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Carol Stange: O efeito psicológico da inflação – por que vivemos mais ansiosos do que ricos

A inflação não é só um número na economia. É um ruído constante que faz a gente duvidar do futuro, das escolhas e até do próprio esforço


Carol Stange, colunista Bora Investir. Fonte: Arquivo pessoal.

Carol Stange

Planejadora financeira e consultora independente de investimentos, Carol Stange atua como multiplicadora do programa “Eu e meu dinheiro” do Banco Central e acumula as certificações CEA (Anbima) e CNPI-T (Apimec), além de ser Consultora CVM, criadora da marca “Como enriquecer seu Filho” e cofundadora do Instituto de Educadores Financeiros.


Outro dia, numa reunião com um cliente, ele soltou uma frase que ficou ecoando na minha cabeça: “Carol, o engraçado é que hoje eu ganho mais do que há dois anos… mas me sinto mais pobre.”

Ele não estava exagerando. E talvez você também sinta o mesmo. A geladeira cheia custa mais. A reserva rende, mas não acompanha o custo de vida. A cada compra, o número no extrato parece encolher – e com ele, a sensação de segurança.

A inflação faz isso: ela não leva só dinheiro, leva tranquilidade.

Quando o preço sobe, o humor cai

A inflação é uma ladra silenciosa e insaciável. Ela não chega de madrugada para roubar “só” o que você tem – ela também corrói o que você sente.

Mesmo uma inflação “controlada” tem o poder de mexer com nosso psicológico. É o medo do que pode vir: será que vai piorar? Vou conseguir manter meu padrão de vida? Devo investir agora ou esperar?

Essa incerteza constante faz o cérebro operar em modo de defesa. A consequência é clara: menos planejamento, mais impulsividade.

Vejo pessoas adiarem decisões importantes – de investir a mudar de emprego – só porque “o cenário está incerto”. O problema é que a incerteza virou o novo normal, e quem espera o “momento certo” acaba ficando para trás.

O paradoxo da inflação e a reconstrução da confiança

Curiosamente, quanto mais o custo de vida sobe, mais pessoas sentem que “precisam aproveitar a vida agora” – e isso empurra ainda mais o consumo.

É o mesmo mecanismo emocional que faz alguém comprar um celular novo quando está preocupado com o próprio poder de compra. A cabeça tenta compensar o que o bolso perdeu.

O resultado? Ansiedade disfarçada de impulso de consumo.

Mas há um caminho para frear esse ciclo e recuperar o equilíbrio mental. Tudo começa quando você devolve sentido ao dinheiro.

Criar um plano de gastos com uma folga para variações de preço ajuda a reduzir o medo do imprevisto. Definir metas curtas, revisadas a cada seis meses, devolve a sensação de controle.

E quando o investimento deixa de ser um número e passa a representar um propósito – a escola do filho, o futuro sem correria, o tempo livre de verdade – a mente começa a se acalmar.

Porque a verdade é simples: quem tem plano sente menos medo.

No fim, o que a inflação mais rouba é a paz

Ela testa não apenas o seu patrimônio, mas a sua paciência. E se há algo que aprendi ao longo dos anos como planejadora é que o dinheiro suporta crises – quem não suporta é a mente despreparada.

Por isso, não subestime o desgaste psicológico de viver em tempos inflacionários.

Ele é real, silencioso e cumulativo.

Mas com estrutura, estratégia e um olhar independente, dá pra voltar a respirar – e lembrar que segurança financeira é tão mental quanto monetária.

*As opiniões contidas nessa coluna não refletem necessariamente a opinião da B3

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