Organizar as contas
Como criar filhos independentes financeiramente

Professor Mira
Investidor profissional, Analista CNPI-T (Apimec), mestrando em Economia, com MBAs em Gestão de Investimentos, Análise de Investimentos e Educação Financeira. Empresário, sócio do Clube FII e do Grana Capital, escritor best-seller e educador financeiro com cursos que já formaram mais de 50 mil alunos pelo mundo. Está nas redes sociais como @professormira
Ensinar sobre consumo consciente e uso responsável do dinheiro é algo que deve começar logo cedo, com exemplos adequados à faixa etária dos seus filhos. Ter pais atentos à importância de saber investir pode fazer toda diferença na educação financeira e na qualidade de vida da próxima leva de investidores que virá por aí.
O preço do amanhã: tempo é dinheiro?
Se você, que já investe ou pensa em investir, ainda não tinha se visto por essa perspectiva de alguém que dá o exemplo, te convido a pensar no impacto positivo de sua autoridade e referência ao ajudar seus filhos a vislumbrar sonhos, transformá-los em metas e ver, nos investimentos, um caminho possível para alcançá-las.
O impacto financeiro dos filhos e o poder do planejamento
A chegada de um filho mexe com o orçamento da casa: fraldas, escola, saúde, lazer… as despesas aumentam com o tempo. Neste contexto, é fundamental que a rotina da família não deixe cair no esquecimento que, junto com o crescimento dos filhos e todas as despesas envolvidas, o planejamento financeiro deve contemplar também a construção de riqueza e a independência financeira.
As gerações nascidas até a década de 1980 cresceram ouvindo coisas como “ponha na poupança”, “compre um imóvel”, “tenha um emprego que lhe permita uma boa aposentadoria”. Essas crenças estavam alinhadas a um contexto histórico que, há bastante tempo, já não existe mais.
Hoje em dia, você, como mãe, pai ou figura que desempenha esse papel dentro da constituição familiar, tem a responsabilidade de formar uma personalidade investidora e evitar que seu filho ou filha passe pelo sentimento bem conhecido como “queria ter começado antes”, que assola a maioria dos investidores.
Um novo mundo, novas responsabilidades
Há algumas décadas, o Brasil vem debatendo a questão do desequilíbrio do sistema previdenciário e a necessidade de reformas devido ao aumento da expectativa de vida da população. Isso não seria um problema se a população economicamente ativa e que contribui para a previdência estivesse crescendo na mesma proporção. Entretanto, o que está ocorrendo é exatamente o inverso.
O cenário para a previdência social é desalentador, e a última reforma previdenciária é somente mais uma de muitas que ainda teremos pela frente, afinal, com o número de beneficiários da previdência sendo maior do que o número de contribuintes, não é preciso ser matemático ou economista para perceber que a conta não fecha.
Além disso, o mercado de trabalho também mudou. O que antigamente era garantia de estabilidade para a vida toda, o tal “emprego com carteira assinada”, hoje já não é garantia de nada. Um estudo do IFTF (Institute For The Future) aponta que em torno de 85% das profissões que terão relevância a partir de 2030 ainda nem existem. Veja, não estamos falando de um futuro remoto, é 2030!!! Tá logo aí adiante.
Sendo assim, sua responsabilidade em proporcionar educação financeira e consciência no uso do dinheiro aumentou ainda mais. Seus filhos viverão em um cenário totalmente novo, onde a capacidade de cuidar de si será um diferencial competitivo vital.
Educação financeira começa pelo exemplo
Ensinar sobre consumo consciente e uso responsável do dinheiro é algo que deve começar logo cedo. E você não precisa ser um especialista em finanças pessoais, mas precisa se empenhar em ter disciplina, planejamento, foco e, sobretudo, demonstrar na prática o que você espera que eles aprendam.
Fale abertamente sobre orçamento familiar, receitas, despesas e decisões financeiras. Traga-os para dentro do processo, planeje, junto com eles, qual o momento mais adequado para fazer determinados gastos, ensine sobre as formas mais eficientes de guardar dinheiro em cada fase da vida, demonstrando quais os benefícios disso.
Eduque com hábitos lúdicos
Eu costumo usar coisas que fazem parte do universo da minha filha adolescente para ensinar sobre investimentos. Como ela gosta muito de um shopping aqui em São Paulo que frequentamos bastante, comprei pra ela cotas de fundos imobiliários deste shopping. Sempre explico que, ao ter fundos desse shopping que ela tanto gosta, é como se ela fosse dona de uma pequena parte do local.
A mesada dela vem dos rendimentos desses fundos. E temos um combinado: ela é livre para decidir como usar o dinheiro de sua mesada, mas sempre que ela opta por investir uma parte, eu dobro o valor investido. Aos poucos, ela percebe os benefícios de guardar dinheiro e ver ele crescer.
Percebe como algo lúdico se tornou, ao mesmo tempo, uma meta e uma ferramenta de construção de bons hábitos? Não faria nenhum sentido eu tentar fazer palestras teóricas sobre finanças para uma adolescente. Ela não entenderia muita coisa, iria me achar um chato, e o pior: poderia “pegar ranço” do assunto.
A maior herança é o conhecimento
Se você é pai, mãe ou responsável, pense também no seu papel como educador de um futuro adulto que terá a chance de ter uma vida financeira saudável. As crianças de hoje viverão em um mundo mais complexo, com menos garantias e mais incertezas. Mas, com educação financeira, terão ferramentas para lidar com tudo isso com autonomia.
A maior herança que você pode deixar para seus filhos é a capacidade de cuidar do próprio dinheiro.
As opiniões contidas nessa coluna não refletem necessariamente a opinião da B3
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