“Cenário de 2024 será de incertezas e atividade desacelerando”, diz Rafaela Vitória, do Banco Inter
Em entrevista ao Bora, economista-chefe afirma que risco fiscal é o maior entrave brasileiro, pois pode afetar a queda dos juros e da inflação. Cenário externo seguirá desafiador
A análise dos cenários na economia e no mercado financeiro são uma ferramenta importante para o investidor se preparar e fazer as melhores escolhas, especialmente em momentos de incertezas. Para saber o que esperar em 2024, o B3 Bora Investir conversou com a economista-chefe do banco Inter, Rafaela Vitória.
Na opinião dela, o processo de queda dos juros e a desinflação no Brasil devem continuar no ano que vem, mas às custas de uma perda de tração na economia. Soma-se a esse cenário, a questão do risco fiscal e do cumprimento da meta de déficit zero das contas públicas.
“O risco fiscal ainda é o principal problema para a economia brasileira, porque no longo prazo a gente não tem uma previsão de como que o ajuste fiscal vai acontecer. (…) No curto prazo temos uma preocupação maior com a credibilidade. O que o governo vai fazer nesse cenário adverso?”, questiona Rafaela.
No cenário internacional, 2024 será um ano de crescimento mais moderado diante de uma política monetária mais restritiva nos Estados Unidos e da China, onde o setor imobiliário vai precisar de algum tempo para se refazer.
“Para o próximo ano, teremos um cenário externo mais ameno. O próprio FMI tem uma expectativa de avanço menor e isso tende a dar um tom também de uma desaceleração maior aqui para nós”, explica a economista-chefe do Inter.
O ano que vem ainda será de cautela no mercado financeiro, apesar da queda de juros que beneficia ativos de risco. “A gente tem um processo de desaceleração da economia, o que vai prejudicar o crescimento das empresas e dos lucros”.
Na renda fixa, o processo de desinflação ainda rende bons prêmios – principalmente nos papéis mais longos. A dica então permanece: “Ter uma carteira diversificada é a melhor ferramenta para o investidor aproveitar as oportunidades e ao mesmo tempo se proteger num cenário que ainda tem muita incerteza para 2024”, conclui.
Confira abaixo a entrevista completa com a Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter.
B3 Bora Investir: O início do processo de queda dos juros no Brasil dominou o noticiário em 2023. Após ficar mais de um ano em 13,75%, a Selic hoje está em 12,25% e deve cair para 11,75% no mês que vem. O que esperar dessa desaceleração da taxa em 2024?
Rafaela Vitória: Neste ano tivemos uma evolução bastante positiva da inflação, melhor até do que se esperava no começo de 2023. Quando a gente pega essas expectativas para o IPCA, elas estavam mais próximas de 6%. A gente deve encerrar o ano com o IPCA dentro da meta, inclusive um pouco abaixo de 4,70% – o teto da meta é 4,75%. Então, principalmente nesses últimos meses, a gente teve essa surpresa positiva de uma desaceleração mais rápida da inflação. Acho que essa foi a boa notícia do ano e que resultou no início dos cortes de juros pelo Copom.
O Comitê começou a cortar os juros em agosto. A gente chegou até falar em uma aceleração desses cortes para um ritmo de 0,75 p.p, mas o Copom deve continuar com esse ritmo de cortes de 50 pontos entrando em 2024. O cenário externo com um pouco mais de incerteza, mas um cenário doméstico de inflação de curto prazo muito positivo.
A inflação cedendo, principalmente aquela mais persistente de serviços, que teve uma queda boa nesse semestre com a atividade mais fraca e deve começar 2024 também com um tom mais fraco. Isso ajuda a manter a inflação em baixa e dá o cenário para o Copom continuar cortando a Selic. Eu acredito ainda em alguns cortes de 50 pontos até o primeiro trimestre do próximo ano e uma desaceleração desses cortes para 0,25 por volta do segundo trimestre.
Na medida que o diferencial de juros entre o Brasil e Estados Unidos ficar um pouco mais justo, o espaço para cortes tende a diminuir. O Copom tende a ser até um pouco mais cauteloso. Mas eu acredito que uma Selic em 9% até o final de 2024 é bastante razoável nesse cenário de inflação por volta de 4%, um pouco abaixo, para o próximo ano. 2024 terminaria ainda com uma Selic restritiva em 9%. Seria uma taxa com algum aperto monetário, considerando um juro real neutro entre 4% e 4,5%. Se a gente tiver uma Selic de 9%, a gente estaria com o juro real mais próximo de 5%, 5,5%. Então a gente ainda vai ter alguma restrição monetária para 2025, considerando que a inflação ainda não está no centro da meta, mas caminha para ele. Então 2024 vai ser um ano de cortes consecutivos da taxa de juros, começando nesse ritmo de 50 pontos
B3 Bora Investir: Esses juros ainda elevados que você citou tem freado a economia no 2º semestre deste ano – ainda assim o PIB deve crescer acima de 2,5% por conta da agropecuária. O que a gente pode esperar para a atividade brasileira em 2024?
Rafaela Vitória: A atividade esse ano surpreendeu, principalmente no começo de 2023, tanto puxado pelo agro, mas também pelos impulsos fiscais. O governo deu aumento real de salário mínimo, aumentou o programa Bolsa Família e deu reajuste ao servidores – o que não acontecia há anos. Os gastos fiscais cresceram cerca de 5% acima da inflação, boa parte no primeiro semestre. O PIB agro, mas também o consumo das famílias também teve um crescimento um pouco melhor do que o esperado.
Agora a gente vê o impacto de uma desaceleração, diante da taxa de juros bastante restritiva e com o fim desses impulsos, 2024 deve começar com um PIB mais fraco, principalmente no começo do ano. O efeito do juro restritivo é ainda maior agora, apesar do Copom já ter começado a cortar a Selic. Com a queda da inflação, a gente acabou ficando com o juro real de curto prazo um pouco mais elevado e vamos isso na concessão de crédito – que não tem crescido e com a inadimplência ainda em alta.
Então a gente deve ver tanto o consumo das famílias quanto os investimentos ainda desacelerando no primeiro até no segundo trimestre do próximo ano. Mas com os cortes de Selic que a gente espera, a economia tende a melhorar. Acho que uma recuperação na segunda metade do ano que vem deve levar a um crescimento positivo do PIB no ano, mas um avanço mais baixo, próximo de 1,5%.
B3 Bora Investir: Ainda no assunto PIB, os setores econômicos não andam bem. A indústria segue estagnada, o varejo tem recuado e os serviços perdido força. O que precisa ser feito para reverter essa tendências em 2024?
Rafaela Vitória: No curto prazo não tem muito o que fazer. E ainda existe até um risco se o governo quiser estimular a economia preocupado com essa desaceleração pontual. Isso é negativo porque temos um déficit fiscal e uma inflação desancorada. O que a gente precisa hoje é ancorar melhor essas expectativas, tanto para o ajuste fiscal e, consequentemente, para a inflação e assim ter taxas de juros menores. Aí sim, acho que um juro menor, tanto na Selic quanto em taxas longas, podem estimular a economia, o setor privado, os investimentos.
Para ter um crescimento maior – talvez não em 2024, seja um pouco tarde – mas de 2025 em diante, a gente precisa ter juros menores no Brasil. E para isso é necessário um pouco mais de previsibilidade do lado fiscal e, consequentemente, do lado da inflação.
Então, estímulos pontuais, aumento de salário, de crédito, o parafiscal – como a gente já viu em governos anteriores – isso até pode dar um fôlego para o PIB no curto prazo. Mas não é sustentável porque a economia continua impactada por essa taxa de juros muito elevada.
B3 Bora Investir: O crescimento mais fraco da economia global e os juros elevados – também fora do país – têm impactado o Brasil. Essa desaceleração no mundo pode sinalizar cautela sobre uma visão mais positiva da economia nos próximos anos?
Rafaela Vitória: Sem dúvida. Por mais que a economia brasileira ainda seja relativamente fechada, o fato de se ter uma desaceleração da China e de outros países desenvolvidos, faz com que a nossa cadeia produtiva – que está ligada as globais – também sinta.
Como você citou, a produção industrial esse ano ela patinou, não teve nenhum crescimento. Aliás, está estagnada já há alguns anos no Brasil. Então, sem uma demanda maior do setor externo, a gente também não tem como crescer tanto. Teve um avanço específico no Agro, um ganho de produtividade de área plantada, uma safra recorde, mas esse crescimento foi excepcional. Ele não deve se repetir no próximo ano. Mas para outros tipos de produção, indústria da transformação, a demanda deve continuar mais enfraquecida em 2024.
Então, sim, um cenário externo de crescimento mais moderado tende a afetar também o crescimento no Brasil. Mas, de todo jeito, acho que o país ainda se destaca positivamente no cenário internacional. A gente tem uma balança comercial com saldo positivo. A produção e exportação de petróleo e derivados cresceu bastante esse ano e em 2024 deve continuar com a mesma tendência. Portanto, para a economia brasileira, o setor externo ainda é positivo. A gente deve continuar exportando mais do que importando no próximo ano e isso deve contribuir até de maneira positiva para o nosso PIB.
B3 Bora Investir: Essa desaceleração do PIB também traz um impacto no processo de desinflação do país, como você citou. Diante disso, o que podemos esperar do cenário inflacionário em 2024?
Rafaela Vitória: A gente começou a ver nos últimos meses uma desinflação global. Acho que tem dois pontos que contribuem para essa queda da inflação no mundo. Um deles é uma normalização tanto da demanda quanto da oferta. Aquela super demanda que a gente teve por conta de estímulos fiscais e aquisição maior de bens de consumo durante a pandemia, começa a normalizar. O excesso de poupança que a gente teve durante a pandemia também começa a normalizar.
Então a demanda hoje impactada pela política monetária, começa a normalizar e, por outro lado, você tem uma oferta também normalizando. Isso impacta os preços das commodities. A gente viu preços de petróleo voltando mais para próximo de US$ 80, os preços agrícolas também e metálicas. Assim essa acomodação das commodities já trouxe um processo de desinflação importante. A política monetária mais restritiva a partir de agora, tende a impactar o crédito e restringir um pouco mais a demanda. Então, a expectativa é que a inflação continue em queda no próximo ano.
Agora, é importante lembrar que, assim como no Brasil, lá fora a inflação está em queda, mas segue acima da meta. Então se comemora hoje essa primeira fase de queda da inflação, mas os bancos centrais ainda têm um trabalho de manter juros altos por mais tempo para que a inflação de fato volte para a meta.
B3 Bora Investir: No mercado financeiro, a gente tem visto uma melhora da bolsa brasileira. No entanto, a alta dos juros longos nos EUA tem exigido maiores retornos em países emergentes. Qual o cenário para 2024?
Rafaela Vitória: A princípio temos ainda um cenário de cautela. Você tem um cenário de juros em queda e isso beneficia os ativos de risco. Mas a gente tem um processo de desaceleração da economia, o que vai prejudicar o crescimento das empresas e dos lucros. Então a gente vai ter uma combinação de fatores juros e atividade menores. Então, é importante ter cautela com o desempenho da bolsa como um todo.
A princípio, o que temos visto nessas últimas semanas, é uma melhoria no sentimento de risco. Na medida que se tem menos incerteza com relação à trajetória da inflação, você começa a ver uma visibilidade maior da trajetória dos juros ao longo do próximo ano e isso reduz esse prêmio de risco que a gente vinha observando nos mercados acionários, inclusive nos emergentes. Mas a gente segue com cautela.
2024 vai ser um ano de economia desacelerando e alguns setores de empresas que estão listadas na bolsa tendem a ter um crescimento menor. Então, é importante estar atento também a esse desempenho setorial, que pode não ser dos melhores no próximo ano.
B3 Bora Investir: Para a renda fixa, o cenário segue de brigadeiro?
Rafaela Vitória: O cenário para a renda fixa ainda é bastante favorável, ainda com um prêmio na renda fixa longa, tanto aqui quanto lá fora. E como a gente tem um cenário de queda de inflação, esse prêmio ele passa a ser interessante hoje para o investidor. Se ele tivesse mais incerteza com relação à inflação, seria um momento ideal para ter mais caixa. Nem renda fixa, nem renda variável.
Hoje a gente consegue ver esse processo de desinflação mais consolidado e ainda algum prêmio na renda fixa. Então, é um cenário bastante favorável principalmente nos papéis longos. No Brasil, especificamente, os papéis indexados à inflação ainda carregam um juro real bastante elevado, refletindo ainda um prêmio de risco que eu considero um pouco acima do que a gente consegue ver de previsibilidade para a economia brasileira.
B3 Bora Investir: Soma-se a esse cenário macroeconômico, a questão fiscal brasileira. Isso em meio a uma piora das contas públicas e discussões de mudanças na meta de déficit zero em 2024. Como você vê o fiscal para o ano que vem?
Rafaela Vitória: O risco fiscal ainda é o principal problema para a economia brasileira, porque no longo prazo a gente não tem uma previsão de como que o ajuste fiscal vai acontecer. O novo arcabouço fiscal que foi aprovado esse ano trouxe alguma boa notícia de um governo atento que as despesas precisam crescer menos que as receitas, para que a gente chegue ao equilíbrio fiscal. Mas o que a gente tem visto no curto prazo, na prática, é uma grande dificuldade para fazer e para acertar essa equação do arcabouço. No longo prazo a preocupação é quanto tempo vai demorar para reverter a trajetória de crescimento da dívida.
No curto prazo ainda temos uma preocupação maior com a credibilidade. O que o governo vai fazer nesse cenário adverso? Tanto o mercado quanto a própria União foram surpreendidos esse ano com uma deterioração fiscal além do que se esperava. A queda da arrecadação principalmente foi um fator importante, assim como a frustração nas receitas adicionais que o governo esperava. A queda da inflação e dos preços das commodities de maneira geral tende a prejudicar a arrecadação e um ambiente de maior risco – onde parte dele veio de fora – também traz uma desaceleração da economia e impacta a arrecadação.
A gente começa 2024 com um cenário pior do que se tinha. No curto prazo, tem essa incerteza. Como que o governo reage a esse cenário? É justamente essa dificuldade do governo cumprir a meta de zerar o déficit, que traz um pouco dessa incerteza. Qual é o tamanho do esforço que o governo vai de fato fazer para buscar esse equilíbrio fiscal? A equipe econômica sinaliza que o ideal é manter a meta zero, mesmo ela sendo muito difícil de alcançar. A partir dessa meta, o governo continua fazendo um esforço, inclusive de controlar o crescimento de gastos.
Nesse momento, eu acho que a conta também não é só do lado da arrecadação, mas também dos gastos. Ela também está ficando um pouco maior do que se esperava. O governo vai ter que começar a fazer algum controle. O relatório bimestral, o último que saiu em novembro, trouxe despesas obrigatórias crescendo acima do que se imaginava no começo do ano. Então também se tem um cenário de despesas acelerando e o governo precisa exercer algum tipo de controle para que a gente possa ter um equilíbrio fiscal no radar, pelo menos ao longo dos próximos anos.
B3 Bora Investir: A deterioração fiscal tende a bater na cotação do dólar frente ao real – assim como juros mais altos nos EUA, guerra no Oriente Médio e na Ucrânia. Todo esse cenário trouxe muita volatilidade para a moeda americana. Como será em 2024?
Rafaela Vitória: Tanto o risco externo quanto o fiscal podem impactar na economia brasileira, principalmente via câmbio. Então, de fato, uma percepção de risco maior tende a depreciar a moeda e isso impacta na inflação.
O que a gente viu ao longo do ano foi um câmbio até bastante comportado, considerando todo esse cenário de maior percepção de risco. A gente teve muita volatilidade, como você comentou, mas o patamar atual do câmbio – entre R$ 4,80, R$ 4,90 – não nos mostra que existe essa preocupação tão grande com uma deterioração no Brasil.
O que a gente tem de fator positivo para o câmbio, que tende a continuar no próximo ano, é o forte fluxo da balança comercial, com um ano bem favorável para o aumento das exportações brasileiras e até uma queda das importações. A gente deve fechar o ano com superávit recorde da balança comercial, próximo de US$ 100 bilhões. Isso é um fluxo muito forte que contribui para manter esse câmbio mais equilibrado.
Por outro lado, a gente também tem uma taxa de juros muito elevada. Apesar do Copom já ter começado o afrouxamento monetário, com a queda da Selic um pouco na frente dos Estados Unidos, o diferencial de juros ainda é muito elevado e atrativo para o investidor estrangeiro. Isso tende a segurar o câmbio.
O cenário que a gente tem para 2024 é um dólar por volta de R$ 5. Poderia ter espaço até para uma valorização maior por conta do fluxo, mas na medida que os juros forem caindo, a gente vai ver essa pressão por outro lado e o câmbio tende a ficar ali mais próximo de R$ 5. Então a gente até poderia ter um cenário mais positivo, mas a redução dos juros deve impedi-lo.
Agora, por outro lado, um risco de uma deterioração fiscal maior pode impactar o câmbio. Não é o nosso cenário base, mas eu diria que esse é o risco. Se o câmbio voltar para R$ 5,50 por conta dessa percepção dos investidores de maior risco, poderia ter uma pressão inflacionária maior e impactar na trajetória de queda de juros pelo Copom.
B3 Bora Investir: A tramitação da Reforma Tributária deve terminar em breve no Congresso. Ainda que a transição para o novo sistema dure mais de uma década, você acredita que a reforma pode trazer impactos positivos para o país já em 2024?
Rafaela Vitória: Ela traz um impacto positivo, no sentido que a gente vê o Congresso aprovando medidas reformistas, que tragam algum tipo de melhora no longo prazo para o país.
Assim como a gente viu as reformas trabalhistas e da Previdência – que tem um custo alto no curto prazo – a tributária também tem. Você impacta no curto prazo em alguns setores, mas no futuro você tem um ganho geral para a economia. Poderia ter sido melhor? Poderia. A gente viu algumas exceções, mas de maneira geral futuramente vamos ter um sistema melhor que o atual. Mas os benefícios dessa reforma, eles vão vir só ao longo dos próximos anos. Para 2024, a gente ainda não deve ter um impacto direto.
No cenário externo, queria falar um pouco sobre os Estados Unidos e a China. As duas maiores potenciais estão em desaceleração. A americana ainda por conta dos juros e chinesa com o grande problema no mercado imobiliário. Qual sua análise para China e EUA em 2024?
B3 Bora Investir: De volta ao cenário externo. EUA E China estão num processo de desaceleração da atividade. Como ficam as duas maiores economia no ano que vem?
Rafaela Vitória: A gente espera uma desaceleração pelo impacto da política monetária mais restritiva nos Estados Unidos. Na China, ainda há um setor imobiliário que vai precisar de algum tempo para se refazer. O excesso de investimentos ainda vai impedir a economia de ter uma retomada mais robusta.
Acho que para o próximo ano, teremos um cenário externo mais ameno, de desaceleração no crescimento. O próprio FMI tem uma expectativa de avanço menor e isso tende a dar um tom também de uma desaceleração maior aqui para nós.
B3 Bora Investir: No Mercosul, o desafio agora será o novo presidente da Argentina, Javier Milei. Como você vê o bloco em 2024?
Rafaela Vitória: A gente tem visto na América Latina, de maneira geral, essa transição nos poderes. Inclusive lidamos hoje de maneira mais natural com essa troca na Argentina. Essa mudança mostra uma certa insatisfação quando a política econômica não produz resultados para a população.
Do ponto de vista do Mercosul, existem vantagens de se ter essa troca de poder. Isso ajuda que os trabalhos fiquem mais direcionados para beneficiar as economias e não os partidos que estão no poder. E no fundo, acordos comerciais costumam prevalecer em relação às preferências e às alianças políticas. Então, se a gente tiver uma recuperação econômica na Argentina, isso tende a ser bastante positivo para o Brasil.
B3 Bora Investir: Para encerrar, com tantos eventos e mudanças no cenário econômico, quais as dicas que você daria para os investidores?
Rafaela Vitória: A principal ferramenta que o investidor tem hoje para se proteger é a diversificação. Então, num cenário com tanta incerteza, o que a gente não recomenda é concentrar em investimentos em nenhum ativo específico, porque vai ser muito difícil acertar o tempo de maturação ou retomada daquele ativo.
A renda fixa ainda vai ser muito importante e rentável no próximo ano, mas não se pode deixar de manter uma locação em bolsa. Porque na medida que o cenário melhora, a bolsa tende a recuperar e isso pode acontecer muito rápido.
Acho que principalmente no Brasil, a bolsa ainda está em patamar bastante baixo. Difícil falar ‘vamos esperar para ter um cenário mais claro’, porque depois que esse cenário chega, a bolsa sobe muito rápido e a gente perde a oportunidade.
Então, ter uma carteira diversificada é a melhor ferramenta para o investidor aproveitar as oportunidades e ao mesmo tempo se proteger num cenário que ainda tem muita incerteza para 2024.
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