Investir melhor
Finanças pessoais: controle o controlável, solte o resto
Menos manchete, mais ação prática: revisar custos, criar renda e seguir o plano
Carol Stange
Planejadora financeira e consultora independente de investimentos, Carol Stange atua como multiplicadora do programa “Eu e meu dinheiro” do Banco Central e acumula as certificações CEA (Anbima) e CNPI-T (Apimec), além de ser Consultora CVM, criadora da marca “Como enriquecer seu Filho” e cofundadora do Instituto de Educadores Financeiros.
Era 6h42 quando um cliente me escreveu: “Carol, e se a China desacelerar? E se o câmbio disparar? E se o Copom mudar o tom?”. Se ele seguisse nessa toada, eu sabia: passaria o dia grudado no noticiário – e longe do próprio fluxo de caixa. Respirei com ele, baixamos o volume das manchetes e voltamos ao que estava, de fato, nas mãos dele: orçamento, alavancas de renda e constância de aportes. A ansiedade diminuiu. A clareza voltou. E, como tenho visto ao longo de mais de 15 anos de atendimentos, é aí que as coisas começam a andar.
Quando controlar tudo vira ansiedade
Informação ajuda; ilusão de controle, não. Acompanhar juros, câmbio e geopolítica pode dar sensação de “agora vai”, mas rouba tempo de trabalho focado e instala um medo difuso de errar qualquer passo. É a mente tentando segurar o vento – e deixando de ajustar as velas. Quanto mais energia gastamos tentando antecipar o que ninguém controla, menos energia sobra para o que muda, de fato, a nossa vida financeira.
Fronteiras práticas: o que é controlável (mesmo) e o que não é
Existe uma linha simples – e libertadora. Fora do meu alcance estão a decisão do Copom, o humor do mercado, os fluxos internacionais, as manchetes do dia. Posso acompanhar, não comandar. Do lado de cá estão as minhas alavancas: quanto economizo por mês, quais gastos fixos eu reviso, como organizo a carteira, que habilidades desenvolvo para aumentar renda e qual colchão de segurança mantenho.
Perceba a assimetria: horas ruminando o que não controlo raramente mudam o resultado; horas investidas no que controlo quase sempre mudam.
Informação com moldura, não no pedestal
Eu não ignoro notícias – eu as enquadro. Moldura é tempo, dose e propósito.
Tempo: escolho quando vou me informar (não é o mercado que decide por mim). Dose: quanto é suficiente para entender o contexto sem sequestrar meu dia. Propósito: para quê essa informação serve no meu plano. Se não muda aporte, alocação ou horizonte, é ruído – e ruído não manda em mim.
Funciona assim na prática: abro espaço curto para o noticiário (janela definida, começo e fim), leio com o meu plano ao lado e faço uma pergunta simples: “Isso altera alguma decisão que estava tomada?” Na maior parte das vezes, a resposta é “não”. Quando é “sim”, eu defino qual ajuste e em qual data – e sigo a vida. Nada de ficar “vigiando” o preço no resto do dia.
Também separo contexto de gatilho. Contexto é o pano de fundo (IPCA veio acima do esperado, dólar oscilou, Copom mudou o tom). Gatilho é o que exige ação no meu portfólio (rebalanceamento fora da faixa, meta de reserva atingida, prazo de objetivo que mudou). Contexto eu acompanho; gatilho eu executo. Um sem o outro é ansiedade. Os dois juntos viram estratégia.
E deixo uma regra de bolso que salvou muitos clientes (e a minha própria paz): “Se a notícia não muda seus aportes, não tem direito de mudar seu humor.” Informação entra, cumpre papel e sai de cena. O pedestal é para o seu plano – a moldura é para o noticiário.
A lição que fica
Depois de mais de 15 anos ouvindo histórias e organizando números, cheguei a uma conclusão simples: o mercado não cabe na sua planilha. Serenidade vem quando paramos de brigar com o vento e passamos a ajustar as velas. O mundo segue amplo e imprevisível; a sua economia, não. E é justamente por isso que ela merece o melhor do seu foco.
*As opiniões contidas nessa coluna não refletem necessariamente a opinião da B3
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