Organizar as contas
Liberdade financeira: o que te impede de viver sem medo do final do mês?
Educação financeira significa autonomia e empoderamento. Com ela vem a clareza de que não é preciso ser rico para investir e ter estabilidade. Precisa, sim, de informação, disciplina e planejamento

Professor Mira
Especialista em finanças e investimentos, investidor profissional, analista CNPI-T (Anbima), com pós-graduação em pedagogia empresarial, MBA em Gestão de Investimentos e profissional ANBIMA CPA-10 e CPA-20. Empresário, palestrante e escritor. Desde 2019, seus cursos já impactaram a vida de mais de 50 mil famílias pelo mundo.
Imagine acordar numa segunda-feira e saber que o dinheiro não é um problema. Nem hoje, nem amanhã. Sem medo de boletos, sem depender do próximo salário para sobreviver, sem aquele nó no estômago toda vez que o cartão passa. Parece um devaneio distante? Para a maioria dos brasileiros, ainda é. Mas por que é tão difícil alcançar a tão sonhada liberdade financeira? A resposta vai além da renda baixa – ela mora também na ausência de educação financeira e no modo como nos relacionamos com o dinheiro.
Como diz o economista Muhammad Yunus, empreendedor social e banqueiro que ganhou o Prêmio Nobel da Paz de 2006: “A pobreza não está apenas na falta de renda, mas na falta de acesso à informação e oportunidades para tomar decisões que mudem a vida.”
O cenário atual: um Brasil sem colchão
De acordo com pesquisa realizada em 2024 pela Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi), pelo menos 45% dos brasileiros revelam ter dificuldades em reduzir despesas e guardar dinheiro. Além disso, 35% declaram que lidar com despesas imprevistas é um obstáculo ao planejamento financeiro.
Com teor semelhante, pesquisa do Datafolha realizada no final de 2023 revelou um dado alarmante: 67% das pessoas não têm nenhuma reserva de emergência. Apenas 10% conseguiriam manter o básico por até seis meses. E só 6% poderiam viver um ano sem novas fontes de renda.
Não é difícil entender o porquê. A renda média nacional gira em torno de R$ 3.343, segundo o Ipea em seu estudo “Retratos dos Rendimentos do Trabalho”, que analisa dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua).
Com esse cenário, falar em investir parece ficção científica. Mas o buraco é mais embaixo: o problema também é estrutural. Falta educação financeira, e falta desde cedo.
Por que não aprendemos isso na escola?
Imagina se, no ensino médio, fizessem parte da grade curricular temas como: montagem de orçamento doméstico, como sair das dívidas, como investir com segurança? Certamente a realidade financeira de parte do país seria bem diferente.
Apesar de termos um sistema financeiro robusto e acessível, o Brasil ainda falha em oferecer letramento financeiro como política pública. Enquanto isso, seguimos em um ciclo que mistura desinformação, consumismo e insegurança.
Educação financeira não é luxo. É transformação
Saber lidar com o próprio dinheiro muda vidas. Já vi isso acontecer com centenas de pessoas. Quando alguém entende o básico de orçamento, juros e investimentos, começa a fazer escolhas mais conscientes, evita dívidas desnecessárias e, principalmente, define o que é sucesso com base na própria realidade – não em padrões inalcançáveis ditados pelas redes sociais.
Educação financeira significa autonomia e empoderamento. Com ela vem a clareza de que não é preciso ser rico para investir e ter estabilidade. Precisa, sim, de informação, disciplina e planejamento.
Saúde financeira e emocional caminham juntas
Muito do nosso desequilíbrio financeiro vem da tentativa de comprar aprovação social. A boa notícia? É possível sair desse ciclo.
Reflita: o que realmente é essencial para sua vida? O que te traz qualidade de vida, felicidade e saúde mental? Cada pessoa tem uma régua diferente. E é com essa régua pessoal que o seu orçamento deve ser construído.
A medida da independência financeira é quanto custa a vida que você deseja ter. Portanto, autoconhecimento, bom senso e equilíbrio são a chave para um planejamento financeiro eficiente.
A suficiência que liberta
Enquanto perseguimos o ideal de riqueza como um fim em si mesmo, viveremos numa corrida infinita. Sempre haverá um carro mais caro, um bairro mais nobre, uma viagem mais luxuosa. Mas quando você redefine sucesso como “ter o suficiente para viver bem, com segurança e liberdade”, aí sim, você começa a jornada rumo à verdadeira independência.
Quando aprendemos a ressignificar nossa relação com o dinheiro e paramos de nos guiar por um imaginário coletivo de vida que parece comercial de resort, compreendemos que o ápice da satisfação é a suficiência. E este é um conceito muito importante.
E não se trata de sacrifício autoimposto, quaisquer que sejam os itens essenciais para sua vida devem ser mantidos no seu orçamento e devidamente precificados. Ao colocar a independência financeira dentro de uma perspectiva quantificável de suficiência, ela se torna tangível.
Ao contrário, quando a meta é simplesmente riqueza, algo subjetivo, quanto mais avançamos no padrão de vida, mais patamares desejamos. E isso se transforma em uma busca infinita, geralmente pautada por padrões externos a nós, o que certamente não traz liberdade emocional e nem financeira.
As opiniões contidas nessa coluna não refletem necessariamente a opinião da B3
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