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Estela Borgheri: como superar o excesso de informações e tomar boas decisões de investimento
Estela Borgheri
Planejadora Financeira e co-fundadora da empresa Vínea Gestão de Capital, Estela é formada em Administração de Empresas e pós-graduada em Business Administration pelo Insper. Possui a certificação CFP® e é Consultora CVM
“Risco é o que sobra depois que você imagina ter pensado tudo”
Essa é uma frase muito famosa do Morgan Housel, autor de um dos melhores (senão o melhor) livros de finanças comportamentais já lançados: “A psicologia financeira: lições atemporais sobre fortuna, ganância e felicidade”, que já vendeu mais de três milhões de cópias no mundo e foi traduzido para 53 idiomas.
Mas o que é exatamente o risco ou a oportunidade?
Antes da resposta, precisamos entender por que essa dúvida tem ficado mais constante para o investidor. Estamos vivenciando um cenário político e econômico caótico no Brasil e no mundo, isso é verdade, mas não é como se esse tipo de caos nunca tivesse existido. Chego à conclusão que um dos fatores que piora e muito o nosso discernimento é a sobrecarga atual de informações que tem feito nossas cabeças fritarem.
Cada vez mais você vê as outras pessoas “se dando bem” com seus investimentos super rentáveis e com baixo risco (segundo elas) e pensa “Onde estou errando? Quero esse resultado também, para ontem!”. Antigamente, você só falava sobre esses assuntos com seu vizinho no churrasco do fim de semana (e sim, ele sempre estava em um cenário melhor que você) ou assistia alguma coisa sobre o assunto no jornal da Globo. Mas atualmente, você abre a geladeira e salta um indivíduo de lá de dentro com uma previsão financeira sobre o investimento da vez.
Um dos temas preferidos agora é sobre quem vai vencer as eleições e qual o portfólio ideal para estar posicionado. É claro que analisar e pensar sobre esses possíveis cenários é o trabalho dos gestores de patrimônio, de quem faz isso profissionalmente. Buscar entender para onde vai o mercado é parte papel dessas pessoas.
Esses profissionais são preparados e estudam sobre mercado financeiro o tempo todo. Mas ao ouvir a opinião de um ou de outro influenciador, canal de mídia, post nas redes sociais ou vídeo do Youtube, você, investidor, pode ir por um caminho e acabar posicionando sua carteira de investimentos de forma que, se você estiver certo ganha muito dinheiro e se estiver errado, perde muito dinheiro. Isso é loucura. Vou além: mesmo os profissionais muito sérios que analisam mercados de forma profissional têm opiniões distintas. Uns são mais otimistas com as previsões, outro menos. São percepções e modos de enxergar o futuro com base na sua experiência individual.
Ao contrário disso, precisamos estar preparados para diversos cenários. Por quê? Simplesmente porque não temos bola de cristal e devemos ser humildes perante as incertezas.
A promessa é de que informação é poder. Mas, quando o volume é maior do que a capacidade de processar, o resultado deixa de ser poder — e passa a ser confusão.
De acordo com um levantamento do Banco Central (Pesquisa de Comportamento Financeiro e Educação, 2024), 67% dos brasileiros afirmam se sentir “sobrecarregados” pelo excesso de informações sobre investimentos. E 42% dizem já ter adiado uma decisão financeira por medo de errar diante de tantas opiniões divergentes.
A superinformação cria uma ilusão perigosa: a de que, quanto mais sabemos, melhores serão nossas decisões. Na prática, o oposto costuma acontecer. O excesso de dados sem filtro dilui o discernimento. É como tentar dirigir em meio a uma neblina de manchetes — cada uma empurrando o olhar para uma direção diferente. E ao invés de tomar uma decisão errada com base nas informações, pode acontecer algo talvez tão ruim quanto, que se chama paralisia por análise: o fenômeno em que a abundância de informações leva à inação. O investidor lê tanto, pesquisa tanto, compara tanto, que termina sem agir. E, quando decide, é tarde — ou a decisão é emocional, tomada no impulso de quem quer “recuperar o tempo perdido”.
Como então se proteger de tudo isso? Aqui vão algumas dicas:
- Diversifique. Pode parecer clichê, mas ainda ouço muita gente me perguntando se agora é o momento de investir pesado nisso ou naquilo, se tal investimento não está tão caro que não teria como subir mais, coisas assim. É como disse Harry Markowitz (prêmio Nobel de Economia, criador da Moderna Teoria de Portfólios): “A diversificação é o único almoço grátis dos investimentos”. Não me refiro ao excesso de diversificação (comprar de tudo um pouco) sem convicção. Por isso entender o mínimo sobre o que está investindo vai ajudar a ter clareza.
- Se você ainda está aprendendo, fuja dos investimentos muito complicados, com letras miúdas, que você não consegue entender como se valorizam ou desvalorizam. Um exemplo simples: ao invés de o assessor ou gerente do banco te oferecer o Tesouro Selic, um investimento excelente, de baixíssimo risco com rentabilidade super coerente, pode oferecer um COE bidirecional com capital protegido e retorno alavancado. São dois investimentos com propósitos totalmente diferentes, mas ao te dizer o ganho potencial de um e de outro, sem explicar o risco e as probabilidades de perda, você provavelmente vai achar mais “sexy” a segunda opção.
- Nenhuma rentabilidade vai superar a constância e paciência. Eu sei que no contexto atual, de vídeos de segundos e a IA resolvendo tudo para você num piscar de olhos, pode parecer bem difícil. E é mesmo, não vou mentir. Mas como adultos que somos, temos que escolher nossas batalhas não é mesmo?
Se o “risco é o que sobra depois que você imagina ter pensado em tudo”, saiba que não existe investimento sem risco, porque você nunca (nunca mesmo), vai ser capaz de pensar em tudo. Mas peneirar esse enorme volume de informações que nos atinge para não destruir nosso patrimônio, diversificar, gastar menos do que ganha para poder investir constantemente e não se iludir com ganhos mágicos (e ter paciência) podem ser grandes aliados na proteção contra nossa inabilidade de prever o futuro.
*As opiniões contidas nessa coluna não refletem necessariamente a opinião da B3
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