Organizar as contas

Yolanda Fordelone: 5 luxos que não cabem na minha liberdade financeira

As redes nos ensinaram que sucesso financeiro precisa ser visível. Mas liberdade financeira, na prática, é silenciosa


Yolanda Fordelone

Yolanda Fordelone

Planejadora financeira com certificação CEA (Anbima), Yo Fordelone é formada em economia e jornalismo. Investidora qualificada, alcançou a sua independência financeira aos 36 anos. Em seu Instagram, ajuda outras pessoas a conseguirem mais tempo e liberdade.


O que é liberdade financeira para você? Resolvi começar a coluna desta semana com uma pergunta porque o fim de ano costuma ser esse período em que criamos metas, fazemos balanços e, muitas vezes, confundimos consumo com conquista.

Para muita gente, liberdade financeira é poder comprar tudo o que quiser. Afinal, isso é o que é vendido nas redes sociais. Para mim, ela se parece mais com poder escolher o que não comprar — mesmo quando o dinheiro está disponível. Escolher o que é importante e o que pode esperar.

Ao longo dos anos, conforme a renda cresce e os investimentos começam a bancar parte da vida, surge um convite silencioso: “agora você pode”.

Brinco que a minha liberdade financeira é mais pé no chão, pois não me permito ter alguns luxos:

  • Trocar de carro todo ano: ainda tenho um de 2020 que me atende no que preciso (atividades dos filhos e pela cidade).
  • Viajar para fora sempre: com o real mais fraco, ampliei os destinos nacionais e espacei os internacionais.
  • Frequentar restaurantes caros toda semana: eu gosto de cozinhar e, ao mesmo tempo, economizo. Nesse tópico tenho até uma curiosidade. Quando saio pra um restaurante diferente acabo prestando bastante atenção nos ingredientes para tentar adaptar em casa. Uma vez na Bahia, um chef chegou a me passar a receita do risoto.
  • Ostentar itens de luxo, como relógio e bolsas de grife: está na moda nas redes sociais, mas como penso que os luxos se acomodam e viram rotina, evito entrar nesse ciclo.
  • Ter última versão do celular: sou daquelas que uso até realmente dar algum problema.

E não, isso não tem nada a ver com falta de dinheiro. Tem a ver com clareza.

Ter condição financeira não cria um dever automático de consumo. Nem tudo que cabe no bolso deve, necessariamente, sair da carteira. Nem tudo é emergência para ser consumido assim que surge no mercado.

Cada “sim” para um gasto recorrente vira um “não” para alguma outra coisa: mais tempo livre, mais tranquilidade, mais margem de escolha no futuro. Luxos constantes criam compromissos fixos. E compromissos fixos reduzem liberdade, mesmo quando são prazerosos.

As redes nos ensinaram que sucesso financeiro precisa ser visível. Mas liberdade financeira, na prática, é silenciosa. Ela aparece quando você não precisa provar nada para ninguém. Quando suas decisões não são guiadas por comparação, status ou validação externa.

Então, não se sinta mal se neste fim de ano ver colegas viajando enquanto você folga assistindo séries no sofá.

O dinheiro, quando bem usado, compra conforto, segurança e experiências. Mas, quando usado sem critério, compra ansiedade, rotina inflada e uma falsa sensação de vitória.

Talvez a pergunta certa para o próximo ano não seja “o que eu posso pagar?”, mas sim:

“Isso melhora de verdade a minha vida ou só ocupa espaço nela?”. Não consuma apenas para sair do tédio.

Liberdade financeira não é sobre gastar tudo o que dá. É sobre escolher gastar apenas no que faz sentido — e ter paz com todos os outros nãos.

*As opiniões contidas nessa coluna não refletem necessariamente a opinião da B3

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