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Com inflação em queda, Brasil pode terminar o ano dentro da meta? Confira

Especialistas acreditam que, mesmo com desaceleração, país não terminará o ano na meta de inflação

Na última quarta-feira, o IBGE divulgou o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do Brasil, de agosto com queda de 0,11%. Esta foi a primeira deflação no Brasil desde agosto de 2024 (-0,02%) e o maior recuo desde setembro de 2022 (-0,29%).

No ano, o IPCA tem alta de 3,15% e, em 12 meses, o índice ficou em 5,13%, o que significa que o Brasil está acima da meta de inflação no momento. A meta de inflação estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) é de 3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. O teto, portanto, é de 4,5%.

Com essa queda registrada em agosto, o mercado especula se ainda é possível encerrar o ano dentro da meta. Para Matheus Dias, economista do FGV Ibre, a desaceleração deve-se ao bônus tarifário de Itaipu, que causou uma diminuição do custo de energia nas residências e que não vai vigorar em setembro. Para ele, existe um processo de desaceleração, mas os próximos dois meses devem ser de alta.

Dias entende que o movimento não será suficiente para colocar o país dentro da meta. “Teria que acontecer diversos fatores bastante intensos. Seria uma hipótese muito forte de que os choques de alimentos seriam persistentes e ainda mais fortes, que o real teria uma valorização forte até o final do ano que impactasse no curto prazo a inflação. Então, acredito que a inflação não feche na meta em 2025, ficando para 2026”, analisa.

No mesmo sentido, Jeff Patzlaff, especialista em macroeconomia e planejador financeiro, destaca que, para alcançar a meta, precisaria haver uma “desaceleração consistente dos preços de serviços com rebaixamento da pressão salarial e menor repasse de custos, estabilidade do câmbio evitando choques de importados, preços de alimentos que não voltem a subir com força, continuidade de condições monetárias restritivas e sinais claros de disciplina fiscal”, complementa.

Papel do Banco Central no controle da inflação

A avaliação é de que o nível controlado da inflação está diretamente ligado à atuação do Banco Central. Em junho, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu elevar a Selic para 15% ao ano e umas das justificas, segundo o comunicado divulgado, foi justamente a trajetória da inflação.

A ideia central é que os juros em patamar elevado desestimulam o consumo e o crédito, pressionando os preços para baixo. Para Dias, “(o Banco Central) está sendo crucial nesse processo de desaceleração. Os juros altos estão cumprindo o objetivo de redução da demanda e ancoragem das expectativas”.

Ele cita que, nesta quinta-feira (11), o IBGE divulgou que o volume de vendas do comércio brasileiro caiu 0,3% em julho, frente a junho, o quarto resultado negativo seguido, o que indica que a política monetária está surtindo efeito. “Esse enfraquecimento da atividade ajuda a controlar os preços, mas também exige cautela porque a atividade econômica acaba desacelerando”, completa.

Com a inflação controlada, quando a Selic deve começar a cair?

Mesmo com a inflação fora da meta, a estabilização dos preços faz com que o mercado especule quando o Banco Central iniciará o ciclo de cortes da taxa de juros.  Na próxima quarta-feira será realizada mais uma reunião do Copom, mas a expectativa é pela manutenção da Selic no patamar de 15% ao ano.

Dias acredita que a queda de juros ficará apenas para o início do próximo ano. “Por mais que o cenário de inflação esteja mais favorável, a chance maior é que eventuais cortes da taxa de juros acabem ficando para a primeira reunião de 2026 ou no primeiro trimestre, quando o Banco Central vai ter mais dados, mais segurança sobre a persistência do processo de desinflação”, analisa.

Patzlaff reforça que, além da inflação, outros fatores devem ser determinantes para a decisão de cortar juros. “A queda de agosto abre espaço para um debate sobre flexibilização mais à frente, mas não é suficiente por si só. Além disso, a taxa de juros dos EUA deve começar a cair e isso faz com que em 2026 tenha a possibilidade para quedas na taxa aqui, mas vale lembrar que a irresponsabilidade fiscal continua e isso pesa contra cortes mais rápidos”, conclui.

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