenho uma continha que vai provar minha fala insistente de que “quanto antes começar seu planejamento de aposentadoria, melhor”. 

Para quem começa a poupar e a investir aos 30 anos de idade e tem o objetivo de receber o mesmo valor do seu salário atual quando estiver com 65 anos, a sugestão é de que destine aproximadamente 10% da receita mensal para o planejamento de aposentadoria. Difícil? Talvez não, considerando que os 30 anos de idade representa, em geral, uma fase de vida onde não se costuma carregar contas fixas altas, como as com financiamento imobiliário e despesas com dependentes financeiros. 

Quem adia esse cuidado com seu futuro acaba encontrando cenários muito mais desafiadores. Conforme o tempo vai passando, o percentual sugerido para que o padrão de vida se mantenha na aposentadoria vai aumentando assustadoramente:

Se começar o planejamento de aposentadoria aosPercentual sugerido 
40 anos20% da receita mensal
50 anos50% da receita mensal
55 anos85% da receita mensal

Fica claro que se planejar para a aposentadoria é coisa de jovem, não é?

Dicas finais

Finalizo esse texto deixando algumas dicas importantes em relação às crenças financeiras que costumam estar enraizadas em nossa mente: 

  • Busque conhecimento confiável e atualizado. Muitas crenças financeiras foram herdadas sem questionamento. As coisas mudam e o que fazia sentido antigamente talvez hoje seja apenas reflexo da falta de conhecimento ou de atualização.
  • Tenha em quem se inspirar. Siga pessoas bem resolvidas com o dinheiro, que enxergam a vida financeira de forma positiva e construtiva.
  • Perdoe seu passado e as pessoas que fizeram parte dele. O passado já passou. Delete as crenças financeiras doídas ou destrutivas, perdoe aqueles que transmitiram ensinamentos ruins. Cada geração transmite à próxima um pouco mais do que teve, acredite.

Se isso tudo fez sentido para você, aproveite para comentar com seus queridos e repensar em algumas “verdades financeiras”. Somos seres em constante evolução, inclusive quando falamos de finanças pessoais e investimentos. Bora cuidar cada vez melhor do seu dinheiro?