Investir melhor
Descomplicando a bolsa: como o investidor comum pode multiplicar seu patrimônio

Professor Mira
Investidor profissional, Analista CNPI-T (Apimec), mestrando em Economia, com MBAs em Gestão de Investimentos, Análise de Investimentos e Educação Financeira. Empresário, sócio do Clube FII e do Grana Capital, escritor best-seller e educador financeiro com cursos que já formaram mais de 50 mil alunos pelo mundo. Está nas redes sociais como @professormira
Imagine a seguinte cena: um amigo comenta animado que começou a investir na bolsa de valores. Você sorri, mas lá no fundo sente um frio na barriga. Talvez você até já tenha pensado nisso, mas o medo sempre falou mais alto.
Preciso te pedir que não se sinta só. Para muita gente, a bolsa ainda parece um território hostil, povoado por gráficos indecifráveis, linguagens complexas e promessas que soam boas demais para serem verdade.
O medo de perder dinheiro, a sensação de não entender o funcionamento desse universo e a insegurança de dar o primeiro passo são barreiras reais. Eu também me senti assim no começo, e justamente por isso quero conversar contigo e mostrar que nem tudo é tão complicado quanto parece.
O medo de investir é natural, mas superável
O receio de investir na bolsa de valores nasce, como a maioria de nossos demais medos, quando nos vemos diante de algo que não conhecemos. Nosso cérebro é programado para evitar riscos, especialmente quando envolvem coisas ligadas à nossa sobrevivência e, obviamente, o dinheiro acaba se enquadrando nessa categoria.
O problema é que, nesse processo, acabamos também nos afastando de oportunidades reais de crescimento patrimonial. E não estou falando de aventuras ou apostas, mas de estratégia, conhecimento e disciplina.
Você não deve ignorar o medo, mas entender por que e como ele se manifesta. Somente assim vai conseguir superá-lo, munido das ferramentas certas.
A chave está no conhecimento
Ao contrário do que muitos pensam, investir na bolsa de valores não é privilégio de especialistas ou pessoas com muito dinheiro. Ela é uma ferramenta poderosa, acessível a qualquer pessoa disposta a aprender.
Pegando emprestada a frase de José Martí, não me canso de dizer aos meus alunos que o conhecimento liberta. O estudo é o antídoto mais eficaz contra o medo e deve ser sua ferramenta para entrar no mundo dos investimentos em renda variável o quanto antes.
Conhecer seu perfil de investidor, entender os riscos, identificar boas empresas e começar com pequenos aportes são passos fundamentais. Não existe fórmula mágica ou atalho, mas existe um caminho claro: investir com consciência e informação.
Como o método de Benjamin Graham pode te ajudar
Benjamin Graham foi um dos mais influentes economistas e investidores do século XX, amplamente conhecido como o pai do value investing (investimento em valor).
Considerado mentor de Warren Buffett e uma verdadeira lenda dos investimentos, Graham acreditava que qualquer pessoa, independentemente de sua área de formação, poderia atingir bons retornos investindo com método e paciência.
Graham propôs um modelo simples e poderoso: comprar ações de empresas com bons fundamentos, a preços abaixo do que realmente valem. Ou seja, investir com margem de segurança.
Um dos critérios de Graham para aquisição era buscar empresas cujas ações fossem vendidas a, no máximo, sete vezes seus lucros dos últimos doze meses (Preço/Lurcro de 7). A lógica por trás disso é que o lucro por ação deveria ser pelo menos o dobro do rendimento médio dos títulos de primeira linha (triplo A).
Ele também estabeleceu um limite máximo de P/L de dez, independentemente do rendimento dos títulos. Além disso, a empresa deveria ter uma posição financeira satisfatória, com o capital próprio sendo pelo menos o dobro de suas dívidas, ou uma proporção de capital próprio em relação aos ativos totais de, no mínimo, 50%.
Quanto à venda, Graham aconselhava definir um objetivo de retorno (por exemplo, 50% do custo) e um limite de tempo de permanência (dois a três anos). Se a ação atingir o objetivo de retorno, venda. Se não atingir e o prazo expirar, venda, independentemente do preço. Ele demonstrou que, a longo prazo, esse método poderia gerar uma média de retorno de 15% ao ano.
Resumidamente, as premissas do método de Graham são:
- Escolher ações com um índice P/L baixo
- Diversificar a carteira com pelo menos 30 ações
- Ter regras claras de compra e venda. Nada de adivinhações, tudo baseado em lógica, estatística e disciplina.
- Foco no longo prazo
Conhecer a obra de Benjamin Graham pode ajudar bastante para que você tenha uma visão ampliada do que é o mercado de ações. E se você quiser que eu fale mais sobre isso por aqui, mande mensagem em minhas redes sociais e terei prazer em aprofundar o tema.
Evitando armadilhas no caminho
Para manter foco e consistência no mundo dos investimentos, é importante você estar ciente de que o mercado financeiro está cheio de armadilhas emocionais.
A cada novo ciclo, surgem promessas mirabolantes de estratégias “infalíveis” que seduzem pela linguagem e apelos que mexem com o que há de mais humano e vulnerável em nós: a ganância, o medo e o desejo de uma solução fácil.
Como nos alertam nomes como Daniel Kahneman, ganhador do Nobel de Economia, e Nassim Taleb, estatístico matemático e escritor, seu cérebro tende a construir narrativas que fazem sentido para você, mesmo que estejam longe da realidade. É o que a psicologia econômica chama de “ilusão de compreensão”. E isso é perigosíssimo.
Para investir bem, você não precisa de uma boa história, mas de consciência e estratégia clara. É preciso resistir à tentação de seguir “dicas quentes” e promessas vazias e cheias de conflitos de interesse. E o mais importante: estudar o essencial para ter autonomia em suas decisões.
A disciplina como diferencial
Para o investidor comum, a mensagem é clara: o conhecimento é seu maior aliado. Não se deixe levar por promessas de enriquecimento rápido ou por histórias convincentes que não se sustentam na lógica.
Se há uma certeza no mercado é que ele vai oscilar. Vai subir, cair, testar sua paciência e a consistência de suas estratégias. E é aí que muitos desistem. Mas quem entende os fundamentos, respeita seu perfil e segue um plano claro, permanece. E quem permanece ganha dinheiro.
Quem tem disciplina colhe frutos no longo prazo. Os dados mostram que investidores que operam menos, e com mais consciência, tendem a ter melhores resultados do que aqueles que fazem muitas movimentações impulsivas.
A bolsa como ferramenta de multiplicação patrimonial
A bolsa de valores não é um bicho de sete cabeças. Ela é, na verdade, uma poderosa aliada de quem busca multiplicar patrimônio ao longo do tempo, participando do crescimento real das empresas.
É claro que há riscos, mas eles são gerenciáveis. E quando o investidor se mune de conhecimento, assume uma postura racional e constrói uma carteira alinhada ao seu perfil e objetivos, o risco deixa de ser um obstáculo e passa a ser um fator controlável.
Investir em ações não tem nada a ver com tentar prever o futuro e adivinhar quais ações vão se valorizar. Ao contrário disso, trata-se de um exercício contínuo de paciência, foco e constância. E isso começa com uma decisão: estudar, começar pequeno e construir sua jornada com disciplina.
As opiniões contidas nessa coluna não refletem necessariamente a opinião da B3
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