Investir melhor
Professor Mira: o poder invisível da Psicologia Financeira
Professor Mira
Investidor profissional, Analista CNPI-T (Apimec), mestrando em Economia, com MBAs em Gestão de Investimentos, Análise de Investimentos e Educação Financeira. Empresário, sócio do Clube FII e do Grana Capital, escritor best-seller e educador financeiro com cursos que já formaram mais de 50 mil alunos pelo mundo. Está nas redes sociais como @professormira
Quantas vezes você já pensou: “Se eu ganhasse mais, meus problemas financeiros acabariam?”
Morgan Housel, autor de A Psicologia Financeira, provavelmente sorriria antes de responder: “Talvez não.”
Segundo ele, o dinheiro é muito menos sobre matemática e muito mais sobre comportamento. Nossas decisões financeiras não nascem de fórmulas, mas das histórias que vivemos, das crenças que herdamos e das emoções que, muitas vezes, nem percebemos que nos conduzem. E entender isso muda tudo, pois quando falamos de dinheiro, estamos falando sobre gente.
O que realmente significa ser rico
Housel começa o livro com uma provocação que parece simples, mas é bem profunda: ser rico não é o mesmo que parecer rico. Eu gosto muito dessa reflexão, pois nos tempos atuais, e especialmente entre muitos influencers que se dizem educadores financeiros, a necessidade de parecer rico para legitimar-se como autoridade tem virado uma verdadeira febre.
Com isso, infelizmente aqueles que deveriam dar o exemplo são os que acabam impulsionando as pessoas para decisões nem sempre muito inteligentes. Vivemos rodeados por símbolos de sucesso, como o carro do ano, a viagem para o exterior, o restaurante da moda, o relógio caro, e é fácil confundir a aparência de prosperidade com a verdadeira liberdade financeira.
Mas a riqueza real, como enfatiza Housel, é aquilo que ninguém vê: o dinheiro guardado, o tempo livre, a tranquilidade de escolher o que fazer com o próprio dia. É o dinheiro que você não gasta. Nas palavras dele, “riqueza é o que sobra depois que você mostra o que comprou.”
Essa distinção, embora simples, é poderosa. Pensa comigo: quando você vê um influencer ostentando objetos caríssimos, a única coisa que sabemos dali é o quanto ele gasta, e não o quanto ele tem. E gastar muito, qualquer um de posse de um cartão de crédito e sem apego ao score no Serasa, consegue gastar.
A premissa de Morgan Housel muda a pergunta que fazemos a nós mesmos: “O que eu realmente quero quando busco ter mais dinheiro?” Segurança, reconhecimento, status, controle? A resposta é diferente para cada pessoa, mas é ela que, silenciosamente, orienta a maioria das nossas decisões.
A ilusão do “eu teria feito diferente”
Cada pessoa carrega uma biografia financeira, uma história moldada pelas circunstâncias em que cresceu. Quem viveu a escassez tende a ver o dinheiro como sinônimo de sobrevivência; quem sempre teve fartura, talvez o veja como ferramenta de prazer ou liberdade.
O fato é que ninguém investe, gasta ou poupa em um vácuo racional. Fazemos isso movidos por experiências, medos e referências do passado ou desejos imediatos. Em outras palavras, a forma como lidamos com o dinheiro é uma biografia disfarçada de extrato bancário.
Housel conta uma história bem famosa de um zelador norte-americano que viveu de forma simples, sem grandes luxos, e morreu milionário. Ele nunca buscou rentabilidades espetaculares, apenas manteve o hábito de investir pequenas quantias, com paciência e consistência, deixando o tempo fazer o trabalho pesado.
E essa história é interessante, pois ilustra o ponto central do livro: o comportamento vence a inteligência.
O paradoxo do sucesso
Morgan Housel argumenta que sucesso financeiro não nasce de genialidade, mas de boas decisões repetidas por tempo suficiente. É um jogo de paciência que premia quem tem consistência e humildade, virtudes silenciosas em justamente por isso, muito raras. Já a ganância e a pressa, por outro lado, fazem barulho e arruínam fortunas.
Ele escreve: “Não é necessário ser brilhante para ficar rico, mas é essencial não ser tolo.” E no mundo dos investimentos isso normalmente significa que o investidor médio que permanece no jogo costuma vencer o gênio que tenta prever o futuro. E é aqui que entra uma lição ainda mais valiosa: ficar rico é uma coisa, continuar rico é outra.
Você não levará mais do que dez minutos de pesquisa na internet para identificar inúmeros casos famosos de pessoas que ganharam fortunas e poucos anos depois, já não tinham mais nada. Isso é algo muito comum, pois a manutenção da riqueza exige mais controle emocional do que habilidade técnica e humildade para reconhecer o papel do acaso.
O risco invisível e o acaso
O acaso é o personagem silencioso que habita todas as histórias financeiras. Muitos gostam de atribuir o próprio sucesso à competência, mas subestimam o peso da sorte, do contexto histórico, das oportunidades que cruzaram o caminho na hora certa, dos privilégios ou mesmo das crises que não enfrentaram.
Housel não usa o acaso para desmerecer o mérito de ninguém, mas para defender algo mais nobre: a humildade de reconhecer que o controle é sempre parcial. Essa consciência torna as pessoas mais prudentes ao planejar e mais empáticas ao julgar.
Ter essa clareza também nos lembra da importância da margem de segurança, aquele colchão que amortece os imprevistos da vida que, em algum momento, invariavelmente irão acontecer. E é por isso que estar preparado não é pessimismo, mas estratégia.
A busca pela suficiência
Entre todos os conceitos do livro, talvez nenhum seja tão interessante e desafiador quanto o de “suficiência”, o ponto em que o bastante é realmente o bastante. O problema é que esse ponto raramente é fixo. A cada nova conquista, nossa régua muda. Ganhamos mais, gastamos mais, e a linha de chegada parece sempre se afastar.
É o que os economistas chamam de lifestyle creep: a escalada silenciosa do padrão de vida, quando o dinheiro deixa de ser ferramenta e passa a medir o nosso valor pessoal, o desejo de mais se transforma em prisão.
Housel lembra que não há nada de errado em querer crescer, o perigo está em não saber parar. Foi o que aconteceu com Bernard Madoff, que tinha milhões, mas perdeu tudo porque nunca encontrou o suficiente.Isso para ficarmos em um único exemplo, mas na verdade, temos vários.
O dinheiro como espelho
No fim das contas, o dinheiro é um espelho. Ele reflete nossos valores, nossos medos e as prioridades que nos movem, ou seja, quem somos quando ninguém está olhando. Sendo assim, cuidar das finanças é, acima de tudo, um exercício de autoconhecimento.
No livro A Psicologia Financeira você não encontra atalhos ou fórmulas mágicas, mas uma proposta simples e ao mesmo tempo desafiadora: aprender a olhar para o dinheiro com humanidade.Não como régua de performance, mas como reflexo do que toca no mais íntimo e profundo de nosso ser.
Para começar a mudar a relação com o dinheiro é preciso aceitar que somos emocionais, imperfeitos e contraditórios, e que o sucesso financeiro, na verdade, nasce da harmonia entre razão e emoção.
Para muita gente, o segredo certamente não está em ganhar mais, mas em precisar de menos, pois no fim, o verdadeiro valor do dinheiro não está nas coisas que ele compra mas na liberdade que ele pode nos proporcionar.
*As opiniões contidas nessa coluna não refletem necessariamente a opinião da B3
Quer simular investimentos no Tesouro Direto? Acesse o simulador e confira os prováveis rendimentos da sua aplicação. Se já é investidor e quer analisar todos os seus investimentos, gratuitamente, em um só lugar, acesse a Área do Investidor.