Objetivos financeiros

Quando Eu Crescer, Vou Ser Rico. E Nunca Serei Como Vocês

Muitos adultos lidam com dinheiro tentando fugir de um modelo que viram - ou sofreram - na infância. E isso pode ser mais destrutivo do que libertador


Carol Stange, colunista Bora Investir. Fonte: Arquivo pessoal.

Carol Stange

Planejadora financeira e consultora independente de investimentos, Carol Stange atua como multiplicadora do programa “Eu e meu dinheiro” do Banco Central e acumula as certificações CEA (Anbima) e CNPI-T (Apimec), além de ser Consultora CVM, criadora da marca “Como enriquecer seu Filho” e cofundadora do Instituto de Educadores Financeiros.


“Eu odeio eles. Nunca vou ser como eles. Quando eu crescer, vou ser rico, ter tudo o que eu quiser.” Ouvi essa frase numa aula de educação financeira que dei numa escola. Era o desabafo de um menino de 12 anos que presenciava brigas dos pais por causa de dinheiro, ou mais especificamente, da falta dele.

Aquilo me atravessou. Porque, apesar do tom impulsivo, havia ali algo muito sério: uma promessa silenciosa, feita ainda na infância – e que, se não for revisitada, costuma seguir comandando a vida adulta.

O legado invisível da infância financeira

Muitos dos adultos que atendo hoje carregam marcas do que viram (e sentiram) em casa.

Alguns cresceram com medo de faltar e, hoje, evitam qualquer gasto.
Outros viram os pais brigando por cada centavo e hoje gastam compulsivamente, como forma de compensar.
Há também quem tenha prometido que “faria tudo diferente” -
e de fato faz. Mas muitas vezes, esse diferente vem revestido de raiva, urgência, culpa ou carência.

A história de Roberto (nome fictício)

A raiva que muitas crianças sentem por crescerem em ambientes marcados por escassez, tensão ou humilhação financeira não desaparece. Ela amadurece e se disfarça.

Anos depois daquela aula, conheci Roberto – um cliente que, de certa forma, me lembrou aquele menino da escola. Não eram a mesma pessoa, mas havia algo comum nos dois: a urgência de escapar de um modelo financeiro que, em algum momento, doeu.

Roberto tinha uma renda excelente, um cargo importante e uma vida aparentemente confortável. Mas bastava falarmos sobre poupança ou futuro que ele se enchia de impaciência. Tinha horror à ideia de “se privar”, dizia que “passou vontade demais na infância pra ter que deixar de comprar as coisas agora.”

A raiva dele não era contra o dinheiro.
Era contra o sentimento de impotência que o acompanhava desde pequeno – de não poder ter o que queria, de ver os pais discutindo por qualquer gasto,
de sentir que, por falta de recursos, ele também valia menos.

Então ele fez o que muitas crianças fazem em silêncio: prometeu que seria diferente.
E cumpriu – mas com uma urgência que custava caro.
Gastava para provar. Trabalhava para compensar. Ostentava para esquecer.

O ponto de virada veio quando ele percebeu que aquela promessa feita aos 10 anos continuava decidindo suas ações aos 40.
E que, se quisesse construir uma vida realmente livre, precisaria fazer as pazes com o menino que um dia jurou “nunca mais.”

O que você viveu, você interpreta. E isso vira regra.

Não são apenas os números que moldam seu comportamento financeiro. São as emoções ao redor deles.

Se o dinheiro sempre foi motivo de briga, ele vira um vilão.
Se foi usado como controle, ele se transforma em disputa.
Se foi escasso, ele passa a ser obsessão.

E tudo isso pode estar acontecendo agora – sem que você perceba.

O dinheiro como herança emocional

O que os seus filhos veem quando você fala – ou não fala – sobre dinheiro?
Será que enxergam ansiedade, privação, culpa?
Ou segurança, clareza e liberdade?

É comum pais dizerem que “fazem tudo pelos filhos”.
Mas a verdade é que o maior presente financeiro que você pode dar a eles é um exemplo saudável de como lidar com o dinheiro.
Sem medo. Sem culpa. Sem feridas disfarçadas de esforço.

O futuro que você cria começa com o modelo que você rompe

Sou planejadora financeira independente, educadora e consultora há mais de 15 anos.
Já acompanhei muitas histórias de famílias que repetiam ciclos sem perceber – e de pessoas que conseguiram quebrá-los a tempo.

Nem sempre é fácil enxergar o que você herdou sem querer.
Mas é possível construir algo novo com intenção.
E talvez esse seja o maior ato de liberdade da sua vida -
e o melhor legado que você pode deixar.

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