Investir melhor
Investir sozinho pode estar te custando caro (dados que ninguém mostra)

Carol Stange
Planejadora financeira e consultora independente de investimentos, Carol Stange atua como multiplicadora do programa “Eu e meu dinheiro” do Banco Central e acumula as certificações CEA (Anbima) e CNPI-T (Apimec), além de ser Consultora CVM, criadora da marca “Como enriquecer seu Filho” e cofundadora do Instituto de Educadores Financeiros.
Semana passada, um cliente me procurou frustrado. Há três anos investindo sozinho, carteira de R$ 400 mil, rentabilidade abaixo da poupança.
“Carol, não entendo. Pesquiso, leio, acompanho o mercado. Por que não consigo ter bons resultados?”
A resposta não estava na falta de conhecimento. Estava nos custos invisíveis que ele não calculava. Depois de mais de 15 anos orientando investidores, posso te garantir: investir sozinho custa muito mais caro do que parece.
O tempo que você não conta
Quanto vale uma hora do seu tempo?
Se você ganha R$ 8 mil por mês, cada hora sua vale aproximadamente R$ 50. Agora pense: quantas horas por semana você gasta pesquisando sobre investimentos?
Esse mesmo cliente me disse que gastava 6 horas semanais “cuidando da carteira”. São R$ 300 por semana, R$ 14.400,00 por ano em tempo que poderia estar focado na atividade principal.
“Mas Carol, eu gosto de estudar o mercado”, ele argumentou.
Perfeito. Mas será que esses estudos estão gerando resultado? Ou você está pagando quase R$ 15 mil por ano para ter um hobby caro?
A armadilha emocional
Aqui está o maior problema de investir sozinho: você está emocionalmente envolvido com cada centavo.
Quando a carteira cai 10%, você sente no estômago. Quando sobe 15%, fica eufórico. Resultado? Decisões baseadas em sentimento, não em estratégia.
Já acompanhei dezenas de casos assim. O padrão se repete: compram quando está subindo (por medo de perder o bonde) e vendem quando está caindo (por medo de perder mais).
Um empresário que atendo perdeu R$ 80 mil em dois anos fazendo exatamente isso. Comprava ações em alta, vendia no primeiro sinal de queda. Quando finalmente me procurou, estava exausto.
“Não durmo direito há meses. Fico checando a carteira toda hora.”
O custo da diversificação inadequada
A maioria dos investidores sozinhos concentra demais a carteira.
Conheci um engenheiro que tinha 70% do patrimônio em ações de uma única empresa – onde ele trabalhava. “Conheço o negócio no detalhe”, dizia.
Quando a empresa passou por dificuldades, não só perdeu emprego como 40% do papel no mesmo mês. Sua exposição às ações da empresa, que era de R$ 300 mil, caiu para R$ 180 mil.
Uma diversificação adequada teria diminuído em muito essa perda – R$ 120 mil que evaporaram por falta de orientação profissional.
As taxas que você não vê
Investidor sozinho geralmente paga mais sem perceber.
Compra fundos caros porque não sabe que existem alternativas. Paga corretagem alta porque não negocia volume. Escolhe produtos inadequados para o perfil. Resgata produtos da renda fixa um dia antes da virada da alíquota da tabela do Imposto de Renda.
Fiz uma análise para um médico: ele pagava 2,1% ao ano em taxas diversas. Com uma reestruturação simples, conseguimos reduzir para 1,2%.
Diferença de 0,9% ao ano. Em uma carteira de R$ 600 mil, são R$ 5.400 por ano economizados. Em 10 anos, isso representa R$ 54 mil a mais na conta, considerando apenas a soma simples. Em 10 anos de investimento, vira mais de R$ 80 mil a mais na conta.
O Imposto de Renda que devora patrimônio
Aqui está o custo mais doloroso: IR mal planejado.
Atendi um advogado que pagava R$ 12 mil a mais de imposto por ano simplesmente porque não sabia usar as regras de compensação de perdas.
Em cinco anos, foram R$ 60 mil jogados fora. Dinheiro que poderia estar rendendo na carteira.
Um planejamento tributário básico pode economizar entre 20% e 40% do IR devido. Para quem tem carteira grande, isso representa milhares por ano.
Quando vale investir sozinho
Não sou contra quem investe sozinho. Mas seja honesto sobre as condições:
- Você tem tempo de sobra para se dedicar seriamente? Não é meia hora no fim de semana.
- Você consegue controlar as emoções? Não vende no pânico nem compra na euforia.
Se você não se encaixa em todos esses pontos, provavelmente está perdendo dinheiro.
A conta real
Vamos a um exemplo prático. Carteira de R$ 500 mil:
Custos típicos de quem investe sozinho:
– Perda por decisões emocionais: ~R$ 10 mil/ano
– Taxas desnecessárias: ~R$ 4 mil/ano
– IR mal planejado: ~R$ 6 mil/ano
– Diversificação inadequada: ~R$ 8 mil/ano
Total: cerca de R$ 28 mil por ano
Honorários de orientação profissional: entre R$ 9 mil e R$ 18 mil por ano.
Economia líquida: R$ 10 mil a R$ 19 mil por ano.
Sem contar a tranquilidade de dormir bem à noite.
A decisão é sua
Investir sozinho pode funcionar. Mas em geral, é mais caro e bem mais estressante.
Se você tem tempo, conhecimento e sangue frio, pode dar certo. Mas se está perdendo dinheiro e sono, talvez seja hora de repensar. O mercado financeiro é complexo. Muda constantemente. Exige conhecimento técnico e, principalmente, controle emocional.
Você não faria uma cirurgia sozinho. Não defenderia a si mesmo em um processo complexo. Por que gerenciar sozinho um patrimônio que levou anos para construir?
A pergunta não é se você consegue investir sozinho. É se consegue fazer melhor que um profissional – e dormir tranquilo no processo.
Na minha experiência, a resposta geralmente é não.
As opiniões contidas nessa coluna não refletem necessariamente a opinião da B3
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