Investir melhor
O preço do amanhã: tempo é dinheiro?

Professor Mira
Investidor profissional, Analista CNPI-T (Apimec), mestrando em Economia, com MBAs em Gestão de Investimentos, Análise de Investimentos e Educação Financeira. Empresário, sócio do Clube FII e do Grana Capital, escritor best-seller e educador financeiro com cursos que já formaram mais de 50 mil alunos pelo mundo. Está nas redes sociais como @professormira
Imagine viver em um mundo onde o tempo literalmente é dinheiro, e perder um minuto pode custar sua vida. Essa é a premissa central do filme O Preço do Amanhã, um longa que apesar de antigo (2011) tem um roteiro que o torna atemporal.
A proposta do filme é uma distopia: todas as pessoas param de envelhecer aos 25 anos de idade, e a partir daí, um display implantado no braço começa a funcionar, contando quanto tempo de vida ainda resta. As pessoas vivem apenas enquanto tiverem “créditos de tempo” no pulso. O trabalho é remunerado em horas que utilizam para pagar suas despesas cotidianas e morrem quando zera o relógio.
Trata-se de um filme de ficção e a narrativa pode parecer distante, mas serve como poderosa analogia para refletirmos sobre nosso comportamento financeiro, nosso consumo e, especialmente, sobre a forma como acumulamos recursos pensando no futuro. Afinal, na vida real, o tempo e o dinheiro são igualmente finitos e muitas vezes vivemos como se não fossem.
Tempo: a moeda invisível que você gasta todos os dias
No universo do filme, o tempo é o recurso supremo e gastá-lo sem propósito é, literalmente, jogar horas de vida no lixo. Na nossa realidade, o tempo que dedicamos ao trabalho é convertido em dinheiro. Ou seja, vendemos horas de vida em troca de um recurso que, além de bancar nossas despesas essenciais, se bem usado, pode financiar conveniência, saúde, conforto e liberdade.
A diferença entre a ficção e nossa realidade é a forma de visualização. No filme, os personagens enxergam no próprio braço quanto tempo de vida vale cada escolha. Nós não temos esse display, mas o princípio é o mesmo: toda decisão financeira representa a forma como escolhemos gastar o dinheiro pelo qual trocamos o nosso tempo no trabalho.
Sendo assim, nossa moeda também é o tempo. Trabalhar 12 horas por dia para sustentar um estilo de vida inflacionado por vaidades é, de certa forma, queimar o próprio relógio. É trocar vida por consumo. Gastar absolutamente tudo o que ganha sem investir uma parte dos recursos pensando no amanhã é viver como se o tempo fosse infinito, e sabemos que não é.
Corrida contra as dívidas, uma corrida contra o relógio
A classe baixa do filme vive com urgência, lutando por minutos extras para sobreviver, e qualquer consumo de tempo feito sem critério significa ter que trabalhar em dobro para recuperar esse tempo e poder arcar com suas despesas, ou pior do que isso, pode significar o fim.
Na vida real não é diferente. Quem consome sem pensar acaba preso a uma corrida parecida, mas com boletos, não com relógios. Parcelamentos infinitos, uso indiscriminado do crédito, dívidas silenciosas: tudo isso representa uma corrida interminável para pagar o que já foi consumido. Nesse processo, perde-se a liberdade, tempo de qualidade com a família, saúde emocional e oportunidades de crescimento, pois o seu tempo se torna o ativo utilizado para fazer mais e mais dinheiro e você segue na roda dos ratos até o último dia de vida.
Investir é fazer o tempo correr a seu favor
Viver o presente é muito importante. Afinal, você troca seu tempo por trabalho justamente para desfrutar uma vida confortável e farta no presente. No entanto, se o seu foco forem exclusivamente os gastos imediatos, isso se torna quase como viver numa roleta emocional e financeira.
Que garantia você tem de que ao longo do tempo continuará com a mesma energia para seguir produtivo? E mesmo que continue, não tem controle sobre quais oportunidades estarão disponíveis para você. A única variável sob seu controle é o agora, é o uso que faz do seu tempo presente.
É aqui que entra um dos maiores segredos da educação financeira: o tempo pode trabalhar para você.
Enquanto no início da vida financeira você precisa trocar tempo por dinheiro, com o passar dos anos, e com investimentos consistentes, você começa a fazer o caminho inverso. É o dinheiro que passa a gerar mais dinheiro, por meio do poder dos juros compostos.
Esse efeito é como ter um pequeno “relógio de vida” que não apenas não zera, como se recarrega sozinho. Quanto antes você começa, maior é o potencial desse motor invisível de multiplicação. Por isso, investir não é só um ato de disciplina — é um pacto com o seu futuro.
Planejamento financeiro é seu relógio de sobrevivência
Os cartões de crédito criam uma sensação ilusória de abundância. Ao utilizá-lo e, principalmente, ao parcelar compras com ele, você livra seu cérebro da dor do pagamento. Inúmeros estudos de economia comportamental apontam que quando a sensação de “perda” do dinheiro é postergada no tempo, temos a tendência de gastar mais. Essa ilusão é perigosa: anestesia decisões e adia responsabilidades.
Mas essa ilusão é perigosa. Toda dívida é um empréstimo de tempo futuro, e o cobrador sempre vem, com juros.
Viver preso a esse ciclo leva a um processo em três estágios:
- Consequências externas: contas acumuladas, queda na qualidade de vida, privações cotidianas.
- Sentimentos internos: culpa, ansiedade, sensação de impotência.
- O pior cenário: desistir de sonhos, aceitar um estilo de vida limitado, viver apenas para pagar contas.
Na vida real, é a educação financeira e a disciplina decorrente dela que irão ajudar você a equilibrar esse “relógio”, invertendo a contagem e usando o tempo a seu favor.
Planilhas, aplicativos, metas precificadas e controle de orçamento são ferramentas que ajudam a construir um “estoque de tempo”, ou seja, uma reserva financeira para emergências e objetivos futuros. Financeiramente falando, quem planeja vive mais.
Planejar é programar seu relógio para durar mais
O filme é ficção, mas o alerta é real: quanto do seu tempo você está vendendo para custear sua vida? Você tem controle sobre esse número? Sabe a quantas horas do seu trabalho equivalem cada uma das despesas que faz no cotidiano?
Saber isso muda tudo! Você começa a refletir melhor quanto de energia e tempo está disposto a trocar por consumo imediato e quanto deseja investir para um futuro com segurança e estabilidade.
No filme, o protagonista arrisca a própria vida para tentar redistribuir o tempo entre os mais pobres. Mas, na vida real, nenhum super herói virá te salvar, e cabe a você gerenciar suas escolhas com inteligência para seu futuro.
Cada decisão financeira que você toma hoje é como adicionar ou subtrair tempo do seu próprio relógio de vida. Planejar, investir e controlar seus gastos é como estender seus próprios minutos e presentear o seu “eu do futuro” com mais possibilidades e tranquilidade.
O filme O Preço do Amanhã está disponível no streaming. Assista, reflita e depois me conta o quanto isso mexeu com a forma como você vê a frase “tempo é dinheiro”.
As opiniões contidas nessa coluna não refletem necessariamente a opinião da B3
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