Investir melhor
Professor Mira: Quando a euforia encontra a estratégia. O que os recordes da bolsa nos ensinam sobre investir
Mesmo em meio a recordes históricos, o investidor consciente sabe que o segredo não está em prever o próximo movimento da bolsa mas em estruturar uma carteira sólida, diversificada e preparada para qualquer cenário
 
               Professor Mira
Investidor profissional, Analista CNPI-T (Apimec), mestrando em Economia, com MBAs em Gestão de Investimentos, Análise de Investimentos e Educação Financeira. Empresário, sócio do Clube FII e do Grana Capital, escritor best-seller e educador financeiro com cursos que já formaram mais de 50 mil alunos pelo mundo. Está nas redes sociais como @professormira
O Ibovespa ultrapassou ontem, pela primeira vez, os 147 mil pontos, em um fechamento histórico, marcando o 16º recorde do índice em 2025. O cenário global de otimismo, com expectativa de corte de juros nos Estados Unidos e uma possível trégua comercial entre Donald Trump e Xi Jinping, impulsionou o apetite por risco.
Enquanto isso, no Brasil, o avanço das pautas fiscais e o ambiente político mais estável deram fôlego adicional ao mercado. Em meio a esse pano de fundo, investidores celebram, e não é para menos.
Mas, em momentos de euforia, a história nos convida a uma pausa, e como educador, eu não poderia deixar de trazer esse enfoque. Afinal, se há algo que os grandes nomes das finanças nos ensinaram ao longo da história, é que os recordes da bolsa são mais um lembrete de prudência do que motivo para empolgação descuidada.
Markowitz e a importância de uma estrutura sólida
Harry Markowitz, o pai da Teoria Moderna do Portfólio, revolucionou o pensamento financeiro ao mostrar que o risco não é eliminado, mas sim gerenciado. Ele ensinou que o segredo não está em escolher “a ação certa”, mas em construir um portfólio equilibrado, que combine diferentes ativos para reduzir a volatilidade total.
Quando o mercado sobe de forma consistente, como agora, é fácil esquecer essa lição. O investidor tende a aumentar sua exposição à renda variável, acreditando que o risco diminuiu. É aí que mora o perigo.
Markowitz lembraria: “O retorno esperado de um portfólio não depende apenas dos retornos individuais, mas de como esses ativos se relacionam entre si.” Ou seja, a diversificação continua sendo o único almoço grátis do mercado.
Dalio e o poder de abraçar a volatilidade
Décadas depois, Ray Dalio, fundador da Bridgewater Associates, ampliou essa visão. Para ele, a volatilidade é uma aliada, não uma inimiga. O investidor que entende os ciclos do mercado aprende a conviver com as oscilações e até a usá-las a seu favor.
Dalio defende o conceito de risk parity, ou “paridade de risco”, que propõe equilibrar a exposição da carteira de acordo com o risco de cada ativo, e não apenas com o capital investido. É uma forma de aceitar que o mercado é imprevisível, mas preparar-se para qualquer direção que ele tome.
Em momentos de topo, essa filosofia é um lembrete valioso: o verdadeiro investidor de longo prazo não tenta “surfar” a onda da vez. Ele constrói um barco que aguente o mar revolto.
Recordes passam. Estratégias permanecem.
Todo novo recorde vem com uma armadilha emocional: a sensação de que o ciclo de alta é eterno. Mas os mercados são feitos de ciclos e a próxima correção é apenas uma questão de tempo.
Os grandes investidores sabem disso. Por isso, não medem sucesso em pontos do Ibovespa, mas em resiliência ao longo dos anos. Markowitz ensinou a matemática dessa resiliência; Dalio, a psicologia por trás dela.
Investir é um exercício de paciência, método e autoconhecimento. É saber que, em meio à euforia ou ao pânico, o que protege seu patrimônio é a estratégia — não o sentimento.
No fim, a serenidade e visão de longo prazo vencem
A bolsa é um reflexo da vida: quem busca atalhos, se perde; quem constrói com constância, colhe resultados.
Os recordes do Ibovespa são uma boa notícia para o país e para os investidores, mas também um lembrete de que a prosperidade real vem do processo, não do momento.
Como diria Ray Dalio, “o maior erro dos investidores é acreditar que o que aconteceu recentemente continuará acontecendo”. E Markowitz completaria: “diversificação é a defesa contra a incerteza”.
Em outras palavras: quem entende o risco, investe em paz. Quem ignora, investe por sorte.
*As opiniões contidas nessa coluna não refletem necessariamente a opinião da B3
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