Investir melhor
O preço que você paga por se fixar no preço
Carol Stange
Planejadora financeira e consultora independente de investimentos, Carol Stange atua como multiplicadora do programa “Eu e meu dinheiro” do Banco Central e acumula as certificações CEA (Anbima) e CNPI-T (Apimec), além de ser Consultora CVM, criadora da marca “Como enriquecer seu Filho” e cofundadora do Instituto de Educadores Financeiros.
É natural se apegar a números, especialmente quando eles representam nossas decisões financeiras. Compramos uma ação por R$ 50 e, se o preço cai para R$ 40, sentimos como se estivéssemos “perdendo” R$ 10. É um pensamento automático, mas perigoso. Ficar preso ao preço que pagamos por um ativo pode nos levar a escolhas equivocadas – e custar caro no longo prazo.
Esse comportamento é mais comum do que se imagina. Muitas vezes, nos fixamos no preço porque ele se torna um marco emocional. Achamos que “recuperar” o valor pago significa um final feliz. Mas a verdade é que o mercado não segue nossas expectativas. Ele é movido por fundamentos, dinâmicas globais e, às vezes, por puro acaso. E o preço pelo qual compramos algo não significa nada para o mercado.
Por que nos fixamos em preços?
Esse apego ao preço tem nome: viés de ancoragem. É uma falha comportamental que nos faz atribuir importância desproporcional a um valor inicial. É como se ele fosse uma referência fixa, quando na verdade deveria ser apenas um número temporário.
Lembro de uma conversa com um cliente que comprou ações de uma empresa por R$ 80. Quando o preço caiu para R$ 60, ele me disse: “Vou esperar voltar a R$ 80 antes de vender.” A decisão parecia lógica para ele, mas o mercado não estava nem aí para o que ele queria. Os fundamentos da empresa estavam mudando, e ela dificilmente voltaria a alcançar aquele valor. Segurar o ativo só aumentou as perdas.
Esse tipo de comportamento é reflexo do nosso desconforto em lidar com perdas. Preferimos esperar por uma reversão, mesmo que os sinais indiquem o contrário, porque aceitar a perda significa admitir um erro.
Os riscos de se apegar ao preço
Manter uma decisão com base no preço inicial pode gerar consequências indesejadas:
- Oportunidades Perdidas: Enquanto você espera que o preço volte, pode estar perdendo chances de investir em ativos com melhores perspectivas.
- Decisões Baseadas em Emoções: Agir pelo desejo de “recuperar o que foi perdido” tende a ser mais emocional do que racional.
- Desconexão com a Realidade: O valor que você pagou por um ativo não tem relevância para o que o mercado valoriza hoje. Focar no preço inicial pode fazer você ignorar sinais importantes.
Como romper com esse padrão
Liberte-se da âncora do preço e foque no que realmente importa: os fundamentos do investimento e seus objetivos de longo prazo. Aqui estão algumas estratégias que podem ajudar:
- Reavalie com Frequência: Pergunte-se: “Se eu não tivesse comprado este ativo antes, eu compraria hoje?” Essa perspectiva elimina o peso do passado e ajuda a focar no presente.
- Priorize os Fundamentos: O valor de um ativo depende de fatores como o desempenho da empresa e o cenário econômico. Esses são os verdadeiros guias para decisões de investimento.
- Aceite Perdas Quando Necessário: Perder faz parte do jogo. Muitas vezes, vender um ativo que não faz mais sentido é a melhor decisão para proteger seu patrimônio.
- Busque Educação e Orientação: Entender os riscos e os conceitos por trás dos investimentos é essencial. Se você sente que falta confiança ou tempo para isso, posso ajudar. Construir conhecimento – ou contar com alguém experiente para guiar suas decisões – reduz a pressão emocional e aumenta suas chances de sucesso.
Deixe o passado para trás
Investir é como navegar: é preciso ajustar as velas ao vento, e não insistir em seguir na mesma direção só porque já começou por ali. O preço de um ativo é apenas um momento no tempo, e não uma garantia de retorno.
Lembre-se: o mercado não tem memória, mas você pode ter aprendizado. O foco deve estar no que está à frente – e não no que ficou para trás.
Se você sente dificuldade em desapegar de certas decisões financeiras ou quer construir uma estratégia mais robusta, um consultor e planejador financeiro independente pode ser a peça que falta. Afinal, investir bem não é sobre insistir no que passou, mas sobre construir um futuro sólido.
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