ETFs
ETFs dedicados a ativos brasileiros alcançam patamar histórico devido ao potencial de diversificar estratégias

Einar Rivero
Einar Rivero é engenheiro e especialista em dados financeiros, com carreira dedicada à análise de informações econômicas e à geração de insights estratégicos para o mercado. Ao longo de mais de duas décadas, atuou em posições de liderança em grandes plataformas de dados, consolidando-se como referência em estudos e levantamentos sobre o mercado financeiro brasileiro, América Latina e EUA.
A sigla ETF, que remete a Exchange Traded Funds, ou fundos de índice negociados em bolsa, já é velha conhecida de mercados desenvolvidos como o dos Estados Unidos. E essa alternativa de investimento vem crescendo de maneira sistemática na B3.
Alguns números contam essa história. Segundo um levantamento da consultoria Elos Ayta, o total de ativos sob gestão dos ETFs brasileiros subiu de R$ 38,9 bilhões em junho de 2022 para R$ 60,5 bilhões em maio de 2025, o maior valor já registrado na história. Nesse período o avanço foi de 55,5%. Isso não considera os ETFs voltados para ativos de fora do Brasil.
Esse número é ainda mais expressivo quando se observa sua composição: R$ 49,0 bilhões referem-se a ETFs de renda variável e R$ 11,5 bilhões à renda fixa. É um marco relevante, não apenas pelos valores absolutos, mas pela dinâmica que ele reflete. O crescimento mostra um amadurecimento dos investidores e do mercado como um todo, além da abertura de possibilidades para perfis variados de investidor.
O crescimento dos negócios com esses fundos negociados em bolsa se deve a uma combinação de fatores: ampliação da oferta de produtos, maior educação financeira e um apetite robusto do investidor por diversificação e eficiência. O número de investidores da B3 que aplica em ETFs cresceu 29,1% nesse período, avançando de 855 mil em junho de 2021 para 1,104 milhão em maio de 2025 (observe o gráfico abaixo).

Nesta análise, baseada em levantamento da Elos Ayta Consultoria, consideramos apenas os ETFs brasileiros listados na B3, sem incluir os fundos internacionais também negociados por aqui. A proposta é entender o comportamento do investidor local frente aos produtos nacionais.
O que são ETFs, afinal?
Os ETFs são fundos de investimento cujas cotas são negociadas diretamente na bolsa de valores, como se fossem ações. O fundo replica o desempenho de um índice de mercado brasileiro como o Ibovespa B3, como o ETF BOVA11 ou o índice americano S&P 500, refletido no ETF IVVB11.
Nesse processo de diversificação e amadurecimento, o mercado brasileiro passou a contar com opções voltadas para renda fixa, para setores específicos e para estratégias temáticas.
Na prática, isso significa que o investidor consegue se expor a uma carteira diversificada com apenas uma cota. Além disso, o ETF oferece liquidez (pode ser comprado e vendido em bolsa), transparência (composição publicada regularmente) e, geralmente, custos mais baixos que os fundos tradicionais.
Os ETFs são ferramentas poderosas de democratização do mercado. Eles oferecem acesso a estratégias sofisticadas para investidores com poucos recursos. Por exemplo, ao comprar uma cota de um ETF que replica o Ibovespa B3, o investidor passa a ter exposição às maiores companhias abertas brasileiras, algo que demandaria muito mais dinheiro se ele tentasse montar a carteira diretamente.
Por que os ETFs são tão importantes para o investidor pessoa física?
Há várias explicações para a popularização e as boas perspectivas para o crescimento dos ETFs no mercado brasileiro:
- Diversificação fácil – Investir em um ETF significa comprar uma fração de um conjunto de ativos. Com uma única cota, você pode estar exposto a 100 empresas diferentes. Isso dilui riscos específicos e torna a experiência do investidor mais segura, especialmente para quem não tem tempo ou conhecimento para montar carteiras individuais.
- Baixo custo – ETFs costumam ter taxa de administração menor do que fundos tradicionais. Além disso, alguns ETFs de renda fixa têm isenção de come-cotas, ou seja, a tributação ocorre apenas na venda e não semestralmente.
- Liquidez e transparência – Os ETFs oferecem liquidez diária. E como seguem índices públicos, a composição do fundo é de fácil acesso, o que favorece o acompanhamento por parte do investidor.
- Acesso a temáticas e mercados variados – Existem ETFs focados em setores específicos (como ESG, tecnologia, agro), em títulos do Tesouro, em empresas pequenas e até em commodities. Tudo isso com praticidade e sem a necessidade de abrir conta em corretoras internacionais.
Um mercado em evolução
A fotografia mais recente mostra que o mercado não apenas cresceu em volume, mas também em variedade. O número de ETFs listados cresceu 51,9% ante as 77 carteiras listadas em junho de 2022. O número de carteiras de renda variável cresceu 34,8% para 93. No caso da renda fixa, uma alternativa mais recente, o crescimento foi intenso porque a base era bem mais baixa. O total de ETFs triplicou, subindo de 8 para 24.

A partir de 2022 surgiram muitos nomes novos, com estratégias diversificadas e focados em temas novos (como inteligência artificial ou descarbonização) ou novas geografias (China, Europa ou mercados emergentes).
O crescimento da renda fixa
Até 2020, o mercado de ETFs na B3 era quase exclusivamente focado em renda variável, especialmente em produtos que replicavam índices como Ibovespa ou IBrX-50, além de índices internacionais. As carteiras contemplam até fundos de criptoativos, que replicam índices de preços de ativos digitais. Também avançaram os ETFs atrelados a critérios ambientais, sociais e de governança (ESG), em linha com o interesse crescente dos investidores por sustentabilidade.
A renda fixa deixou de ser um segmento marginal. Em dezembro de 2021, os ETFs dessa classe representavam apenas R$ 4,82 bilhões do total sob gestão. Em maio de 2025, o valor mais que dobrou, atingindo R$ 11,46 bilhões, com crescimento acelerado nos últimos trimestres.

Impulsionados pela alta da taxa Selic e pela busca por alternativas mais eficientes de alocação conservadora, esses produtos passaram a ser vistos como boas ferramentas para balancear o portfólio com liquidez e diversificação.
ETFs que replicam índices de títulos públicos atrelados à inflação (como o IMAB11) ou à taxa Selic (como o SELIC11) tiveram forte adesão. Além disso, surgiram produtos com foco em crédito privado, que buscam maior retorno com exposição a debêntures e outros títulos corporativos.
Tendências para os próximos anos
O avanço dos ETFs no Brasil deve continuar nos próximos anos, apoiado em três pilares: aumento da educação financeira, digitalização dos canais de distribuição e maior inovação na oferta de produtos. Gestoras brasileiras e estrangeiras estão disputando espaço no mercado, com lançamentos mensais de novos ETFs e campanhas de comunicação voltadas ao investidor pessoa física.
Especialistas apontam que os próximos passos envolvem a consolidação dos ETFs como instrumentos centrais nas estratégias de alocação de patrimônio, inclusive em carteiras previdenciárias e soluções automatizadas de investimento. A ampliação de produtos com exposição internacional, renda fixa e temáticas ESG também deve ganhar força.
Conclusão
O crescimento do mercado de ETFs no Brasil não é apenas uma questão de volume. Trata-se de uma evolução qualitativa do comportamento do investidor. Ao oferecer diversificação, transparência e eficiência com baixo custo, os ETFs ocupam um espaço estratégico na construção de patrimônio de longo prazo.
Para o investidor comum, que não tem tempo de analisar a fundo cada ação ou título de renda fixa, o ETF representa uma solução inteligente. E para o mercado como um todo, os ETFs representam uma ponte entre o varejo e a sofisticação, entre o conhecimento e o acesso.
Se o Brasil continuar nesse ritmo, não será exagero imaginar que, em poucos anos, a presença dos ETFs na B3 deixe de ser discreta e passe a ser central. O desafio agora é explicar isso de forma simples. Porque o produto já existe – falta apenas o investidor perceber seu verdadeiro potencial.
As opiniões contidas nessa coluna não refletem necessariamente a opinião da B3
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