Investir melhor
Começar a investir cedo: o maior presente que você pode dar ao seu filho
Mais do que guardar dinheiro, investir para os filhos é ensinar a construir liberdade. O tempo é o ativo mais poderoso que eles têm

Professor Mira
Investidor profissional, Analista CNPI-T (Apimec), mestrando em Economia, com MBAs em Gestão de Investimentos, Análise de Investimentos e Educação Financeira. Empresário, sócio do Clube FII e do Grana Capital, escritor best-seller e educador financeiro com cursos que já formaram mais de 50 mil alunos pelo mundo. Está nas redes sociais como @professormira
Entre todos os recursos que moldam o futuro de uma criança, como escola, saúde, amor, atenção e oportunidades, há um que passa despercebido, mas é decisivo: o tempo.
No mundo dos investimentos, tempo é mais valioso que o próprio dinheiro. Ele é o que transforma pequenas quantias em grandes patrimônios. E, nesse jogo, as crianças têm a maior vantagem competitiva que existe.
Começar a investir cedo é permitir que o tempo trabalhe a favor delas, ampliando não só o patrimônio, mas a liberdade de escolha no futuro. Apesar disso, a maioria das famílias brasileiras ainda não aproveita esse poder.
O retrato das famílias brasileiras
Segundo uma pesquisa nacional da Serasa em parceria com o Opinion Box (2023), 72% dos pais não fazem nenhum tipo de investimento em nome dos filhos. E mesmo entre os que dizem investir, metade não possui uma conta específica para essa finalidade. Ou seja: o dinheiro que deveria representar o futuro das crianças, na prática, acaba diluído nas finanças do presente.
Curiosamente, quase metade dos pais (49%) afirmam que pretendem começar a investir no futuro. Só que, em finanças, adiar é o mesmo que perder. Cada ano sem investir é um ano a menos de juros compostos trabalhando.
O poder dos juros compostos: o tempo como multiplicador
Imagine que você comece hoje a investir para um recém nascido, R$ 200 por mês no Tesouro IPCA+ 2050. Considerando a rentabilidade atual IPCA + 8,06% aa., quando ele completar 25 anos, o montante será de aproximadamente R$ 274 mil.
Este é apenas um exemplo, e existem inúmeras alternativas que podem ser ajustadas à realidade de cada família, perfil de risco e metas. Na Comunidade Mira, desenvolvi ferramentas que simplificam essas escolhas e permitem o monitoramento e evolução dos investimentos.
O fundamental aqui, com esse exemplo do Tesouro IPCA+, é apenas te mostrar o quanto uma escolha simples é poderosa na transformação do destino de uma criança.
Investir é também educar
O ato de investir para uma criança vai muito além da rentabilidade, é também uma ferramenta poderosa de educação financeira e desenvolvimento cognitivo das crianças.
Um amplo estudo publicado em 2024 pela Frontiers, uma plataforma aberta de colaboração científica internacional, mostra que a educação financeira precoce é determinante para o comportamento financeiro na vida adulta.
A pesquisa, conduzida por Stefania Macone (Universidade de Cassino, Itália) e colegas, identificou que crianças expostas a práticas de investimento e poupança desde cedo desenvolvem maior autocontrole, consciência de gastos e menor propensão ao endividamento.
E vale acrescentar a esse dado, um fator essencial apontado por Hanns de la Fuente-Mella, da Universidade de Valparaiso, no Chile: a família é o primeiro e principal agente de socialização financeira das crianças.
Quando os pais envolvem os filhos na rotina de investimentos, mostrando extratos, explicando o crescimento dos rendimentos, estabelecendo metas, estão ensinando muito mais que números. Estão transmitindo mentalidade de longo prazo e disciplina.
Educação financeira e investimento: uma combinação que muda destinos
Pesquisadores das Universidades de York e Iowa (Letkiewicz & Fox, 2014; Lührmann et al., 2015) e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (Frisancho et al, 2021) mostram que a alfabetização financeira na infância é o principal preditor de estabilidade econômica na vida adulta e programas de educação financeira que envolvem os pais produzem mudanças comportamentais mais duradouras.
Em outras palavras: investir em nome dos filhos precisa estar na pauta doméstica de educação financeira. Cada aporte é uma aula sobre paciência, constância e visão de futuro.
Como começar hoje
A pesquisa Serasa 2023 apontou que 7 em cada 10 pais não conhecem soluções financeiras focadas no público infantil. Mesmo entre os que conhecem, 60% nunca as utilizaram.
Isso revela uma necessidade urgente de informação e acesso a ferramentas que simplifiquem o processo, pois o fato é que o mercado financeiro segue em contínua evolução e oferece diversas opções para pais que desejam investir para seus filhos.
A maioria dos bancos e corretoras disponibiliza a abertura de contas para menores de idade, sempre com a supervisão e administração dos pais ou responsáveis.
Minha sugestão é que você não adie nem mais um minuto:
- Abra uma conta de investimento em nome da criança: diversas instituições permitem abrir contas kids, vinculadas ao CPF do menor, sob supervisão dos responsáveis.
- Automatize os aportes: mesmo pequenos valores, como R$ 50, R$ 100 por mês, tornam-se significativos com o tempo. Mais importante do que o valor em si, é a constância.
- Prefira produtos de longo prazo: títulos públicos indexados ao IPCA, previdência privada infantil e fundos de índice (ETFs) são opções bem interessantes para horizontes acima de dez anos. Lançados para cobrir lacunas importantes, como a aposentadoria ou o custeio da educação superior, o Tesouro Direto RendA+ e Educa+ são investimentos de baixo risco, com rentabilidade ligada à inflação, garantindo o poder de compra no futuro.
- Inclua as crianças no processo: mostre os resultados, converse sobre metas, explique os ganhos e perdas. A transparência forma consciência e responsabilidade.
- Mantenha o monitoramento: ajuste o portfólio ao longo do tempo, quanto mais próxima a data de resgate, menor deve ser a exposição a risco, para proteger o capital acumulado.
Torne o investimento uma jornada familiar
O segredo para o sucesso dessa jornada é a participação e o diálogo. Envolva seus filhos nas decisões (de maneira adequada à idade), explique a importância de guardar dinheiro e de escolher bem onde investir. Use ferramentas digitais, portfólios simulados e até mesmo suas próprias experiências para ilustrar como funciona o mundo dos investimentos.
Um futuro “milionário” para seus filhos vai muito além da quantidade de dinheiro acumulado. Trata-se de liberdade de escolha e consciência financeira como valores familiares que permitirão aos seus filhos:
- Aproveitar o efeito dos juros compostos por décadas, transformando modestos aportes em um capital substancial.
- Tomar decisões financeiras inteligentes e éticas, evitando dívidas e consumos impulsivos.
- Ter acesso a oportunidades educacionais e profissionais que um capital bem gerido pode abrir.
- Ser um adulto financeiramente autônomo, resiliente e engajado com um consumo mais consciente.
Investir para as crianças também é ato de amor
De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) da CNC, 78% das famílias brasileiras estão endividadas. Em paralelo, um outro dado corrobora, ao menos em partes, os motivos: apenas 21% das pessoas receberam algum tipo de educação financeira antes dos 12 anos.
Esses números explicam muito sobre o ciclo financeiro das famílias e mostram por que quebrá-lo depende das novas gerações.
Investir cedo para uma criança é dar a ela mais do que dinheiro. É dar opções, autonomia e liberdade de escolha. É plantar a semente do comportamento financeiro saudável, num país em que tantos adultos ainda aprendem a lidar com dinheiro pela dor.
O futuro começa agora
O tempo é o único ativo que não volta, e justamente por isso que ele é seu mais poderoso aliado na construção do futuro das crianças.
Começar cedo, investir com constância e envolver os filhos nesse processo é mais do que uma estratégia financeira, é uma forma de educação para a vida.
O tempo vai passar de qualquer forma. A diferença está em fazer dele um aliado ou simplesmente deixá-lo passar.
*As opiniões contidas nessa coluna não refletem necessariamente a opinião da B3
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