Investir melhor
Quando o investimento dá errado: o que essa história pode te ensinar

Cintia Frankfurt
@falando_em_investirFundadora do Falando em Investir, analista CNPI e consultora CVM. Possui ampla expertise em planejamento financeiro e investimentos. Por meio de sua consultoria, orienta as pessoas a investir com segurança, ajudando-as a alcançar seus sonhos e objetivos de vida.
Quando pensamos em investir, a primeira imagem que vem à cabeça é de multiplicar o patrimônio, conquistar liberdade financeira, alcançar a aposentadoria dos sonhos. Ninguém investe para perder dinheiro — mas sim, isso pode acontecer. E é por isso que decidi contar uma história real, para te ajudar a entender o que deu errado e, principalmente, o que fazer para não cair na mesma armadilha.
O início: tudo parecia certo
Hoje em dia, a forma mais comum de começar a investir é com a ajuda de um assessor de corretora ou do gerente do banco. São eles que costumam oferecer produtos e sugerir onde aplicar o dinheiro que sobra na conta.
Até aí, tudo bem. Deixar o dinheiro parado é, de fato, um erro — ele perde valor com a inflação. Investir é o caminho natural para quem quer proteger e fazer o patrimônio crescer. O problema começa quando o investidor aceita aplicar o dinheiro em algo que não entende. E isso acontece mais vezes do que se imagina — talvez até com você.
A história real: um investimento que virou perda total
Uma cliente me procurou depois de viver exatamente isso. Ela havia investido R$ 30 mil em um CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio) — um título emitido por empresas do agronegócio que precisam de capital para financiar suas atividades. Em vez de pegar empréstimos em bancos, elas “vendem” seus recebíveis (valores que têm a receber) a uma securitizadora, que transforma esses créditos em títulos. Esses papéis são então vendidos a investidores, que recebem juros ao longo do tempo.
O investimento dela parecia perfeito: isento de imposto de renda e com um bom retorno. Mas dois anos depois, a empresa emissora entrou em recuperação judicial, e o resultado foi devastador — ela perdeu todo o valor investido.
Ela não estava sozinha. Mais de 4.500 pessoas viveram a mesma situação, somando R$ 245 milhões em perdas. Imagine o impacto: trabalhar, juntar dinheiro, investir com esperança… e ver tudo evaporar.
O que deu errado no investimento?
O nome disso é risco de crédito — o risco de quem toma o seu dinheiro não conseguir pagar. Ele existe em qualquer empréstimo, seja para uma empresa ou até mesmo um parente.
Para tentar se proteger, investidores profissionais costumam acompanhar as agências de classificação de risco, que avaliam a capacidade de pagamento das empresas emissoras. Mas, sejamos sinceros: quem tem tempo e conhecimento para fazer esse acompanhamento constante? A maioria das pessoas não tem — e está tudo bem.
O verdadeiro erro dessa investidora não foi o azar de a empresa quebrar, mas sim investir em algo que não fazia sentido para ela. Um produto complexo, de longo prazo, com risco alto e baixa liquidez — totalmente desconectado do seu perfil e da sua rotina.
O que fazer para não cair na mesma armadilha
Existem alguns princípios simples que podem evitar grandes prejuízos:
Não invista no que você não entende.
Pergunte sempre: “Quais são os riscos desse investimento?” Se quem está te oferecendo não souber explicar com clareza, é sinal de alerta.
Comece pelo simples.
Existem produtos acessíveis, seguros e que rendem bem, sem exigir acompanhamento diário.
Olhe além da rentabilidade.
Rentabilidade alta quase sempre vem com risco alto. Entender essa relação é o que diferencia um bom investidor de alguém que apenas aposta.
Diversifique.
Nunca concentre todo o seu dinheiro em um único tipo de investimento. Uma carteira equilibrada protege seu patrimônio mesmo quando algo dá errado.
A lição mais importante
Ao olhar para essa história, fica claro que o problema não era apenas o produto, mas a falta de adequação entre o investimento e o investidor. O mercado oferece inúmeras opções com diferentes níveis de risco, prazo e complexidade. O segredo está em encontrar aquelas que conversam com sua rotina, seu tempo e seus objetivos.
Investir bem não é sobre saber tudo. É sobre saber o suficiente para escolher com consciência — e, se possível, contar com uma orientação isenta mais aprofundada, que olhe para seus interesses e não apenas para a venda de um produto.
Cuidar do dinheiro é também cuidar da tranquilidade.
E, se tem algo que essa história mostra é que entender onde você está colocando seu dinheiro é tão importante quanto investir.
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