Investir melhor
Ouro de tolo: o perigo de ver só o que queremos
Carol Stange
Planejadora financeira e consultora independente de investimentos, Carol Stange atua como multiplicadora do programa “Eu e meu dinheiro” do Banco Central e acumula as certificações CEA (Anbima) e CNPI-T (Apimec), além de ser Consultora CVM, criadora da marca “Como enriquecer seu Filho” e cofundadora do Instituto de Educadores Financeiros.
Você já ouviu a história do primo do irmão do amigo do amigo? Ele comprou ouro em 2010 e fez uma pequena fortuna. Empolgado com o sucesso, decidiu investir tudo o que tinha no mesmo ativo, convencido de que o preço só iria subir. Ele estava tão certo disso que ignorou qualquer sinal contrário. Para ele, era um caminho sem erros. E foi aí que as coisas começaram a dar errado.
Essa história não é sobre o ouro, mas sobre algo muito mais perigoso: o viés de confirmação. É aquela tendência que todos temos de prestar atenção apenas no que reforça nossas crenças, ignorando qualquer informação que as contradiga.
No caso do ouro, ele leu artigos e relatórios escritos por pessoas interessadas em vender mais ouro, todos com previsões otimistas e agressivas. Mas ele nunca parou para pensar nas razões pelas quais o preço poderia cair — até que fosse tarde demais.
Por que somos tão propensos a esse erro?
A verdade é que nosso cérebro adora simplificar as coisas. Quando temos uma crença — como “o ouro é o melhor investimento” ou “essa ação vai explodir” —, procuramos provas que sustentem essa ideia. E evitamos olhar para o lado oposto, porque admitir que podemos estar errados é desconfortável.
Essa armadilha mental é comum no mundo dos investimentos. Lemos manchetes, ouvimos “especialistas” e escolhemos acreditar no que nos deixa mais confortáveis. Mas investir não é sobre conforto; é (ou deveria ser) sobre racionalidade.
O que está em jogo quando ignoramos o outro lado
Durante minha trajetória como consultora financeira, já vi histórias como essa se repetirem inúmeras vezes. Um cliente investiu todo o dinheiro da sua aposentadoria em um setor que parecia promissor, porque as notícias eram animadoras. Ele ignorou os sinais de risco e, quando o mercado virou, perdeu boa parte do que levou anos para construir.
O que podemos aprender aqui? Que o mercado financeiro não é um lugar para certezas. Ele é um jogo de probabilidades, onde olhar apenas para o que queremos enxergar pode custar muito caro.
Como fugir da armadilha do viés de confirmação
- Questione suas crenças: Antes de investir, pergunte-se: O que pode dar errado? Se você não souber responder, talvez não esteja vendo o cenário completo.
- Consulte fontes diversas: Leia relatórios de perspectivas diferentes, mesmo que discordem do que você acredita. O desconforto inicial pode evitar decisões ruins.
- Diversifique seus investimentos: Nunca coloque todo o seu dinheiro em um único ativo ou setor, por mais promissor que pareça. Diversificação é sua melhor defesa contra o imprevisto.
- Busque orientação profissional: Um consultor financeiro independente pode ajudar a identificar seus vieses e oferecer uma visão mais equilibrada para suas decisões.
Conclusão: Ver só o que queremos não é ver tudo
No mundo dos investimentos, o maior risco não está apenas nos ativos, mas na forma como olhamos para eles. Se você só vê o lado que confirma o que já acredita, está ignorando metade da história — e pode estar caminhando para um erro doloroso.
Então, da próxima vez que estiver prestes a investir, pergunte-se: Estou vendo o todo ou apenas o que quero ver? E se precisar de ajuda para enxergar o que está fora do radar, eu estou aqui. Porque o sucesso nos investimentos começa com a clareza — e não com as certezas.
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