Investir melhor
Yolanda Fordelone: Investir agora ou esperar?
Para quem investe no longo prazo, o hábito e a consistência geralmente superam a “esperteza” de tentar cronometrar o mercado
Yolanda Fordelone
Planejadora financeira com certificação CEA (Anbima), Yo Fordelone é formada em economia e jornalismo. Investidora qualificada, alcançou a sua independência financeira aos 36 anos. Em seu Instagram, ajuda outras pessoas a conseguirem mais tempo e liberdade.
A bolsa não para de subir e alcançar novos recordes. Além da dor do arrependimento de não ter aplicado antes, o segundo sentimento que o investidor tem é o da dúvida. A pergunta comum que passa na cabeça de todo mundo nessas horas é: será que devo esperar para investir ou começo agora?
Esperar demais pode ter seu custo, de aprendizado e financeiro. A estratégia para investir muitas vezes não nasce pronta e somente os anos de investimento que ensinam pontos como qual produto é adequado para a estratégia e perfil, onde investir e o que evitar.
Para além desse custo, esperar também gera impacto financeiro. A Charles Schwab, uma das maiores instituições financeiras dos Estados Unidos, fez um estudo sobre o custo real de esperar.
Imagine cinco investidores hipotéticos que, todo início de ano, recebem US$ 2.000 para aplicar durante 20 anos no mercado de ações, até 2024. Como o estudo foi rodado nos EUA, vale lembrar que o índice seguido foi o S&P 500. Cada investidor deles tinha um “estilo” diferente:
- “Pé-quente” (Perfect Timing): sempre investia os US$ 2.000 no dia mais baixo do mercado no ano — ou seja, acertava o “fundo” anual, o melhor momento.
- O “Simples e Consistente” (Invest Immediately): aplicava os US$ 2.000 logo no primeiro dia útil do ano de cada ano sem se preocupar com a cotação.
- O “Mensalista” (Dollar Cost Averaging – DCA): dividia os US$ 2.000 em 12 parcelas e investia todo mês, adotando uma estratégia de fazer preço médio.
- O “Pé-frio” (Bad Timing): acreditava no “mercado sempre vai subir mais” e acabava investindo os US$ 2.000 nos piores momentos, no topo de cada ano. Ou seja, no pior momento pois depois dele investir o índice seguia ladeira abaixo.
- O “Cauteloso” (Stay in Cash): nunca entrava na bolsa. Mantinha o dinheiro em títulos de renda fixa em busca de segurança extrema e do momento perfeito (aquele que nunca chega).
Depois de 20 anos, o patrimônio acumulado por cada perfil dava uma boa noção do custo (ou benefício) de cada estratégia. Como esperado, o investidor de timing perfeito acumulou mais dinheiro. Ao longo de 20 anos, acumulou US$ 186.077.
Porém, surpreendentemente, os que apostaram na consistência de investir no primeiro dia do ano, mesmo sem “acertar o timing”, chegaram muito longe: acumularam US$ 170.555. Repare que a distância para a primeira posição é pequena (apenas US$ 16 mil), com um esforço muito menor. Ou seja, a diferença entre acertar o fundo e investir no primeiro dia do ano, embora real, não era gigantesca.
E vale lembrar: acertar o timing perfeito constantemente durante 20 anos beira o impossível.
Em seguida no ranking aparece o investidor que dividiu o valor ao longo dos meses, tendo acumulado US$ 166.591. Isso mostra que aportes regulares, mesmo em meses de alta, valem muito quando o horizonte é longo.
Quem tentou controlar o mercado e acabou comprando no pior momento (pé-frio) ou quem ficou de fora chegou muito atrás. O “pé frio”, que investiu sempre no pior momento possível, ainda assim terminou com US$ 151.343. Já quem ficou 100% na renda fixa acumulou apenas US$ 47.357. Ou seja, o investidor aplicou US$ 40 mil em 20 anos e lucrou apenas US$ 7 mil. Vale lembrar que nos EUA a taxa de juros é menor do que no Brasil, o que faz a diferença entre a renda fixa e bolsa ser gigantesca.
Em termos simples: para quem investe no longo prazo, o hábito e a consistência (investir assim que receber o dinheiro ou aportar mensalmente) geralmente superam a “esperteza” de tentar cronometrar o mercado.
Muitas vezes achamos que devemos esperar a “hora certa”, ou que temos de acumular muito dinheiro antes de começar. Apenas comece, com pouco e consistentemente, pois a corrida da liberdade financeira é uma maratona e não um tiro de 100 metros.
*As opiniões contidas nessa coluna não refletem necessariamente a opinião da B3
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