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Ata do Copom: incertezas fiscais podem elevar expectativas de inflação

O aumento dos gastos públicos em 2023, a inflação ao consumidor persistente e um cenário internacional adverso preocupam o Banco Central

Dados de madeira formam a palavra Selic
A Selic foi criada em 1979, quando o Brasil vivia um cenário de hiperinflação e o governo buscava maneiras de controlar o problema.

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, voltou a sinalizar na ata da sua última reunião, atenção para o aumento de gastos públicos – que se fortaleceu durante as eleições presidenciais – e da incerteza em relação a trajetória de alta das contas públicas no ano que vem. O cenário internacional, com as perspectivas negativas para o crescimento global, também estão no radar e podem elevar as expectativas de inflação.

Na semana passada, o Copom manteve os juros básicos da economia em 13,75% ao ano pela segunda reunião seguida. A Selic está no maior patamar em seis anos.

Inflação ao consumidor persistente

Na ata divulgada hoje, o Copom voltou a alertar que a inflação ao consumidor continua elevada, apesar da queda recente nos preços concentrada em itens mais afetados por medidas tributárias. Em junho, o governo federal limitou a cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre itens como diesel, gasolina, energia elétrica, comunicações e transporte coletivo. Essa intervenção puxou artificialmente a inflação que ficou negativa nos últimos dois meses.

“Nesse cenário, as projeções de inflação do Copom situam-se em 5,8% para 2022, 4,8% para 2023 e 2,9% para 2024. As projeções para a inflação de preços administrados são de -3,9% para 2022, 9,4% para 2023 e 3,8% para 2024”, prevê o Copom.

+ Inflação controlada: como os Bancos Centrais definem a taxa de juros?

Alta dos gastos públicos

Na ata, o Copom voltou a alertar sobre o aumento dos gastos públicos – intensificado durante as eleições presidenciais. O governo concedeu durante o período eleitoral uma série de benefícios sociais como a ampliação do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600 e o voucher de R$ 1 mil para caminhoneiros e taxistas.

As perspectivas de aumento nos gastos públicos para 2023 também deram o tom da ata. O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez promessas que tem forte impacto nas contas, como a ampliação de gastos sociais, a elevação do salário-mínimo e a correção da tabela do Imposto de Renda.

“É uma ata que vem, apesar de toda euforia que a gente vê desde domingo, em um tom pessimista. Ela desenha uma economia que já não tinha um cenário favorável e que agora, talvez, se torne ainda mais desafiadora com todas as perspectivas de aumento de gastos que podem acontecer nos próximos meses”, explica a professora de economia do Insper, Juliana Inhasz.

Cenário Internacional

As perspectivas internacionais, com as revisões negativas do crescimento global, também estão no cenário inflacionário do Banco Central. Pesam o aperto das condições financeiras das principais economias, a guerra na Ucrânia e a política de combate à Covid na China. 

Selic: 13,75% a.a.

Diante de tantos cenários negativos, muitos investidores se perguntam por que a taxa básica de juros não voltou a avançar no último encontro do Banco Central. A professora de economia do Insper explica que, apesar do ambiente de forte incertezas econômicas e fiscais, os juros em patamares já muito elevados pedem cautela ao Copom.

“O Banco Central segue uma postura conservadora por entender que o cenário se deteriorou, mas que o aumento dos juros nesse momento não traria tanto impacto positivo, frente ao desconforto que certamente causaria”.

E eu investidor?

O aumento na taxa básica de juros, com inflação ainda elevada, tem repercutido de forma negativa no mercado financeiro e traz volatilidade e incertezas. Soma-se a isso o cenário eleitoral, que continua no radar, enquanto o mercado aguarda os nomes da equipe econômica do presidente eleito.

“Essa perspectiva de um fracasso nesse controle inflacionária faz com que as incertezas fiquem mais altas. As falas do Lula trazem uma desconfiança de qual vai ser o tamanho da responsabilidade fiscal desse governo e da manutenção de um ambiente macroeconômica favorável para investimentos. Tenho a impressão, talvez um pouco pessimista, que estamos de um quadro de aumento de riscos que não é irrelevante não.

Quer saber como a alta da Selic afeta as suas ações? Este vídeo pode te ajudar: