BDRs
BDRs: volume médio diário bate recorde, facilitando internacionalização do investidor brasileiro

Einar Rivero
Einar Rivero é engenheiro e especialista em dados financeiros, com carreira dedicada à análise de informações econômicas e à geração de insights estratégicos para o mercado. Ao longo de mais de duas décadas, atuou em posições de liderança em grandes plataformas de dados, consolidando-se como referência em estudos e levantamentos sobre o mercado financeiro brasileiro, América Latina e EUA.
Nos últimos anos, o mercado de capitais brasileiro vem passando por uma transformação silenciosa, mas profunda: o crescimento consistente dos Brazilian Depositary Receipts (BDRs), que se consolidam como uma das principais portas de entrada do investidor nacional ao mercado internacional.
No segundo trimestre de 2025, essa tendência se intensificou: os BDRs atingiram o maior volume financeiro médio diário trimestral de sua história, com R$ 775,69 milhões movimentados por dia, segundo levantamento da consultoria Elos Ayta. O indicador considera a média diária de negociação em cada trimestre, o que permite medir com mais precisão o comportamento e o apetite dos investidores.
O que são BDRs e por que eles importam?
Os BDRs são certificados negociados na B3 que representam ações de empresas listadas em bolsas estrangeiras. Ao comprar um BDR, o investidor brasileiro passa a ter exposição indireta a uma empresa global, como Apple, Tesla, Microsoft ou Amazon, negociando em reais e sem precisar sair do Brasil ou abrir uma conta no exterior.
Essa possibilidade ganhou força após 2020, quando os investidores de varejo passaram a ter acesso a esses papéis. Desde então, os BDRs deixaram de ser um nicho e passaram a integrar, gradativamente, as carteiras de quem busca diversificação geográfica, setorial e cambial.
O que significa o recorde de liquidez média diária alcançado no 2º tri de 2025?
Mais do que um dado pontual, o novo recorde de volume financeiro médio diário trimestral representa uma mudança de comportamento do investidor brasileiro. Dos R$ 775,69 milhões movimentados em média por dia ao longo do 2T25, os BDRs de empresas dos Estados Unidos responderam por R$ 507,78 milhões, seguidos por ativos das Ilhas Cayman (R$ 157,25 milhões) e da Argentina (R$ 46,54 milhões). Os demais países movimentaram juntos R$ 64,13 milhões por dia, em média.

Esse salto de liquidez média diária sinaliza que o mercado de BDRs atingiu massa crítica. Com maior volume médio de negociação por dia, cresce a facilidade de compra e venda, a atratividade para novos investidores e a visibilidade desses instrumentos na prateleira das corretoras.
Esse aumento é acompanhado também por um crescimento da participação relativa dos BDRs no volume médio diário do mercado à vista da B3. Segundo a Elos Ayta, no segundo trimestre de 2025 os BDRs representaram 3,9% do volume financeiro médio diário da B3, o segundo maior percentual da série histórica, atrás apenas dos 3,96% registrados no quarto trimestre de 2024. A análise não considera o volume financeiro do BDR da JBS, uma vez que o papel foi listado apenas no meio do trimestre. O levantamento inclui exclusivamente ativos que estiveram listados durante todo o período analisado.

Para se ter uma ideia da evolução: em 2020, os BDRs representavam apenas 0,21% do volume financeiro médio diário da bolsa. De lá para cá, o crescimento tem sido praticamente contínuo, com leve recuo entre 2022 e meados de 2023, e uma retomada robusta desde então (veja gráfico acima).
Quais os cuidados ao investir em BDRs?
Apesar da atratividade, os BDRs exigem atenção do investidor. Alguns pontos importantes:
- Risco cambial: como os BDRs acompanham ações listadas fora do Brasil, seus preços são impactados pela variação do dólar ou da moeda da empresa de origem. Mesmo que a ação suba lá fora, uma queda do dólar contra o real pode corroer o retorno.
- Liquidez individual: embora o volume médio diário agregado esteja em alta, alguns BDRs menos negociados ainda têm baixa liquidez, o que pode dificultar a saída da posição.
- Informações em outros idiomas: a análise fundamentalista de empresas estrangeiras pode exigir leitura de balanços e comunicados em inglês ou outro idioma, além de conhecimento dos mercados em que atuam.
- Tributação diferenciada: dividendos recebidos por meio de BDRs não são isentos, ao contrário das ações brasileiras. Além disso, o investidor deve declarar os ganhos corretamente no Imposto de Renda.
Como aproveitar o potencial dos BDRs na internacionalização da carteira?
Mesmo ainda representando uma fatia pequena do volume médio diário da B3, os BDRs têm se mostrado uma ferramenta poderosa para quem deseja dar o primeiro passo rumo à diversificação internacional. A presença de 868 BDRs listados na bolsa brasileira, sendo 697 dos Estados Unidos, 32 da Inglaterra e 16 da China, os três países com maior representatividade, oferece ao investidor brasileiro a possibilidade de montar portfólios com exposição global, sem sair do ambiente da B3.
Além disso, os BDRs permitem o acesso a empresas líderes mundiais em tecnologia, saúde, finanças, energia e consumo, muitas vezes com modelos de negócio consolidados e presença global.
Conclusão
Aos poucos, os BDRs deixam de ser uma novidade para se tornarem parte integrante das estratégias de alocação dos investidores que desejam diversificar, proteger e potencializar seus resultados com uma carteira verdadeiramente global.
O crescimento expressivo do volume financeiro médio diário dos BDRs e sua maior representatividade dentro do mercado à vista da B3 mostram que o investidor brasileiro está, aos poucos, ampliando seus horizontes além das fronteiras nacionais.
Esse é um movimento saudável, especialmente em tempos de volatilidade local, incertezas fiscais ou políticas. Mas, como todo investimento, exige educação financeira, conhecimento dos riscos e análise criteriosa.
As opiniões contidas nessa coluna não refletem necessariamente a opinião da B3
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