Commodities
Valorização do ouro: o que explica a alta e como investir?

Professor Mira
Especialista em finanças e investimentos, investidor profissional, analista CNPI-T (Anbima), com pós-graduação em pedagogia empresarial, MBA em Gestão de Investimentos e profissional ANBIMA CPA-10 e CPA-20. Empresário, palestrante e escritor. Desde 2019, seus cursos já impactaram a vida de mais de 50 mil famílias pelo mundo.
O ouro tem batido sucessivos recordes de valorização nas últimas semanas, despertando interesse e muitas dúvidas nos investidores. Mesmo que você não invista no metal, é natural que esteja se questionando se deveria considerar essa opção.
Como toda commodity, o ouro é cotado em dólar e sua volatilidade é influenciada por fatores macroeconômicos e geopolíticos. Além disso, o metal sempre foi visto como uma reserva de valor, especialmente em tempos de crise.
Quando há incerteza no cenário global, investidores tendem a buscar ativos mais seguros, e o ouro se torna um refúgio. Mas será que ele ainda é uma opção viável para compor um portfólio de investimentos?
Por que o ouro está se valorizando?
A valorização do ouro não é aleatória. O seu preço está ligado a uma dinâmica complexa que envolve risco, liquidez e posição do dólar no mercado global. Entre os principais motivos que explicam a alta do ouro, estão:
- Busca por segurança e previsibilidade
Os investidores sempre buscam equilibrar risco e retorno em seus portfólios. Quanto maior o risco de um ativo, maior a expectativa de retorno. Dentro dessa lógica, o ouro ocupa um lugar especial: ele é considerado um ativo seguro em tempos de crise.
Os títulos do tesouro americano são vistos como o ativo de menor risco no mundo, pois os Estados Unidos possuem uma moeda de referência global. No entanto, quando há dúvidas sobre a economia americana ou sobre o papel do dólar como moeda dominante, o ouro passa a ser um refúgio ainda mais seguro, o que naturalmente eleva a procura por ele.
- O papel do dólar na economia global
O dólar norte-americano é a principal referência para a precificação de commodities, incluindo o ouro. Isso significa que qualquer oscilação na força do dólar afeta diretamente o preço do metal.
Quando há um aumento da aversão ao risco global, os investidores saem de ativos financeiros mais arriscados e buscam ativos mais seguros e líquidos. A primeira opção geralmente é o dólar. Entretanto, se a crise se intensificar e a confiança no dólar for abalada, o ouro se torna o ativo preferido, aumentando sua demanda e impulsionando sua cotação.
- Tensão geopolítica e disputa econômica
Além das variáveis econômicas, a geopolítica tem um papel fundamental na valorização do ouro. Conflitos entre países, disputas comerciais e crises políticas fazem com que os investidores busquem ativos mais seguros.
A recente tensão entre os Estados Unidos e os países do BRICS é um exemplo disso. O bloco econômico, que já representa quase 40% do PIB mundial e mais de 57% da população mundial, vem fortalecendo a ideia de um sistema financeiro menos dependente do dólar nas transações comerciais entre países. Isso gera preocupações no mercado e aumenta a procura por ouro como reserva de valor.
Donald Trump, desde sua volta ao poder, tem demonstrado uma postura agressiva contra os BRICS, ameaçando retaliações e medidas econômicas restritivas, criando tensões no mundo inteiro e, consequentemente, instabilidade
- Oferta, procura e psicologia dos mercados
O ouro segue a lei da oferta e demanda: quanto mais investidores buscam proteção no metal, maior sua cotação. Em tempos de crise, bancos centrais e grandes investidores institucionais costumam aumentar suas reservas de ouro, reduzindo a oferta disponível no mercado e elevando seu preço.
Além disso, existe um fator psicológico importante. Em momentos de incerteza extrema, os investidores tendem a questionar a estabilidade do sistema financeiro tradicional. Ou seja, se há riscos sistêmicos, o ouro se torna a alternativa segura, e esse pensamento leva ainda mais pessoas a buscarem segurança no metal, impulsionando sua valorização.
Reserva de valor
O ouro é considerado um hedge e uma reserva de valor porque ele tende a manter ou aumentar o seu poder de compra ao longo do tempo, independentemente das variações da economia, da política ou das crises. Isso se deve a alguns fatores, como:
- Escassez: a quantidade de ouro disponível na natureza é limitada, o que torna o ativo naturalmente valorizado.
- Universalidade: ele é aceito em qualquer lugar do mundo e sua negociação é altamente líquida.
- Independência de governos e instituições financeiras: diferente de moedas fiduciárias, o ouro não depende da estabilidade de governos ou bancos centrais.
- Proteção contra a inflação: em tempos de alta inflação, o ouro preserva o poder de compra dos investidores.
- Segurança em tempos de crise: quando há instabilidade nos mercados, os investidores recorrem ao ouro como proteção patrimonial.
No entanto, é importante que você tenha o cuidado de não usar o ouro como ferramenta de especulação de curto prazo. Seu papel é servir como proteção dentro de uma carteira diversificada.
Formas de investir em ouro no Brasil
Existem várias formas de investir em ouro no Brasil, cada uma com suas particularidades em termos de liquidez, custos e tributação.
- Ouro físico
Consiste na compra de barras, lingotes ou moedas de ouro, adquiridos através de instituições financeiras autorizadas pelo Banco Central.
Nessa modalidade, o investidor tem posse direta do metal, contudo, tem também os custos de armazenamento e segurança, além da necessidade de custódia profissional para garantir autenticidade na revenda.
São acordos de compra e venda do metal para uma data futura, negociados na B3. Eles permitem exposição ao ouro sem necessidade de posse física, mas exigem depósito de margem de garantia.
Uma característica dos contratos futuros é a maior flexibilidade na negociação e possibilidade de alavancagem. Por outro lado, são mais voláteis e, portanto, envolvem maiores riscos, sendo recomendável a investidores com maior conhecimento técnico
- Fundos de investimento em ouro
São fundos que investem em contratos futuros, certificados ou ouro físico. Estão disponíveis em bancos e corretoras, e oferecem acesso simplificado ao ativo
Ao investir nesses fundos, você conta com gestão profissional e maior facilidade na compra e venda, mas é importante que tenha atenção às taxas envolvidas.
- ETFs de ouro
Os ETFs (Exchange Traded Funds) funcionam como ações negociadas na bolsa, mas representam uma quantidade de ouro. São uma alternativa prática e acessível para investir no metal.
A grande vantagem dos ETFs de ouro é a liquidez. Além disso, o custo em relação ao ouro físico é bem menor.
- BDRs de mineradoras
Essa modalidade não envolve investimento direto no ouro, mas sim em empresas do setor de mineração. É uma forma de se expor ao minério sem a necessidade de adquirir fisicamente o mesmo, contudo, há uma camada adicional de risco, pois este fica atrelado à performance da empresa, e não ao ouro em si.
- Certificados de ouro
São títulos emitidos por bancos ou corretoras, representando uma fração de ouro físico armazenado em cofres. O investidor pode resgatar o metal se desejar, entretanto, será sua responsabilidade os custos logísticos e de segurança, bem como os custos de autenticação para revenda no mercado.
Tributação e custos
O investimento em ouro, assim como qualquer ativo, implica em custos operacionais e tributação.
Os custos como taxa de custódia, spread de compra e venda devem ser verificados no ato da negociação, pois tendem a variar entre instituições. Quanto ao imposto de renda sobre o lucro as regras são simples:
A negociação de ouro físico tem isenção de IR até R$ 20 mil por mês, e acima desse valor sofrerão incidência de 15% sobre o lucro. Nos fundos de investimento em ouro, o investidor tem tributação regressiva de 22,5% a 15% sobre o lucro e no caso de ETFs e BDRs o imposto de renda será de 15% para operações comuns e 20% para day trade.
Investir em ouro é uma boa escolha?
A decisão de investir em ouro depende dos seus objetivos. Se o foco for proteção patrimonial e diversificação, o ouro pode ser uma excelente opção, desde que não ultrapasse 5% a 10% da carteira total.
No entanto, é fundamental que você entenda a volatilidade do metal e os custos envolvidos na sua negociação. O ouro não gera rendimentos periódicos e deve ser visto como uma reserva de valor de longo prazo, e não como uma aposta especulativa.
Diante das incertezas geopolíticas e econômicas atuais, a valorização do ouro reflete a busca global por ativos seguros. Para quem deseja proteger o patrimônio contra crises, o metal precioso continua sendo uma alternativa relevante, desde que aderente aos objetivos definidos para seu portfólio.
As opiniões contidas nessa coluna não refletem necessariamente a opinião da B3
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