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Por que segurar um investimento pode ser a pior decisão financeira da sua vida


Carol Stange, colunista Bora Investir. Fonte: Arquivo pessoal.

Carol Stange

Planejadora financeira e consultora independente de investimentos, Carol Stange atua como multiplicadora do programa “Eu e meu dinheiro” do Banco Central e acumula as certificações CEA (Anbima) e CNPI-T (Apimec), além de ser Consultora CVM, criadora da marca “Como enriquecer seu Filho” e cofundadora do Instituto de Educadores Financeiros.


Imagine rejeitar uma oferta que parecia baixa apenas para perceber, meses depois, que ela era a melhor oportunidade que você teria. Ou pior, manter um investimento na esperança de “recuperar o que perdeu”, enquanto o mercado segue em outra direção. Essa armadilha, comum entre investidores, pode custar muito caro – em dinheiro, tempo e paz de espírito. Mas por que fazemos isso? E como evitar que o passado decida o futuro da sua carteira?

O preço que você paga não é o preço que o mercado pede

Digamos que você comprou uma casa por R$ 800.000 alguns anos atrás. Agora, precisa vendê-la, mas insiste em pedir o mesmo valor, mesmo sabendo que o mercado imobiliário está em um momento de baixa. Seis meses depois, você rejeita uma oferta de R$ 750.000, acreditando que o mercado vai “se recuperar”. Outros seis meses se passam, e agora você ficaria muito satisfeito se tivesse uma proposta de R$ 700.000 – que nunca chega.

A verdade por trás dos conselhos financeiros: você está tomando decisões ou apenas seguindo vendedores?

Esse cenário é mais comum do que parece. Quando nos fixamos em um número, ignoramos que o mercado é dinâmico e que decisões financeiras precisam levar em conta as perspectivas futuras. No caso de um imóvel, isso significa avaliar a tendência do mercado imobiliário: está em recuperação? Há projeções de melhora na região? Ou, pelo contrário, ocorreram mudanças irreversíveis que impactaram negativamente os imóveis ao redor? Esses fatores devem pesar mais do que o valor sentimental ou a quantia que você pagou no passado.

O mesmo erro no mercado de ações

Agora pense em ações. Você compra um papel por R$ 50, mas, um ano depois, ele vale R$ 40. Você sabe que ele não se encaixa mais na sua carteira, mas decide segurá-lo porque “não quer perder dinheiro”. Aqui está a realidade: o mercado não se importa com o preço que você pagou. Se os fundamentos do ativo não justificam mantê-lo, insistir em esperar que o preço “volte” pode ser uma estratégia custosa.

Por que nos apegamos a esses números?

Esse comportamento, conhecido como viés de ancoragem, nos faz acreditar que o preço inicial deve ser a referência. Ele é alimentado por:

  1. Medo de Perdas: Admitir que perdeu é desconfortável e parece um fracasso.
  2. Apego Emocional: Muitas vezes, o valor pago representa mais do que dinheiro – ele carrega nossas expectativas e decisões passadas.
  3. Falta de Análise de Perspectivas: É fácil focar no que foi gasto e esquecer de avaliar o que o futuro do ativo ou mercado pode oferecer.

Perspectiva é essencial para decisões inteligentes nos investimentos

Um dos maiores erros é ignorar as perspectivas futuras do ativo ou mercado. No caso de um imóvel, avalie se a região está em crescimento, se há infraestrutura planejada ou se o cenário macroeconômico favorece a recuperação do setor imobiliário. No caso de uma ação, analise os fundamentos da empresa, a saúde financeira, a concorrência e o cenário econômico mais amplo.

Essas informações são cruciais para tomar decisões embasadas. Rejeitar uma boa oferta ou segurar um investimento inadequado apenas para “recuperar” o que foi gasto é ignorar o potencial de outras oportunidades e o impacto das mudanças no mercado.

Como evitar a armadilha de segurar um investimento

Superar o viés de ancoragem exige prática, disciplina e, principalmente, foco no futuro. Aqui estão algumas estratégias:

  1. Avalie o Presente: Pergunte-se: “Se eu não tivesse esse ativo hoje, eu compraria agora?”
  2. Foque em Perspectivas: Analise o cenário atual e as projeções futuras para o ativo ou mercado. Não baseie decisões apenas no preço pago.
  3. Aceite Perdas Quando Necessário: Cortar um ativo que não faz mais sentido pode proteger sua carteira no longo prazo.
  4. Planeje-se: Defina metas claras para seus investimentos, considerando o que quer alcançar no futuro, e siga o plano.
  5. Busque Orientação: Se você sente dificuldade em tomar decisões racionais, um consultor financeiro pode ajudar a trazer clareza e objetividade para sua estratégia.

Conclusão: o passado não deve controlar o futuro

Investir é um exercício de aprendizado e resiliência. Nem todas as decisões serão perfeitas, e perdas fazem parte do processo. O mais importante é focar no presente e nas perspectivas futuras, ajustando sua estratégia de acordo com a realidade do mercado.

Fixar-se no preço que você pagou é como carregar uma âncora que te impede de avançar. Liberte-se desse peso. Olhe para frente e tome decisões alinhadas aos seus objetivos.

Se você precisa de ajuda para avaliar perspectivas ou construir um plano financeiro sólido, conte com o apoio de um consultor e planejador financeiro independente. Afinal, investir bem não é sobre recuperar o passado – é sobre construir um futuro sustentável e próspero.

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