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Qual o impacto das novas tarifas americanas sobre as empresas e a economia?


Einar Rivero. Foto: Divulgação

Einar Rivero

Einar Rivero é engenheiro e especialista em dados financeiros, com carreira dedicada à análise de informações econômicas e à geração de insights estratégicos para o mercado. Ao longo de mais de duas décadas, atuou em posições de liderança em grandes plataformas de dados, consolidando-se como referência em estudos e levantamentos sobre o mercado financeiro brasileiro, América Latina e EUA.


Sempre é um risco analisar uma situação econômica antes do desfecho final. Feita essa ressalva, vamos supor que não haverá mudanças na decisão anunciada na quarta-feira (9), quando o presidente americano Donald Trump anunciou a elevação das tarifas aduaneiras impostas sobre os produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos. E vamos analisar qual pode ser o impacto dessa decisão na economia brasileira e no faturamento e nos lucros de algumas das empresas brasileiras.

Em 2 de abril, chamado de “Dia da Libertação”, Trump anunciou aumentos variados nas tarifas comerciais impostas aos países que fazem negócios com os Estados Unidos (praticamente todos). Naquela ocasião o Brasil pareceu ter sido poupado. As alíquotas aplicadas aos produtos brasileiros seriam de 10%, o piso da nova regulamentação.

Havia boas razões para isso. A mais importante é que o Brasil tem comprado mais dos Estados Unidos do que vendido para eles com regularidade. Em 2024, o déficit brasileiro foi de US$ 283,8 milhões (R$ 1,57 bilhão), ao importar US$ 40,65 bilhões (R$ 226,1 bilhões) contra US$ 40,36 bilhões (R$ 224,4 bilhões) exportados para os Estados Unidos. A balança comercial é superavitária para os EUA desde 2009. É um quadro radicalmente diferente do da China e de vários países do Sudeste Asiático, que são grandes exportadores para os Estados Unidos.

Na semana passada Trump começou a enviar cartas aos presidentes de vários países avisando do aumento de tarifas, com percentuais que oscilavam entre os 25% impostos a Japão e Coreia do Sul até 40% para Laos e Myanmar. Essas duas nações abrigam muitas empresas chinesas que querem disfarçar sua origem ao exportar para o EUA, daí a alíquota mais pesada.

Mais uma vez o Brasil parecia ter sido poupado. Até a tarde da quarta-feira, quando Trump divulgou a carta que havia enviado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, anunciando a elevação da alíquota sobre os itens brasileiros de 10% para 50% a partir de 1º de agosto. A repercussão na mídia internacional foi intensa. Principalmente porque as justificativas foram políticas e não econômicas. A tensão prosseguiu na tarde da quinta-feira (10), quando o Canadá foi informado que seus produtos passariam a pagar 35% de tarifa.

O impacto nos mercados foi imediato, apesar de a notícia ter saído perto do fim do pregão da quarta-feira (observe o gráfico). No acumulado da semana, o Ibovespa caiu 3,59%. Foi a pior variação semanal em pouco mais de dois anos e meio. A baixa acumulada foi a mais intensa desde a semana encerrada em 16 de dezembro de 2022, quando o Ibovespa recuou 4,34%

Nesse cenário de conflito, há dois caminhos possíveis: o confronto e a negociação. Embora inicialmente o governo brasileiro tenha adotado um discurso mais combativo e afirmasse que usaria a Lei da Reciprocidade para tributar os produtos americanos na mesma medida, o tom mudou já na quinta-feira. Agora, o governo afirmou que o Brasil buscará o diálogo para resolver o impasse. Ainda temos de esperar para entender qual será o cenário das tarifas a partir de agosto.

As consequências para o Brasil

Os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil tanto em exportações quanto em importações. O país absorve 12% das vendas brasileiras para o exterior e fornece 15% do que é adquirido pelo Brasil no comércio internacional. Em 2024, ferro e aço corresponderam a 8,8% das exportações brasileiras para os Estados Unidos, seguidos por aeronaves e seus equipamentos (6,7%) e além de ferroligas e diversos tipos de ferro (4,4%). Já as importações são principalmente de motores e máquinas não elétricos e suas peças (15%), óleos combustíveis de petróleo ou de minerais betuminosos (9,7%) e aeronaves (4,9%).

Com exceção das aeronaves, a pauta de exportações para os Estados Unidos é principalmente de commodities minerais e agrícolas e insumos industriais, também com perfil comoditizado. Ou seja, apesar de a perda de parte de um mercado importante ser problemática, é teoricamente possível que os produtos brasileiros sejam, no médio prazo, redirecionados para outros mercados. A demanda por alimentos é secularmente crescente, visto que a população mundial não para de aumentar. E os preços brasileiros são competitivos, o que permite disputar outros mercados.

Claro, esse processo não será fácil nem rápido. A queda das vendas e os eventuais custos para recolocar os produtos em outros mercados devem prejudicar o crescimento da economia brasileira neste ano. Nos primeiros dias após a notícia, os especialistas do mercado financeiro previam uma desaceleração entre 0,40 e 1,00 ponto percentual (p.p.) no crescimento do Produto Interno Bruto. Segundo o Relatório Focus de 7 de julho, a projeção para o crescimento da economia era de 2,21% neste ano. No cenário mais pessimista, esse percentual cairia para 1,2%.

Todo esse raciocínio pode perder sua validade se Trump mudar de ideia. No entanto, o risco de que isso não ocorra e que as tarifas entrem de fato em vigor justifica analisar o impacto dessa decisão sobre a economia e as companhias abertas brasileiras.

As opiniões contidas nessa coluna não refletem necessariamente a opinião da B3

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