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Carol Stange: Salário alto, carteira inflada… e zero liberdade

O que realmente liberta é a renda passiva: o dinheiro que continua entrando mesmo quando você decide desacelerar


Carol Stange, colunista Bora Investir. Fonte: Arquivo pessoal.

Carol Stange

Planejadora financeira e consultora independente de investimentos, Carol Stange atua como multiplicadora do programa “Eu e meu dinheiro” do Banco Central e acumula as certificações CEA (Anbima) e CNPI-T (Apimec), além de ser Consultora CVM, criadora da marca “Como enriquecer seu Filho” e cofundadora do Instituto de Educadores Financeiros.


Ganhar bem é um sonho para muitos – mas, ironicamente, pode se tornar a maior armadilha financeira que alguém enfrenta. Já acompanhei dezenas de pessoas com rendas invejáveis, carreiras sólidas, carros importados e viagens frequentes. No papel, pareciam exemplos de sucesso. Mas, na prática, era uma prisão. Essas pessoas trabalhavam cada vez mais para sustentar um padrão que crescia na mesma velocidade que o salário. E, o mais curioso: quanto mais ganhavam, mais longe pareciam da liberdade.

O equívoco de confundir renda com riqueza

É comum associarmos um bom salário à ideia de “estar rico”. Mas essa é uma confusão clássica. Renda é o que entra. Riqueza é o que fica – e, principalmente, o que trabalha por você quando você decide parar. Ter uma renda alta é ótimo, claro. O problema é quando todo o aumento de ganhos é acompanhado por novos compromissos, mais contas, mais custos fixos e menos tempo livre. O resultado é uma sensação de progresso financeiro que, no fundo, é apenas ilusão de conforto.

Vejo isso todos os dias na consultoria: profissionais brilhantes que acumulam cifras, mas não acumulam patrimônio. Que conhecem o prazer de gastar, mas não o de escolher – e essa é, para mim, a diferença central entre quem é livre e quem ainda é refém do próprio padrão de vida.

O padrão que consome o salário

À medida que a renda cresce, cresce também o apetite por conforto. A casa fica maior, o carro melhora, as férias se tornam mais sofisticadas. Nada de errado com isso – até que o estilo de vida se transforma em prisão disfarçada.

Sem perceber, a pessoa passa a trabalhar apenas para manter o que conquistou. Se quiser reduzir o ritmo, não pode. Se quiser mudar de carreira, não consegue. É o que chamo de “dependência de status”: quanto mais alto o salário, mais cara a liberdade.

Quando o dinheiro trabalha – e quando ele escraviza

A virada de chave acontece quando o foco deixa de ser o salário e passa a ser o fluxo. O que realmente liberta é a renda passiva: o dinheiro que continua entrando mesmo quando você decide desacelerar. Dividendos, fundos imobiliários, aluguéis, juros sobre capital próprio – pouco importa o formato, desde que o patrimônio produza o suficiente para sustentar a vida que você quer, e não apenas a que o mercado espera de você.

Foi o que aconteceu com o Pedro, um cliente de alta renda na área de tecnologia. Ele ganhava R$ 45 mil por mês e investia parte do que sobrava, mas o padrão crescia em ritmo igual. O apartamento novo trouxe mais custos, o carro trouxe manutenção, as viagens tornaram-se mais longas.

Quando calculamos juntos o quanto seria necessário para viver com tranquilidade, chegamos a um número claro: R$ 30 mil mensais de renda passiva. A partir daí, tudo mudou.

Reduzimos gastos invisíveis, reestruturamos os investimentos e definimos um plano de acumulação com metas de liberdade. O objetivo deixou de ser “ganhar mais” e passou a ser “precisar menos”. E foi exatamente aí que ele começou a sentir o gosto da independência.

Liberdade não se mede no holerite

A verdadeira riqueza não está no tamanho do salário, mas no espaço que você tem para escolher o que fazer com o seu tempo. Trabalhar por prazer e não por obrigação. Ter o poder de dizer “não” sem medo. Poder mudar de cidade, empreender ou simplesmente tirar um mês sabático sem que a conta vire uma ameaça.

E é isso que o planejamento financeiro proporciona: clareza sobre onde você está, para onde quer ir e quanto precisa para que o dinheiro deixe de ser o centro das decisões.

Ganhar bem é maravilhoso. Mas não confunda isso com estar livre.

Enquanto o seu padrão de vida crescer no mesmo ritmo que o seu salário, você continuará preso – apenas numa cela mais confortável.

E se quiser ajuda para estruturar essa virada de chave, é exatamente isso que eu faço: ajudar você a transformar o que ganha em patrimônio que gera escolhas – não obrigações.

Transformar renda em liberdade exige estratégia, disciplina e propósito. E, claro, um pouquinho de coragem para abrir mão do conforto do “sempre foi assim”. Mas posso garantir: poucas decisões dão tanto retorno quanto assumir, de verdade, o controle do próprio futuro financeiro.

*As opiniões dessa coluna não refletem necessariamente a opinião da B3

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