“Atribuo quase 100% ao cenário externo”, diz Guerra sobre a apreciação do real frente ao dólar
Gestores debatem desvalorização do dólar e cenário da economia dos EUA
O real tem ganhado valor frente ao dólar ao longo dos últimos meses. Na semana passada, a cotação da moeda americana chegou bateu o menor valor em 14 meses, a R$ 5,38. A Ptax, taxa de câmbio usada pelo Banco Central do Brasil, caiu 12,38% em 2025, segundo levantamento da Elos Ayta Consultoria. O que explica esse desempenho da moeda americana frente ao real? “Atribuo quase 100% da melhora ao cenário externo”, afirmou Felipe Guerra, sócio fundador e CIO da Legacy Capital, durante o Warren Day.
“Acho que o Brasil surfou essa melhora, a gente não fez nada por merecer, na verdade temos feito muita coisa ruim. A melhora é totalmente fruto do externo”, comentou durante o evento. Essa visão, diz ele, fica clara quando se compara o real com outras moedas: “o movimento foi muito parecido”, disse.
Esse cenário acontece depois de um período longo de dólar forte. A moeda americana ganhou valor nos últimos anos, muito a reboque do que o mercado chamou de excepcionalismo americano, quando a economia dos EUA seguia crescendo apesar dos juros elevados. Isso mudou.
“A economia americana não dá sinais de recessão, mas também não está mais crescendo mais que o mundo. Isso traz uma perspectiva mais positiva para aposta em emergentes. Quando a gente olha para frente, passando incerteza de tarifa, a gente olha para ano que vem com uma perspectiva positiva. Menos incerteza da tarifa, juros mais baixos nos EUA, aprovação do pacote fiscal dos EUA, que tem um delta positivo de crescimento”, explicou.
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Bruno Cordeiro, sócio da Kapitalo Investimentos, também comentou a situação da economia norte-americana. Segundo ele, o crescimento segue firme, mas há uma discussão no mundo quanto à concentração de investimentos nos EUA. “Ainda existe interesse de investidores internacionais de buscar locais além dos EUA por diversificação, uma percepção de sobreinvestimento nos EUA”, disse.
“A divulgação de resultados das empresas foi muito boa. Por outro lado, a gente está vendo uma certa demanda de outros países de reduzir a exposição que tem em EUA. Em paralelo, há uma revolução secular na parte de tecnologia, e a gente não pode esquecer que o berço disso são os EUA”, disse Cordeiro.
Rogério Xavier, sócio-fundador da SPX Capital, no entanto, tem uma opinião dissonante. “Não estou tão otimista assim com os EUA, embora margem das empresas esteja positiva, o que eu vejo hoje é um cenário de uma economia em desaceleração. O crescimento do consumo das famílias era de 3% caiu para 1%”, disse.
Segundo o gestor, o impacto das tarifas ainda não se fez presente integralmente na economia americana – e um dos efeitos pode ser o de desacelerar o crescimento e induzir inflação.
“Eu acho que claramente a economia americana está num processo de desaceleração, parte do que a gente viu das tarifas sendo absorvida pelas empresas americanas. O quanto tempo elas vão absorver esses custos e não repassar para clientes eu não sei. Mas fato é que nosso contato com empresas americanas e dirigentes do BC americano nos dizem que empresas não estão conseguindo repassar os custos. Isso vai espremer margens futuras e provavelmente vai levar a desemprego e resultados piores à frente”, explicou.
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