Organizar as contas

Sua independência financeira está mais perto do que você imagina


Professor Mira

Professor Mira

Investidor profissional, Analista CNPI-T (Apimec), mestrando em Economia, com MBAs em Gestão de Investimentos, Análise de Investimentos e Educação Financeira. Empresário, sócio do Clube FII e do Grana Capital, escritor best-seller e educador financeiro com cursos que já formaram mais de 50 mil alunos pelo mundo. Está nas redes sociais como @professormira


Você já cansou de fazer planilha, cortar gastos, ver vídeo no YouTube e ainda assim sentir que está parado no mesmo lugar? Talvez o problema não seja você, mas essa ideia distorcida do que é liberdade financeira que muita gente aprendeu a acreditar, simplesmente porque algum influencer resolveu que a vida dele é o gabarito a ser seguido. Desde quando?!

Existe uma ilusão silenciosa que está travando muita gente: a ideia de que liberdade financeira só acontece quando você atinge um número mágico, tipo um milhão na conta e um pôr do sol em Bali.

Essa fantasia vende bem, mas esconde um erro conceitual: acreditar que independência é um destino distante, quando na verdade ela pode ser construída em etapas bem próximas do seu agora.

Liberdade financeira não é um salto, é uma escada

Uma meta grandiosa e distante pode ser paralisante e te levar a adiar o início da jornada, por acreditar que só vale a pena quanto tiver muito a investir. Essa é uma ilusão perigosa que te impede de perceber que cada real investido e cada cota de ação comprada já é um passo em direção à autonomia. 

A chave é desconstruir a imagem de independência financeira como um pote de ouro no final do arco-íris. Esqueça a imagem da bolada final. A independência, de verdade, se parece mais com uma escada, e cada degrau que você sobe já muda o jeito como você vive, decide e sente.

Primeiro degrau: estabilidade emocional

Quando você organiza seus gastos e para de viver no vermelho, algo poderoso acontece: o barulho na sua cabeça diminui. É menos ansiedade no fim do mês, menos briga com boleto, mais clareza para planejar.

Segundo degrau: segurança de curto prazo

Com uma reserva de emergência feita (e ela se torna possível quando você organiza suas contas) os imprevistos não te apavoram. Um cliente atrasou, o salário não caiu no dia certo? Tudo bem. Você respira. Sua reserva está lá. Não é o “número da liberdade”, mas é a paz de saber que o imprevisto não te derruba.

Terceiro degrau: controle

Com o orçamento organizado, você tem pleno controle do que pode e do que não pode assumir. Com isso, não depende mais da ajuda de ninguém. Começa a tomar decisões pautadas no que cabe no seu bolso e sem precisar dar espaço ao que os outros acham que é melhor para a sua vida. Aqui, a liberdade começa a ter gosto de escolha.

É nessa fase que se abrem novas perspectivas. Você pode recusar um emprego ruim. Pode tirar um tempo pra se reinventar. Pode dizer “não” para trabalhos que não trazem alegria ou progresso. Isso já é liberdade, e não tem nada a ver com parar de trabalhar.

Quarto degrau: autonomia total

É aqui que, se quiser, você pode viver só dos seus rendimentos. É quando sua organização e disciplina se consolidam no seu maior projeto: independência financeira total! E o número não precisa ser “o primeiro milhão”. Pode ser menos que isso, mais que isso. Só você pode definir. 

Mas o segredo é: os degraus anteriores também são liberdade. Esperar só por esse último é deixar de viver todas as outras conquistas possíveis.

O erro é ancorar no topo

Na psicologia econômica, esse comportamento tem nome: viés de ancoragem.  Segundo Daniel Kahneman, ganhador do Nobel de Economia, o cérebro humano tende a se fixar em números arbitrários, mesmo quando eles não têm base racional. Ao mirar apenas no “primeiro milhão”, você paralisa. Desvaloriza cada pequeno avanço. E mais: se frustra rápido e tende a desistir no meio do caminho.

Richard Thaler, outro Nobel, já mostrou que o segredo não está em ter grandes somas de dinheiro, mas em criar sistemas simples que funcionam no longo prazo. Rotina, clareza, repetição. É isso que faz muito mais diferença do que a quantia que você consegue guardar todo mês. Confie no processo e, principalmente, nos juros compostos! 

Por onde começar?

Aqui vão três alavancas práticas para subir o primeiro degrau hoje:

  1. Faça uma revisão dos seus gastos fixos: tem assinatura que você nem lembra? Um estilo de vida que exige demais do seu bolso? Cortar excessos não significa viver menos ou viver pior, mas sim, abrir espaço para construir a vida que faz sentido para você.
  2. Monte sua reserva de emergência: estabeleça como meta ter guardado pelo menos seis meses do seu custo de vida. Comece pequeno, mas comece. Essa grana te dá algo raro: tempo pra pensar com calma quando tudo aperta.
  3. Crie uma rotina de aportes: pode ser, por exemplo, comprando um único lote de ações por mês ou até menos! O importante é traçar um plano e manter a constância. Acredite: o motor que fará os investimentos funcionarem a seu favor não é o valor, mas a disciplina.

E o mais importante é algo que eu sempre trago aqui na coluna, e que desejo muito que você compreenda: redefina o que é sucesso pra você. Talvez não seja a cobertura no bairro mais nobre da sua cidade, mas sim trabalhar quatro dias por semana. Ou ter tempo para buscar seu filho na escola. Ou não viver com medo da próxima fatura do cartão.

Liberdade não é o que você tem. É o que você deixa de precisar.

Comece pequeno, mas com intenção e clareza. Sua independência financeira pode começar hoje, ou pode ser que ela já exista e você só não se deu conta porque está com o foco em um número que nem mesmo avaliou se é o seu número ideal

Quando você para de esperar pela independência financeira como um destino mágico e definido pelo que o senso comum acredita ser o modelo, te sobra tempo para construí-la como um caminho.

As opiniões contidas nessa coluna não refletem necessariamente a opinião da B3

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