Objetivos financeiros

A arte de não fazer nada: quando a inércia é a melhor estratégia financeira


Carol Stange, colunista Bora Investir. Fonte: Arquivo pessoal.

Carol Stange

Educadora e planejadora financeira, especialista e analista em investimentos, Carol Stange atua como multiplicadora do programa “Eu e meu dinheiro” do Banco Central e acumula as certificações CEA (Anbima) e CNPI-T (Apimec), além de ser Consultora CVM, criadora da marca “Como enriquecer seu Filho” e cofundadora do Instituto de Educadores Financeiros.


Em um mundo que nos impele a correr atrás dos sonhos, a não desistir nunca e a estar sempre em movimento, a ideia de que a inércia pode ser uma estratégia vencedora parece contraintuitiva. Mas, em mais de 15 anos como educadora e consultora financeira, aprendi que, no universo dos investimentos, a quietude pode ser tão poderosa quanto a ação.

Lembro-me de um cliente, um empresário bem-sucedido, que me procurou em pânico durante uma das tantas crises que assolam o mercado brasileiro. Ele estava convencido de que precisava vender tudo, liquidar suas posições e esperar a poeira baixar. Eu o aconselhei a respirar fundo, a não tomar nenhuma decisão precipitada. E, como já aconteceu tantas vezes antes, a crise passou, o mercado se recuperou e ele não só não perdeu dinheiro como ainda viu seus investimentos valorizarem.

O perigo da ação impulsiva

A sensação de que precisamos estar sempre fazendo algo nos investimentos é compreensível. Afinal, estamos lidando com nosso suado dinheiro, nosso futuro financeiro. No entanto, essa necessidade de ação pode nos levar a tomar decisões impulsivas, baseadas em medo ou euforia, que acabam prejudicando nossos objetivos de longo prazo.

Quantas vezes já vimos investidores vendendo na baixa, por medo de perder ainda mais, e comprando na alta, por medo de ficar de fora? Quantas vezes já vimos pessoas mudando seus planos de investimento por causa de uma notícia alarmista ou do palpite de um amigo?

É evidente que não estou dizendo que devemos ficar parados, esperando que o dinheiro caia do céu e se multiplique sozinho. O que estou dizendo é que a ação, por si só, não é garantia de sucesso. Na verdade, muitas vezes, a ação impulsiva é o caminho mais rápido para o fracasso.

A importância de ter um plano e segui-lo

A chave para investir com sucesso é ter um plano bem definido e segui-lo com disciplina, mesmo quando o mercado parece estar de cabeça para baixo. Esse plano deve levar em conta seus objetivos financeiros, seu perfil de risco e seu horizonte de investimento.

Uma vez que você tenha um plano, não o abandone ao primeiro sinal de turbulência. Lembre-se de que o mercado financeiro é cíclico, com altos e baixos. Se você investir em ativos de qualidade e tiver paciência, as chances de você alcançar seus objetivos são muito maiores.

Quando a inércia é a melhor amiga

Pense com calma: se você já tem um plano sólido e seus investimentos estão indo bem, não se sinta pressionado a fazer mudanças por causa de um palpite ou de uma notícia. Lembre-se de que o tempo é seu maior aliado nos investimentos. Quanto mais tempo você ficar (bem) investido, maiores serão as chances de você se beneficiar do poder dos juros compostos.

A sabedoria da pausa

Se você está se sentindo tentado a fazer alguma mudança em seus investimentos, faça uma pausa obrigatória. Respire fundo, analise seus motivos e pergunte a si mesmo se essa mudança realmente faz sentido para seus objetivos de longo prazo.

Imagine que você está tentando convencer um amigo sensato e experiente de que sua decisão é a correta. Se você não consegue encontrar argumentos convincentes, talvez seja melhor não fazer nada.

O poder do conhecimento

Em um mundo cada vez mais inundado por informações, é fácil se deixar levar por palpites e notícias alarmistas. Mas precisamos lembrar que o conhecimento é o seu maior aliado nos investimentos.

Antes de tomar qualquer decisão, informe-se sobre o mercado, sobre os ativos em que você está investindo e sobre as diferentes estratégias de investimento. Se preferir, contrate um profissional independente para te orientar, de forma isenta de conflitos de interesse, sobre os melhores produtos para a sua estratégia. Quanto mais você souber, mais seguro você se sentirá para tomar as decisões certas.

Conclusão

Em um mundo que valoriza a ação constante, a quietude pode parecer um retrocesso. Mas, como aprendi ao longo da minha carreira, saber quando não agir é uma habilidade tão importante quanto saber quando agir. 

Lembre-se de que o mercado financeiro é um jogo de longo prazo. Se você tiver paciência, disciplina e conhecimento, as chances de você alcançar seus objetivos são muito maiores. E, às vezes, a melhor maneira de fazer isso é simplesmente não fazer nada.