Você realmente usa seus dividendos da melhor forma?

Os proventos – dividendos e Juros sobre Capital Próprio (JCP) – são muitas vezes vistos como um “presente” das empresas para os investidores. À primeira vista, essa é a sensação. No entanto, é preciso pensar em algo importante do ponto de vista da construção do seu patrimônio. Se não souber usar esse rendimento, você está ficando efetivamente mais rico ou está apenas vivendo uma ilusão de rentabilidade?

Uma análise da consultoria Elos Ayta mostra de maneira inquestionável que os dividendos não são um prêmio de loteria, que podem ser considerados um dinheiro extra. Ao contrário, o grande diferencial no sucesso do investidor em ações não está apenas em receber dividendos, mas em saber o que fazer com eles.

Reinvestir ou não reinvestir: eis a diferença entre crescer ou estagnar

Quando uma empresa paga dividendos ou JCPs, o valor correspondente é descontado do preço da ação no chamado ex-dividend date. Ou seja, você não ficou mais rico automaticamente — o valor da empresa em que você investe apenas foi redistribuído. Antes do pagamento, o valor total estava expresso na cotação. Após o pagamento, é necessário subtrair o efetivo pago.

Pense assim: é como tirar um pouco da água de um balde e colocar em um copo. O volume total de água no balde e no copo segue o mesmo, mas parecem ser coisas diferentes. E assim como é muito mais fácil beber a água que está no copo do que aquela que está no balde, é muito mais fácil gastar o dinheiro dos dividendos do que o valor da ação.

Se você consome a água do copo (o dividendo) em vez de devolvê-la ao balde (reinvestir), o seu patrimônio pode encolher com o tempo, principalmente em cenários de inflação ou com juros reais baixos.

A lógica inversa também vale: ao reinvestir consistentemente os dividendos na compra de novas ações (da própria empresa ou de outras), o acionista aumenta a base sobre a qual os proventos são calculados. Suponha uma conta simples: o investidor tem mil ações de uma companhia. A rentabilidade com dividendos foi de 10% em um determinado ano, e foi integralmente usada na compra de mais 100 ações, elevando sua participação para 1.100 ações

No ano seguinte, se a empresa repetir seu desempenho, o investidor poderá comprar 110 ações, ampliando seu capital para 1.210 ações. No terceiro ano, de novo se a empresa for constante, os proventos permitirão a compra de 121 ações (recorrendo ao mercado fracionário). Após alguns anos, independente dos juros de mercado, o investidor poderá dobrar sua participação na empresa sem ter de gastar um centavo, apenas reaplicando os proventos.

O que dizem os dados: só 16 ações venceram a poupança de forma consistente

A Elos Ayta analisou 162 ações que integravam as carteiras dos índices mais importantes do mercado: o Ibovespa B3, o IDIV (de ações que pagam dividendos) e o índice de Small Caps (de empresas de menor capitalização) entre junho de 2022 e junho de 2025. O critério foi claro: quais ações entregaram Dividend Yield maior que a poupança por três anos consecutivos?

📌 Resultado: apenas 16 ações atenderam esse padrão de consistência. Entre as Top 3 da amostra, considerando a mediana do Dividend Yield temos:

Ações das carteiras do Ibovespa, IDIV e Small Caps com Dividend Yield superior a rentabilidade da poupança em 12 meses até 30 de junho dos anos de 2023 a 2025
Empresa	Código	Setor	Dividend Yield 12M %
			30/jun/23	30/jun/24	30/jun/25	Médiana
Petrobras	PETR4	Exploração refino e distribuição	53,11	21,89	14,66	21,89
Petrobras	PETR3	Exploração refino e distribuição	48,57	19,53	13,81	19,53
Metal Leve	LEVE3	Automóveis e motocicletas	18,79	17,17	8,15	17,17
Csn Mineracao	CMIN3	Minerais metálicos	23,59	12,32	15,99	15,99
Copasa	CSMG3	Água e saneamento	12,92	17,06	7,98	12,92
Bradespar	BRAP4	Minerais metálicos	11,61	13,37	10,96	11,61
Lavvi	LAVV3	Incorporações	11,20	9,10	11,73	11,20
BBSeguridade	BBSE3	Seguradoras	11,19	9,32	11,24	11,19
Cemig	CMIG4	Energia elétrica	10,88	10,92	19,35	10,92
Caixa Seguri	CXSE3	Seguradoras	12,46	10,35	8,01	10,35
Tegma	TGMA3	Transporte rodoviário	10,09	8,36	10,56	10,09
Taesa	TAEE11	Energia elétrica	10,21	9,88	8,00	9,88
Brasil	BBAS3	Bancos	13,49	9,84	8,91	9,84
Marcopolo	POMO4	Material rodoviário	9,47	11,32	9,06	9,47
Kepler Weber	KEPL3	Máq. e equip. industriais	13,83	8,96	8,76	8,96
Irani	RANI3	Embalagens	11,23	7,97	7,82	7,97
Mediana			12,04	10,64	9,81
Elos Ayta

1. Petrobras PN (PETR4): 21,89%
2. Petrobras ON (PETR3): 19,53%
3. Metal Leve (LEVE3): 17,17%

Do total, 11 das 16 ações apresentaram mediana de Dividend Yield superior a 10%. Os setores são variados, com destaque para petróleo, seguros, energia elétrica, saneamento, transporte e incorporação.

Ao reinvestir os dividendo, o jogo muda — e muito

Mas a maior revelação vem quando comparamos o retorno total (Total Return) das ações com e sem o reinvestimento dos dividendos e JCPs.

🥇 Top 3 em retorno com reinvestimento:

1. Lavvi (LAVV3): mediana de 62,10%
2. Marcopolo (POMO4): 58,59%
3. Tegma (TGMA3): 57,21%

Retorno com reinvestimento dos dividendos das ações das carteiras do Ibovespa, IDIV e Small Caps com Dividend Yield superior a rentabilidade da poupança em 12 meses até 30 de junho dos anos de 2023 a 2025
Empresa	Código	Setor	Retorno % 12M ajustado por proventos
			30/jun/23	30/jun/24	30/jun/25	Médiana
Lavvi	LAVV3	Incorporações	67,69	31,15	62,10	62,10
Marcopolo	POMO4	Material rodoviário	128,87	58,59	35,07	58,59
Tegma	TGMA3	Transporte rodoviário	71,66	19,96	57,21	57,21
Petrobras	PETR4	Exploração refino e distribuição	77,57	53,29	-3,47	53,29
Caixa Seguri	CXSE3	Seguradoras	63,08	50,41	10,84	50,41
Petrobras	PETR3	Exploração refino e distribuição	73,08	43,65	-2,27	43,65
Copasa	CSMG3	Água e saneamento	101,19	17,74	43,57	43,57
Csn Mineracao	CMIN3	Minerais metálicos	34,54	34,67	8,69	34,54
Cemig	CMIG4	Energia elétrica	36,72	12,31	29,96	29,96
BBSeguridade	BBSE3	Seguradoras	29,35	16,85	19,88	19,88
Brasil	BBAS3	Bancos	65,64	18,57	-9,47	18,57
Kepler Weber	KEPL3	Máq. e equip. industriais	43,58	9,40	-6,50	9,40
Taesa	TAEE11	Energia elétrica	7,86	0,79	10,29	7,86
Metal Leve	LEVE3	Automóveis e motocicletas	131,41	-11,63	2,15	2,15
Irani	RANI3	Embalagens	52,04	-1,48	-6,18	-1,48
Bradespar	BRAP4	Minerais metálicos	-1,01	-5,54	-4,77	-4,77
Mediana			64,36	18,16	9,49
Elos Ayta

Outras ações também se destacam, como PETR4 (53,29%) e CXSE3 (50,41%). No total, 5 ações da amostra tiveram mediana de retorno acima de 50% com reinvestimento.

Agora veja o contraste:

Sem reinvestimento:

• Lavvi: DY cai de 62,10% para 45,05%
• Marcopolo: de 58,59% para 46,26%
• Tegma: de 57,21% para 43,70%
• Petrobras PN: de 53,29% para apenas 5,73%

Para facilitar a comparação, colocamos as duas listas em uma mesma tabela:

A diferença dos reinvestimentos
Comparação das ações com rentabilidade acumulada superior â da caderneta de poupança entre 2022 e 2025, considerando o reinvestimento ou não dos dividendos
Empresa	Código	Setor	Rentabilidade *
			Sem Reinvestimento	Com Reinvestimento
Lavvi	LAVV3	Incorporações	45,05	62,10
Marcopolo	POMO4	Material rodoviário	46,26	58,59
Tegma	TGMA3	Transporte rodoviário	43,70	57,21
Petrobras	PETR4	Exploração refino e distribuição	8,38	53,29
Caixa Seguri	CXSE3	Seguradoras	38,93	50,41
Petrobras	PETR3	Exploração refino e distribuição	5,73	43,65
Copasa	CSMG3	Água e saneamento	33,89	43,57
Csn Mineração	CMIN3	Minerais metálicos	8,29	34,54
Cemig	CMIG4	Energia elétrica	9,20	29,96
BBSeguridade	BBSE3	Seguradoras	8,72	19,88
Brasil	BBAS3	Bancos	8,14	18,57
Kepler Weber	KEPL3	Máq. e equip. industriais	1,27	9,40
Taesa	TAEE11	Energia elétrica	-2,54	7,86
Metal Leve	LEVE3	Automóveis e motocicletas	-6,59	2,15
Irani	RANI3	Embalagens	-8,63	-1,48
Bradespar	BRAP4	Minerais metálicos	-15,18	-4,77
* OBS – Mediana de três períodos de 12 meses findos em 30/06 2023, 2024 e 2025
Elos Ayta

Isso mostra que reinvestir pode dobrar (ou mais) o resultado final.

E no agregado? Reinvestir = patrimônio maior

A Elos Ayta calculou a mediana da rentabilidade das ações com e sem reinvestimentos, nos últimos três anos fechados em 30 de junho:

Ano	Com reinvestimento	Sem reinvestimento
2023	64,36%	34,15%
2024	18,16%	7,58%
2025	9,49%	-1,20%

Em 2025, não reinvestir levou a um resultado negativo, mesmo entre ações que pagaram bons dividendos. O número de rentabilidades negativas foi 60% maior entre quem não reinveste.

O lado comportamental: por que é tão difícil reinvestir dividendos?

As finanças comportamentais ajudam a explicar por que tantos investidores tomam decisões que vão contra seus próprios interesses. Veja os principais vieses ligados ao tema:

🔻 1. Ilusão do dinheiro “extra” (mental accounting)

Você vê o dividendo como uma renda nova, mas ele saiu da própria ação. Gastar esse valor é como vender uma parte da empresa sem perceber.

🔻 2. Viés da gratificação imediata

O prazer de gastar agora fala mais alto do que o benefício de reinvestir para colher mais no futuro.

🔻 3. Efeito disposição

Vender ações boas (que pagaram dividendos) para realizar lucro e manter ações ruins na esperança de recuperação.

🔻 4. Ancoragem e erro de percepção

Ver o preço da ação cair após o pagamento do dividendo e achar que ela está mais “barata”, sem considerar o ajuste técnico.

O que fazer com seus dividendos na prática?

Para quem está começando no mercado, aqui vão três passos simples:

✅ Considere os dividendos parte do seu capital, não renda extra.

✅ Reinvista sempre que possível, mesmo que em pequenos valores.

✅ Olhe o retorno total da ação (Total Return), e não só o preço.

Conclusão: enriquecer exige disciplina, não sorte

O levantamento da Elos Ayta mostra, com base em dados reais, que reinvestir dividendos é uma das atitudes mais poderosas, — e subestimadas — do investidor de longo prazo. Mais do que buscar as ações “certas”, o segredo pode estar no que você faz com o que recebe.

No mercado financeiro, não é quem recebe mais dividendos que ganha mais dinheiro. É quem reinveste com consistência e consciência.

E se você ainda não se sente confortável para fazer análises por conta própria, ou não sabe por onde começar, vale a pena buscar a ajuda de profissionais qualificados, como assessores de investimento, planejadores financeiros ou analistas certificados que podem te orientar na construção de uma carteira mais sólida, alinhada com seus objetivos.

As opiniões contidas nessa coluna não refletem necessariamente a opinião da B3

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