Investir melhor
A cilada do barato: quando a busca pela economia é uma má escolha
Carol Stange
Educadora e planejadora financeira, especialista e analista em investimentos, Carol Stange atua como multiplicadora do programa “Eu e meu dinheiro” do Banco Central e acumula as certificações CEA (Anbima) e CNPI-T (Apimec), além de ser Consultora CVM, criadora da marca “Como enriquecer seu Filho” e cofundadora do Instituto de Educadores Financeiros.
Aquele desconto “imperdível” faz seu coração bater mais forte? A busca incessante pelo menor preço te leva a rodar a cidade ou passar horas na internet? É quase um reflexo automático: vemos uma promoção “imperdível” e, sem pensar duas vezes, já estamos calculando a economia. Seja dirigindo quilômetros a mais para abastecer o carro com gasolina mais barata ou passando horas na internet atrás do melhor preço para um produto qualquer, todos nós já caímos na armadilha da “economia a qualquer custo”. Mas será que estamos, de fato, economizando?
Meus anos de experiência me permitem afirmar, com total segurança, que essa busca implacável pelo barato, na maioria das vezes, é uma cilada. E não falo isso sem motivo. Ao longo da minha carreira, vi muitas pessoas fazerem esforços impressionantes para se deixarem levar pela ilusão de economia, muitas vezes, de centavos. A verdade é que muitas dessas “pechinchas” acabam se transformando em verdadeiros ralos de dinheiro, tempo e energia.
Ninguém é imune.
Vou compartilhar uma experiência pessoal que, acredito, você poderá se identificar. Seduzida pela promessa de um combustível mais em conta, decidi pegar um desvio um pouco mais longo para aproveitar a tal promoção. A economia por litro parecia ótima, mas o que eu não levei em conta foi o tempo perdido no trânsito e o combustível adicional gasto para chegar até lá. No fim das contas, a “economia” se revelou um prejuízo. Foi nesse momento que a ficha caiu: a busca pelo barato pode nos cegar para o verdadeiro custo das nossas escolhas.
E esse é apenas um exemplo. Quem nunca economizou em algo, apenas para perceber depois que teria sido melhor pagar um pouco mais por um produto de melhor qualidade ou por um serviço mais completo? Pensando nisso, quero destacar algumas das falsas economias que, na prática, drenam seu bolso:
- Compras por impulso em promoção: A tentação de uma liquidação pode te levar a adquirir coisas que você não precisa, só porque estão com desconto.
- Economizar em manutenção preventiva: Adiar a revisão do carro ou a troca do filtro do ar-condicionado pode parecer uma boa ideia, até que o problema se torne maior e mais caro.
- Escolher o plano de saúde mais barato: No momento da escolha, um plano com cobertura limitada pode parecer suficiente, mas e se você precisar de um atendimento mais complexo? O barato pode sair muito caro.
- Priorizar produtos financeiros isentos de impostos. Investir em produtos isentos de Imposto de Renda pode parecer uma ótima estratégia, mas cuidado! Não se deixe seduzir apenas pela isenção. Priorize a rentabilidade e busque alternativas que ofereçam um retorno atrativo, mesmo que impliquem em pagar IR. Lembre-se: o objetivo é fazer seu dinheiro crescer, não apenas evitar impostos.
- Fazer tudo sozinho para economizar: Às vezes, contratar um profissional para contabilidade, reparos ou consultoria financeira é um gasto que vale cada centavo, livrando você de erros custosos e liberando seu tempo para focar em atividades mais produtivas.
Quanto custa seu tempo?
Outro ponto crucial a ser considerado é o valor do seu tempo e da sua energia. Muitas vezes, o tempo gasto pesquisando preços ou se deslocando para aproveitar uma promoção poderia ser melhor aproveitado de outras formas, inclusive gerando mais dinheiro através do seu trabalho principal.
Conclusão: pagar mais pode ser a melhor escolha.
Minha recomendação é simples: em vez de focar em economizar centavos, pense em como você pode investir em coisas que realmente agregam valor à sua vida. Às vezes, pagar um pouco mais por um produto de qualidade ou por um serviço confiável é a melhor escolha a longo prazo. E, claro, a educação financeira é essencial para evitar essas armadilhas. Entender os diferentes produtos financeiros, conhecer os riscos e as taxas envolvidas, e ter um planejamento bem definido são passos fundamentais para alcançar seus objetivos financeiros.
Portanto, da próxima vez que você se deparar com uma “pechincha”, pare e pense: isso realmente vale a pena? Será que estou sendo sensato ou investindo mal o meu tempo, energia e dinheiro? A chave para construir uma vida financeira saudável não está em correr atrás de todas as promoções, mas sim em fazer escolhas inteligentes e sustentáveis. É assim que se constrói riqueza de verdade.