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Como cuidar do dinheiro: histórias reais e perfis que você precisa conhecer


Cintia Frankfurt

@falando_em_investir

Fundadora do Falando em Investir, analista CNPI e consultora CVM. Possui ampla expertise em planejamento financeiro e investimentos. Por meio de sua consultoria, orienta as pessoas a investir com segurança, ajudando-as a alcançar seus sonhos e objetivos de vida.


Falar sobre investimentos ainda é um tabu. Essa é uma realidade que confirmei em uma pesquisa que fiz com meus clientes da consultoria de investimentos.  Ao perguntar quem são as pessoas que eles mais escutam sobre dinheiro, uma queixa comum surge: a falta de alguém para conversar sobre este assunto. Seja por tabus ou falta de conhecimento, ficamos sem referência sobre como as pessoas em geral cuidam do seu dinheiro.

Com o crescimento das redes sociais, muitos influenciadores expõem, até de forma excessiva, como investem. No entanto, por transformarem essa exposição em uma maneira de ganhar dinheiro, eu, que sou bastante cética, me questiono sobre a validade dessas informações e, mais importante, sobre o quão benéfico isso é para quem assiste ou acompanha.

Você começa a seguir alguém porque acha a pessoa interessante. Ela pode ter conquistas incríveis, um estilo de vida saudável, viagens bacanas, entende de investimentos e fala bastante sobre o assunto. No início, você admira tudo aquilo e pode até se sentir inspirado. No entanto, com o tempo, você começa a se sentir mal por não corresponder a esse ideal de perfeição, inclusive na parte financeira. As regras e “dogmas” apresentados podem não se ajustar à sua própria rotina. Você logo começa a se achar o patinho feio, quando na verdade deveria lembrar que as pessoas são diferentes, inclusive nos investimentos. Por isso existem estratégias específicas que funcionam para um e não para outro. 

Já as conversas sobre investimentos com pessoas conhecidas e no seu dia a dia costumam ser mais autênticas e realistas, pois refletem situações e desafios semelhantes aos seus, sem o foco em curtidas e seguidores. Infelizmente essas conversas são pouco presentes. E sim, nós temos muita curiosidade sobre como os outros lidam com o dinheiro, até mesmo para encontrar onde nos encaixamos e saber que não estamos sozinhos nesse mundo. Mas dificilmente você vai encontrar esta troca mais genuína nas redes sociais.

Diante dessa falta de referências, resolvi compartilhar algumas histórias comuns sobre como as pessoas lidam com dinheiro. Vou mostrar como elas vivem, ganham, gastam e investem antes de buscar orientação profissional, como a que ofereço em minha consultoria. Quem sabe você se reconheça em algum desses perfis e encontre insights valiosos para a sua própria situação financeira.

Perfis de gastos:

O Efêmero: Este é o tipo de pessoa que gasta como se não houvesse amanhã. Mesmo com uma renda alta, o padrão de vida elevado impede que ela junte dinheiro. Por ter uma renda alta, acaba vivendo em um mundo de ilusões, onde não considera riscos com imprevistos ao longo da vida. Terá um sério problema na aposentadoria, quando precisará diminuir drasticamente seu padrão de vida. Em geral, é um perfil que sabe fazer dinheiro, mas não consegue construir patrimônio.

O Cidadão Comum: Esse perfil é alguém que se dedica a poupar uma parte da renda para investir no futuro. A renda pode variar bastante, desde valores modestos até altos salários, mas a chave está em viver dentro das próprias possibilidades. Enquanto um “efêmero” com um salário de 50 mil por mês pode não ter nenhuma economia, um “cidadão comum” com uma renda de 5 mil pode ter um patrimônio de 500 mil. O segredo não está no quanto se ganha, mas no padrão de vida que se mantém e na capacidade de guardar dinheiro para imprevistos e aposentadoria. A principal atenção está em calcular corretamente o valor a ser poupado mensalmente para garantir que o padrão de vida possa ser sustentado no longo prazo. Mesmo que o perfil esteja contente com suas economias, é importante revisar periodicamente se elas são suficientes para garantir um futuro financeiro estável.

O Muquirana: Esse perfil é menos comum hoje em dia. Ele é tão conservador e tem tanto medo do futuro, que evita gastar dinheiro a todo custo, limitando-se apenas ao essencial, ou nem isso. Embora esse comportamento resulte em uma maior acumulação de dinheiro, o muquirana acaba esquecendo de aproveitar a vida. Ele está no extremo oposto do “efêmero”, vivendo de forma quase tão prejudicial quanto. Enquanto o “efêmero” ignora o futuro, o muquirana ignora o presente. É importante encontrar um equilíbrio saudável, para que seu dinheiro trabalhe a seu favor sem comprometer sua qualidade de vida.

Perfis de investimento:

O Medroso: Esse perfil é aquele que busca informações sobre investimentos, mas acaba com uma visão fragmentada do assunto. Esse conhecimento limitado aumenta a insegurança e o medo de perder dinheiro. Esse medo é tão grande que paralisa a pessoa, impedindo-a de investir, mesmo em opções seguras. Ele desconfia de tudo e de todos e não consegue experimentar investimentos, por isso acaba deixando o dinheiro na poupança e muitas vezes nem percebe que está perdendo para a inflação. Ou então se concentra demais em um único tipo de investimento, o que pode ser arriscado para seu patrimônio. Superar esse medo pode ser um desafio, mas é possível. A chave é começar devagar, investindo pequenas quantias em diferentes ativos e sempre buscando uma orientação confiável. Com o tempo, a confiança vai crescendo e o medo diminuindo.

O Frustrado: Esse perfil é aquele que se empolga com conteúdo sobre investimentos na internet e espera aprender a investir de forma eficaz. No entanto, ao tentar aplicar as dicas de vídeos e posts, os resultados não correspondem às expectativas. Essa diferença entre o prometido e o real leva à frustração. Se você se identifica com esse perfil, saiba que experimentar investimentos é uma parte importante do aprendizado, mas deve ser feito com estratégia. Não adianta esperar que uma dica da internet resolva todas as suas questões financeiras. O caminho para o sucesso financeiro exige um planejamento cuidadoso e uma abordagem mais abrangente.

O Entendido: Esse perfil é aquele que tem algum conhecimento sobre finanças e acredita já saber tudo. Ele prefere tomar decisões sozinho e tende a questionar bastante qualquer orientação que recebe. Seu excesso de confiança pode levar a erros ou a escolhas inadequadas, por não querer ouvir conselhos e opiniões de outros. É importante lembrar que ninguém sabe tudo, e ouvir sugestões bem fundamentadas sobre investimentos pode evitar decisões erradas. Manter a mente aberta e buscar opiniões qualificadas é fundamental para tomar decisões financeiras mais acertadas.

O Envergonhado: Este perfil é um prato cheio nas mãos de assessores e gerentes de banco. A pessoa envergonhada tem receio de fazer perguntas e revelar que não entende completamente o assunto. Muitas vezes, a complexidade das finanças exige explicações detalhadas, mas a vergonha faz com que ela aceite recomendações sem compreender totalmente o que está sendo proposto. Esse comportamento pode ser perigoso, pois alguns profissionais com conflitos de interesse podem sugerir produtos que não são ideais para você, apenas para alcançar metas ou ganhar comissões. A dica é simples: não tenha medo de perguntar! Ninguém nasce sabendo, e é função dos profissionais explicar tudo de forma clara, para que você se sinta seguro e confiante em suas decisões financeiras.

O Alienado: Esse perfil prefere ignorar completamente o tema dos investimentos, como se ele não existisse. Com tantas informações acessíveis hoje em dia, não há desculpas para não reconhecer a importância de investir seu dinheiro. Ao evitar o assunto, você acaba perdendo as oportunidades e benefícios que os investimentos podem oferecer. Lembre-se: o tempo não volta, e cada ano sem investir pode significar uma perda financeira significativa. 

O Sem Tempo: Algumas pessoas dizem que estão tão ocupadas que não conseguem cuidar das suas finanças. Mas será que isso faz sentido? Na verdade, esse perfil é bastante semelhante ao do “Alienado”. A diferença é que, em vez de ignorar o assunto, usa a falta de tempo como justificativa. No entanto, as consequências são as mesmas. Embora o tempo seja realmente um artigo de luxo para a maioria de nós, ele também é essencial para potencializar os juros compostos em seus investimentos. No final das contas, é uma questão de prioridades: seu dinheiro é importante demais para ficar em segundo plano.

A verdade é que há muitos perfis diferentes quando se trata de finanças, e esses são apenas alguns que identifiquei ao longo da minha experiência como consultora. Muitas vezes, essas atitudes ficam escondidas, pois o tema ainda é pouco discutido. Conversas reais e cotidianas sobre dinheiro ajudam a desmistificar o assunto e criam um espaço para aprendizado e troca de experiências. Isso pode levar a formas mais equilibradas e saudáveis de gerir suas finanças. Então, que tal começar a falar mais sobre isso? Na próxima reunião com amigos ou familiares, introduza o tema e veja como ele pode se tornar uma conversa enriquecedora e comum.

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