Organizar as contas
Mais dinheiro não vai te dar segurança. Só vai mudar seu tipo de medo
Você pode conquistar sua fortuna, acumular patrimônio, bater seu primeiro milhão… e ainda assim sentir que está por um fio. Porque o medo não some com o dinheiro - ele muda de roupa

Carol Stange
Planejadora financeira e consultora independente de investimentos, Carol Stange atua como multiplicadora do programa “Eu e meu dinheiro” do Banco Central e acumula as certificações CEA (Anbima) e CNPI-T (Apimec), além de ser Consultora CVM, criadora da marca “Como enriquecer seu Filho” e cofundadora do Instituto de Educadores Financeiros.
Eram 3h18 da manhã quando ele me mandou a mensagem. Vi só no dia seguinte, claro – porque eu, diferente dele, estava dormindo tranquila.
“Tô com R$ 4,8 milhões aplicados. Mas por algum motivo, não consigo dormir.”
Sabe aquela ideia de que mais dinheiro traz mais paz?
Pois é. Tem gente que chega no topo… e descobre que o medo subiu junto.
Você está economizando para os dias difíceis? É por isso que eles continuam chegando
Quando o saldo cresce, o medo se disfarça
A angústia dele não vinha da escassez — vinha da abundância. Porque o medo, quando não é resolvido, se infiltra no sucesso. E te faz questionar tudo.
“E se eu perder tudo o que já conquistei?”
“E se as pessoas só se aproximarem de mim por interesse?”
“E se eu mudar e ficar esnobe?”
Já vi isso mais vezes do que posso contar.
Clientes que, mesmo com a vida resolvida, dormem com a cabeça no travesseiro e o coração em alerta.
Gente que saiu da escassez, construiu patrimônio, montou uma carteira respeitável – e mesmo assim vive com a sensação de que o chão pode sumir a qualquer momento.
Do lado de fora, tudo parece certo.
Do lado de dentro… é como se estivessem devendo algo que nem sabem nomear.
O medo não some. Ele troca de máscara
Quando temos pouco, ele se veste de urgência:
“E se eu não conseguir pagar as contas?”
“E se vier uma emergência?”
Mas quando temos muito, ele ganha outras vozes:
“E se todo mundo se aproximar de mim por interesse?”
“E se os investimentos desvalorizarem?”
“E se eu perder tudo que levei anos para conquistar?”
O nome disso é condicionamento emocional. E ele não se resolve com renda.
Se resolve com autoconhecimento.
O medo como bola de ferro nos pés
Já atendi uma cliente que deixou de fazer uma viagem dos sonhos por três anos – mesmo com dinheiro de sobra.
Ela me dizia: “Eu quero viajar, mas prefiro ver o saldo intacto. Ele me acalma.”
Minha cliente não se permitia usufruir do resultado do seu trabalho e disciplina. Não se permitia viver – mesmo podendo, com folga. Sou planejadora financeira independente, educadora e consultora há mais de 15 anos. E uma das coisas mais difíceis de enxergar – e mais importantes de entender – é que o medo precisa ser tratado na origem.
Se não for, ele continua te acompanhando. Te impede de viver. E te faz operar no modo sobrevivência, mesmo depois de vencer.
Se você não olhar pra isso, vai continuar tentando se proteger com o que deveria te libertar.
Tranquilidade não vem da quantia. Vem da relação que você constrói com ela. Porque no fim das contas, não é sobre quanto você tem. É sobre o que o dinheiro está tentando proteger.
E se, em algum momento, esse texto te deu um clique… me chama. Porque, se for o medo que estiver no comando… não existe número que te salve.
As opiniões contidas nessa coluna não refletem necessariamente a opinião da B3
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