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Com taxa de desemprego na mínima histórica, Brasil está perto do pleno emprego?

O pleno emprego é uma situação econômica em que a taxa de desemprego está em um nível considerado de equilíbrio

Com ISTOÉ Dinheiro

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Conforme os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua divulgados na manhã desta terça-feira, 16, o Brasil chegou para ao menor patamar de desemprego da série histórica do indicador, iniciada em meados de 2012, aos 5,6%.

Em números absolutos, isso significa que cerca de 6,1 milhões de brasileiros estão em situação de desemprego. Com esse dado e o momento atual da economia, o Brasil se aproxima – ou até mesmo integra – a faixa do pleno emprego.

Taxa de desemprego chega ao patamar mais baixo da história

O economista do Banco Daycoval, Antonio Ricciardi, avalia que é difícil categorizar que o dado da Pnad leve à conclusão que o Brasil esteja em pleno emprego, dado que é uma medida não observável e sem um nível exato.

“Todavia, há sinais que o patamar atual esteja abaixo da taxa natural de desemprego, ou seja, estamos atuando abaixo do que se considera o pleno emprego, uma vez que estamos no nível mais baixo da série histórica e com pressões salariais em quase todos os setores analisados, aliado a massa salarial real efetiva variando 6,4% na comparação interanual”, explica.

O pleno emprego é uma situação econômica em que a taxa de desemprego está em um nível considerado de equilíbrio. Ou seja, não significa desemprego zero, mas sim um patamar que não esteja atrelado à falta de demanda agregada (desemprego cíclico).

A manutenção do pleno emprego depende da capacidade de equilibrar oferta e demanda no mercado de trabalho, evitando tanto o excesso de desemprego, mas também pressões inflacionárias que surgem quando a economia opera acima de sua capacidade sustentável.

Nesse sentido, não se trata de um número fixo, mas de um patamar calculado por instituições que indicam um nível de emprego saudável e condizente com outras variáveis econômicas – especialmente a inflação.

Um conceito assiduamente utilizado por banco centrais ao redor do mundo para tomar decisões de política monetária é o Taxa de Desemprego Não Aceleradora da Inflação (NAIRU, na sigla em inglês), que define o pleno emprego como o nível de desemprego abaixo do qual a inflação começa a se acelerar.

Olhando para o pleno emprego sob esse prisma, o Itaú considera que o Brasil já opera nesse patamar há alguns meses, inclusive em um patamar de maior estabilidade.

Em meados de junho, o banco emitiu um relatório em que cita que a estimativa para a taxa neutra de desemprego seja de cerca de 8%, considerando o cenário macroeconômico atual.

Economistas do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV-Ibre) estimam a essa taxa neutra de desemprego do Brasil esteja em um intervalo de 9% a 9,5%, conforme dados de 2023.

Especialistas da casa frisam que diversos fatores têm influenciado a oferta de trabalho, incluindo a ampliação do Bolsa Família, que tem intensificado as pressões no mercado de trabalho.

Os cálculos da instituição são de que, se a taxa de participação estivesse no mesmo nível da média de 2019, a taxa de desemprego dessazonalizada estaria em 7,3%, ou seja, 1,8 p.p. acima da registrada atualmente.

O Banco Central (BC) não divulga os seus prognósticos exatos para a NAIRU por questões estratégicas. Desta forma, emprega termos como ‘mercado de trabalho aquecido’ , ‘hiato do produto positivo’ e atividade econômica ‘mais forte que o esperado’ em comunicados e atas de reuniões.

A IstoÉ Dinheiro entrou em contato com a autarquia federal acerca do tema. Todavia, não recebeu devolutiva até o fechamento desta reportagem. O espaço segue aberto.

Bruno Imaizumi, economista da 4intelligence, observa que os modelos que calculam a taxa neutra de desemprego não necessariamente capturaram todas as grandes mudanças estruturais que estão acontecendo no mercado de trabalho.

“É possível que hoje essa taxa calculada por algumas instituições não esteja capturando todos esses efeitos, então hoje eles devem ter uma taxa de desemprego neutra maior do que a verdadeira, vamos dizer assim. Temos uma questão demográfica muito importante, temos a questão da digital economy, muitos aplicativos que as pessoas, em vez de estarem desocupadas, elas conseguem uma informalidade, e isso ajuda a derrubar a taxa de desemprego”, analisa.

Pleno emprego divide academia

Vale destacar que outros conceitos de pleno emprego ainda permeiam a academia e geram debates. Na perspectiva Keynesiana, o pleno emprego seria a ausência de desemprego involuntário, que ocorre quando pessoas dispostas a trabalhar pelo salário de mercado vigente não conseguem encontrar uma ocupação.

A visão se afasta da ideia mais clássica e ortodoxa de que os mercados de trabalho se autoajustam para eliminar qualquer excesso de oferta de mão de obra.

Por outro lado, existe a visão neoclássica e monetarista, popularizada por economistas como Milton Friedman, que define que sempre haverá um nível considerado natural de desemprego por conta de fatores estruturais e friccionais no mercado de trabalho.

Segundo essa tese, o pleno emprego seria alcançado quando a taxa chegasse ao número considerado natural, e que políticas públicas de estímulo à demanda resultariam em aumento de inflação se fossem feitas em inobservância a isso.

Dados recordes são ‘incomuns’

Os números da Pnad divulgados mais cedo mostram uma combinação relativamente inusual de fatores, segundo especialistas.

O economista Rafael Perez, da Suno Research, frisa que os dados confirmam um momento de ‘grande dinamismo no mercado de trabalho’, com empregos formais em níveis recordes, salários em patamares históricos e taxa de desemprego em mínimas históricas.

“Essa convergência de fatores é rara na economia brasileira, como se pode notar ao comparar com períodos anteriores, como 2012 e anos precedentes”, comenta.

O especialista avalia que essa situação resulta da soma de fatores tanto conjunturais quanto estruturais.

“No que diz respeito aos fatores conjunturais, o setor de serviços, conhecido por sua alta capacidade de geração de empregos, tem desempenhado um papel fundamental na manutenção do mercado aquecido e na queda da taxa de desemprego para níveis mínimos. A análise dos diversos indicadores da PNAD Contínua revela uma melhora generalizada, com a maioria dos indicadores apresentando desempenho positivo”, explica.

“Já no que se refere aos fatores estruturais, o período pós-pandemia trouxe mudanças significativas, como o crescimento dos serviços médicos, hospitalares e do comércio eletrônico. O aumento dos trabalhos por meio de aplicativos também contribuiu para o aumento da demanda por mão de obra, beneficiando, principalmente, os trabalhadores autônomos”, completa.

O time de pesquisa macroeconômica do Itaú, chefiado por Mario Mesquita, avalia que os dados da Pnad mostram ‘um mercado de trabalho resiliente’.

“A taxa de desemprego recuou de 5,8% para 5,7% (na série com ajuste sazonal), puxada pelo aumento do emprego formal, mas estabilidade do setor informal e da taxa de participação. Os salários reais efetivos avançaram 0,7 p.p., reforçando a continuidade do dinamismo no mercado de trabalho. Essa divulgação introduz um viés de baixa na nossa projeção de taxa de desemprego no final do ano, atualmente em 6,4%”, diz a casa.

Rodolfo Margato, economista da XP, estima que a população ocupada permaneceu em 102,6 milhões entre junho e julho, com categorias de emprego formal seguindo resilientes.

A visão é de que, em suma, o mercado de trabalho segue apertado e não há sinais de arrefecimento na renda.

“Não prevemos mudanças significativas para os principais indicadores do mercado de trabalho no curto prazo. A alta consistente da renda real deve servir como amortecedor frente à desaceleração em curso da economia. Projetamos avanço ao redor de 5% em 2025. Por fim, esperamos que a taxa de desemprego encerre este ano em 5,8%. Nossa projeção para o crescimento do PIB em 2025 continua em 2,2%”, diz.

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