Organizar as contas
Riqueza e Independência Financeira: você sabe a diferença?

Professor Mira
Investidor profissional, Analista CNPI-T (Apimec), mestrando em Economia, com MBAs em Gestão de Investimentos, Análise de Investimentos e Educação Financeira. Empresário, sócio do Clube FII e do Grana Capital, escritor best-seller e educador financeiro com cursos que já formaram mais de 50 mil alunos pelo mundo. Está nas redes sociais como @professormira
Pode parecer estranho à primeira vista, mas riqueza e independência financeira não são sinônimos. Entender essa diferença pode mudar completamente sua forma de lidar com o dinheiro, e especialmente com o consumo.
Fazer um bom planejamento financeiro é mais do que organizar números, produtos financeiros e metas. Envolve fazer escolhas alinhadas com quem você é e com o que realmente importa para sua vida. Não com o que esperam de você. E é aí que muita gente se perde.
O que é riqueza para você?
O imaginário coletivo, via de regra, nivela a percepção de riqueza por alguns símbolos: casas luxuosas, carros caríssimos, roupas de grife, viagens paradisíacas. Mas, será que isso realmente define o que é riqueza?
A verdade é que riqueza envolve uma perspectiva pessoal complexa e altamente subjetiva.
Quando eu morava numa comunidade carente do Rio de Janeiro, dormindo em um colchonete no chão da sala e me vestindo com roupas doadas, minha percepção de riqueza era morar no asfalto, numa casa em que não chovesse dentro, ter uma cama confortável, comida farta, um bom carro, viajar de avião… Para alguém que não tinha nada, isso parecia o auge.
Talvez para uma pessoa que more numa casa em condomínio fechado de classe média alta, tenha um bom carro (financiado), e faça uma viagem de férias por ano parcelando as contas no cartão de crédito, riqueza pode significar uma mansão à beira-mar, viagens de primeira classe para lugares da moda, jantares em restaurantes estrelados, relógios que custam mais que um apartamento. Percebe? A régua muda de acordo com a perspectiva de onde se olha.
O fato é que em nossa sociedade, a riqueza está sempre pautada em possuir coisas e, de preferência, poder ostentá-las. E isso muitas vezes nos faz acreditar que pessoas que vivem de aparências sejam ricas, quando na verdade, boa parte delas, são apenas endividadas no cartão e escravas de um padrão de vida irreal.
E não estou dizendo com isso que dinheiro não traz felicidade ou que não tenha importância. Claro que é importante! É através dele que você consegue proporcionar qualidade de vida e estabilidade para si e para quem ama.
Almejar ter mais do que se tem pode ser altamente motivador. Contudo, ter inteligência para diferenciar desejo e necessidade é o primeiro passo para definir um verdadeiro plano de independência financeira.
O que vem antes da riqueza: o segredo que muda tudo
Vou te dizer uma coisa que subverte o senso comum: não é ficar rico que vai te dar independência financeira, mas sim o inverso, alcançar independência financeira abrirá os caminhos para ficar rico. Compreender isso muda seu jogo.
Você se torna financeiramente independente quando a renda vinda de seus investimentos é suficiente para custear o padrão de vida que você definiu como ideal para ter tranquilidade e segurança.
Por isso, comece definindo metas realistas quanto ao que é um padrão de vida que atende suas necessidades para não depender de emprego, pensão de aposentadoria ou quaisquer outros meios de gerar recursos para bancar sua vida.
Quando você foca em independência financeira e não apenas em acumular riqueza, a meta se torna muito mais concreta. Dá pra medir, calcular, planejar. Fica tangível.
Você não será livre enquanto não organizar isso
Quando sua renda passiva custeia sua vida, você tem tranquilidade para definir novas metas que podem, inclusive, ser a busca por fortuna. Não há nada de errado em ter esta ambição, desde que a riqueza não seja um fim em si mesma.
Como bem sabemos, a riqueza não tem limite superior. Quando se trata de viver bem e ter acesso a luxos, não há barreiras para os valores que se pode empenhar nisso. Entretanto, quando você coloca apenas a riqueza como meta, ela se torna intangível e muito difícil de alcançar.
Você não precisa abrir mão do que ama. Apenas entenda o que vem primeiro.
Esqueça os conselhos malucos de quem te diz para economizar no cafezinho para enriquecer. Quem tem fala isso não sabe fazer conta ou não está sendo honesto.
O foco não é economizar em absolutamente tudo, mas sim em entender o que faz sentido pra você, entender seu orçamento pessoal e definir suas prioridades.
Busque compreender o que são necessidades genuinamente suas e o que é pressão social. Enquanto você tiver como prioridade viver de aparências para impressionar os outros, não vai trilhar o caminho da liberdade financeira.
A virada acontece quando você ressignifica sua relação com o dinheiro. Quando paramos de nos pautar por um imaginário coletivo de vida que parece comercial de resort, compreendemos que o topo da curva de satisfação é a suficiência, e este é um conceito muito importante.
O peso do dinheiro na sua saúde mental
Um estudo recente do Raio-X do Investidor Brasileiro mostrou que 51% da população está sob forte estresse financeiro, 37% não consegue dormir adequadamente por isso, e 50% trabalha excessivamente apenas para pagar contas.
É óbvio que inúmeros fatores socioeconômicos históricos estão presentes nessa questão, mas um ponto que chama atenção é trazido por uma outra pesquisa, realizada este mês pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em parceria com a Offerwise Pesquisas, que revelou que 27% dos entrevistados admitem gastar mais do que podem para comprar presentes.
Isso não faz nenhum sentido e evidencia o quanto a pressão social pode conduzir a escolhas ruins quando não se tem metas claras.
Talvez você não precise de mais. Precise de clareza
Quando você quantifica sua independência financeira, ela se torna tangível. Diferente do que acontece quando a meta é simplesmente riqueza, que além de muito subjetiva, é algo em permanente mudança de escala.
É natural que ao avançar degraus no padrão de vida, você passe a desejar novos patamares, mas quando isso não é transformado em meta com preço e prazo, torna-se uma busca infinita, geralmente pautada por padrões externos, pressão social e necessidade de provar algo aos outros.
Não existe independência financeira sem método. Ela exige clareza de propósito, inteligência emocional para lidar com as tentações do consumo e maturidade para fazer escolhas alinhadas com a vida que você quer, e não com a imagem que os outros esperam.
Mais do que acumular dinheiro, trata-se de construir autonomia. E isso começa quando você decide parar de reagir às circunstâncias e começa, de fato, a planejar seu próprio caminho.
As opiniões contidas nessa coluna não refletem necessariamente a opinião da B3
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