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Risco de crédito em renda fixa: o que você precisa saber antes de investir


Professor Mira

Professor Mira

Investidor profissional, Analista CNPI-T (Apimec), mestrando em Economia, com MBAs em Gestão de Investimentos, Análise de Investimentos e Educação Financeira. Empresário, sócio do Clube FII e do Grana Capital, escritor best-seller e educador financeiro com cursos que já formaram mais de 50 mil alunos pelo mundo. Está nas redes sociais como @professormira


Investir em renda fixa, para muitos, é sinônimo de segurança e previsibilidade. E em ciclos de alta da Selic, como o que estamos atualmente, as taxas super atrativas fazem com que os investidores negligenciem a diversificação, focando exclusivamente na rentabilidade supostamente livre de risco. 

Acontece que não existe investimento livre de risco, nem mesmo na renda fixa. Um dos mais importantes, e muitas vezes pouco compreendido, é o risco de crédito. Entender o que ele significa e como avaliá-lo é fundamental para proteger seu patrimônio e tomar decisões conscientes.

O que é risco de crédito?

Em termos simples, risco de crédito é a possibilidade de o emissor do título não honrar os pagamentos prometidos. Quanto maior a probabilidade de inadimplência, maior o risco, e geralmente, maior a remuneração oferecida para compensar o investidor.

Mesmo produtos de renda fixa podem variar bastante nesse aspecto. Um CDB emitido por um banco grande, por exemplo, tem risco muito menor do que uma debênture de uma empresa de médio porte ou um FIDC com créditos de diversos devedores. Entender o risco de crédito é, portanto, entender a saúde financeira e a solidez do emissor.

Principais produtos submetidos a risco de crédito

Embora todos os títulos de renda fixa tenham algum risco, existem categorias que dependem diretamente da capacidade do emissor de pagar:

  • CDBs e LCIs/LCAs: títulos emitidos por bancos. O risco de crédito depende do tamanho e da solidez da instituição. No caso de bancos menores, existe o risco de inadimplência, mas há a proteção do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) para valores até R$ 250 mil por CPF, por instituição, limitado a um total geral de R$ 1 milhão por CPF.
  • Debêntures: títulos emitidos por empresas para captar recursos no mercado. São mais arriscadas, pois dependem da saúde financeira da empresa emissora. Podem ter garantias adicionais, como imóveis ou recebíveis, mas não contam com proteção do FGC.
  • CRI e CRA (Certificados de Recebíveis Imobiliários e do Agronegócio): títulos lastreados em recebíveis, como aluguéis, financiamentos imobiliários ou vendas agrícolas. Podem ser isentos de imposto de renda para pessoa física, mas o risco de crédito varia conforme a qualidade do lastro e a existência de garantias.
  • FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios): fundos que compram créditos de empresas ou instituições, como duplicatas ou parcelas de empréstimos. O risco depende da carteira de direitos creditórios, da diversificação e da estrutura do fundo (sênior, mezanino ou subordinado).

Como identificar o risco de crédito de um investimento

Antes de aplicar seu dinheiro, é essencial avaliar alguns pontos:

  1. Quem é o emissor? Instituições financeiras grandes e empresas sólidas tendem a apresentar menor risco. Já empresas menores ou projetos concentrados exigem cuidado.
  2. Qual é o lastro ou garantia? Alguns produtos possuem garantias reais, como imóveis, recebíveis ou cotas subordinadas que absorvem perdas antes de você. Esses elementos reduzem o risco.
  3. Qual é o rating ou classificação de risco? Agências de rating, como Fitch, Moody’s ou Standard & Poor’s, avaliam a capacidade do emissor de honrar seus compromissos. Quanto maior o rating, menor o risco. As classificações vão de AAA, que é como se fosse a nota 10 em segurança, até letras como B ou C, que mostram maior risco de calote. No meio do caminho, existem degraus intermediários (AA+, A, BBB, BB-, etc.), que funcionam como notas de prova: quanto mais perto do AAA, mais confiável; quanto mais perto do C, maior o risco.
  4. Existe diversificação? Produtos que dependem de poucos devedores ou de um único projeto têm risco maior. Fundos e títulos com múltiplos créditos tendem a ser mais seguros.

4 perguntas fundamentais para o seu gerente ou assessor

Na hora de investir, não basta ouvir que “é seguro” ou “é rentável”. É preciso fazer perguntas claras que te ajudem a entender o produto no qual pretende investir, por exemplo: 

  1. Qual é o risco de crédito do emissor?
    Pergunte sobre a saúde financeira da empresa ou banco que está emitindo o título e, se possível, verifique o rating da operação.
  2. Quais são as garantias ou o lastro do investimento?
    Descubra se existem imóveis, recebíveis, ou cotas subordinadas protegendo seu investimento em caso de inadimplência.
  3. A carteira ou os recebíveis são diversificados?
    Se for um fundo ou CRI, entenda quantos devedores estão por trás do título e se há concentração de risco.
  4. Quais são as consequências em caso de inadimplência?
    Pergunte como o investidor será protegido e qual é o processo de cobrança ou execução das garantias.

Essas são as perguntas essenciais, mas é claro que há muitas outras, e conforme você for se familiarizando com os produtos, mais facilidade terá para identificar o que precisa questionar antes de investir. 

Segurança em investimentos começa com informação

Sua principal arma para mitigar riscos é a informação. Busque aprender sobre os produtos financeiros, estude para entender suas características, vantagens e riscos. Quanto mais você estuda, melhores serão as perguntas que saberá fazer ao receber uma recomendação de investimentos.

Se você dedicar pelo menos uma hora por semana para estudar, eu garanto que em poucos meses você conseguirá fazer boas escolhas de investimentos, sem ficar refém de informações que nem sempre visam os seus interesses. 

No fim das contas, segurança em investimentos não vem apenas da promessa de rentabilidade, mas também da clareza sobre as características de cada produto de investimento e sobre o risco real que você está assumindo.

*As opiniões contidas nessa coluna não refletem necessariamente a opinião da B3

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