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O palpite é deles, mas o dinheiro é seu: por que previsões de mercado são apenas adivinhações


Carol Stange, colunista Bora Investir. Fonte: Arquivo pessoal.

Carol Stange

Educadora e planejadora financeira, especialista e analista em investimentos, Carol Stange atua como multiplicadora do programa “Eu e meu dinheiro” do Banco Central e acumula as certificações CEA (Anbima) e CNPI-T (Apimec), além de ser Consultora CVM, criadora da marca “Como enriquecer seu Filho” e cofundadora do Instituto de Educadores Financeiros.


Já reparou como todo dia tem alguém prevendo o futuro da economia? “A bolsa vai cair!”, “O dólar vai disparar!”, “Prepare-se para uma nova crise!” É só ligar a TV ou abrir o celular que aparece um novo especialista, cheio de convicção, fazendo previsões alarmantes. Mas eu vou ser direta com você: a maioria desses palpites não passa de… palpites. Sabe aquele ditado, “até um relógio quebrado está certo duas vezes por dia”? Pois é. Se alguém insiste o suficiente que algo ruim vai acontecer, eventualmente vai acertar. Mas isso não quer dizer que eles realmente sabiam o que estavam falando.

E o problema é que, muitas vezes, deixamos esses cenários assustadores ditarem o que fazemos com o nosso dinheiro. Afinal, quem não se sente tentado a reagir quando alguém diz que uma queda na bolsa está por vir? O medo é um dos sentimentos mais poderosos no mundo dos investimentos. Mas se existe uma lição importante que aprendi ao longo da minha carreira como consultora financeira, é esta: não baseie suas decisões em previsões de curto prazo. Elas são como tentar adivinhar o tempo olhando pela janela. Pode acertar? Pode. Mas não é um plano.

O jogo das previsões e por que ele não é para você

Se você já viu um debate financeiro na TV ou leu uma manchete alarmante, sabe do que estou falando. O tom é sempre o mesmo: urgente, categórico, cheio de certezas. Só que o mercado é um pouco mais complicado do que isso. Sim, existem dados, gráficos, estatísticas, mas até mesmo os especialistas mais experientes vão admitir (se você apertar um pouco) que prever com precisão para onde o mercado vai em curto prazo é, na melhor das hipóteses, um jogo de sorte.

Já vi muitas pessoas se deixarem levar por essas previsões catastróficas e, por medo, venderem ações a preços baixos, apenas para verem o mercado se recuperar pouco tempo depois. Outras ficam esperando “o momento perfeito para entrar” e acabam perdendo as melhores oportunidades. Se você está esperando acertar o timing perfeito baseado nos palpites dos outros, sinto informar: você está jogando um jogo que não tem como ganhar.

O relógio quebrado e a ilusão da certeza

Pense assim: até um relógio quebrado está certo duas vezes por dia. Isso significa que, se você fizer previsões suficientes, eventualmente vai acertar. Se alguém disser que a bolsa vai cair, e ela de fato cair em algum momento nos próximos meses, isso é um golpe de sorte, não de conhecimento. O problema é que esses acertos pontuais fazem com que a gente acredite que a pessoa sabe exatamente o que vai acontecer — e isso gera uma confiança perigosa.

A verdade? Podemos até mapear algumas tendências de para onde o mercado está apontando, mas há fatores que ninguém consegue controlar, como economia global, política e até a troca de mensagens entre líderes nas redes sociais podem impactar no comportamento dos papéis nas bolsas de valores de todo o mundo. E enquanto muitos fazem previsões para chamar atenção e ganhar manchetes, quem leva a sério o planejamento financeiro sabe que a melhor estratégia é focar no longo prazo e nos fundamentos sólidos, e não nas ondas de curto prazo.

Como proteger seu dinheiro em meio ao caos das previsões

Então, o que você pode fazer para evitar cair na armadilha dos palpites? Eu diria para começar com três coisas simples:

  1. Planeje a longo prazo: Invista com uma perspectiva de anos, não de meses. Quem fica entrando e saindo do mercado baseado em previsões acaba perdendo mais do que ganhando.
  2. Diversifique: Ter diferentes tipos de investimentos na sua carteira ajuda a mitigar riscos. Assim, mesmo que algo inesperado aconteça, você tem outras bases para se apoiar.
  3. Fique informado, mas com cautela: Ler notícias é importante, mas não deixe que manchetes sensacionalistas tirem você do rumo. Concentre-se nos dados reais e mantenha o foco no seu plano.

Cuidado com quem faz promessas de previsão

Eu já perdi a conta de quantas vezes vi pessoas tomarem decisões ruins por acreditarem em quem parecia ter uma bola de cristal. Mas eu também sei que, com um bom planejamento, é possível navegar por esses mares imprevisíveis sem entrar em pânico. Se precisar de ajuda para construir um plano sólido e manter o foco nos seus objetivos, um consultor financeiro independente pode ser a escolha certa. A vida financeira é feita de decisões conscientes e planejadas, não de palpites e adivinhações.

O dinheiro é seu. E, no final das contas, você é quem decide o que fazer com ele. Não deixe que previsões momentâneas desviem você do seu caminho. O mercado vai continuar mudando, sempre. Mas se você mantiver uma estratégia firme, focada no longo prazo, vai perceber que o melhor investimento é aquele que cresce junto com a sua tranquilidade.