Copom aumenta Selic em 0,50 p.p., para 11,25% ao ano, conforme esperado pelo mercado
Analistas avaliam que os membros do colegiado deixam abertas as possibilidades para a próxima reunião, que acontece em dezembro
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) anunciou uma alta da Selic em 0,50 ponto porcentual nesta quarta-feira, 6. Assim, a taxa básica de juros do País vai a 11,25% ao ano. A decisão vai ao encontro das expectativas do mercado, que já previa uma aceleração no ritmo de aperto monetário.
No comunicado, os membros do colegiado deixam abertas as possibilidades para a próxima reunião, que acontece em dezembro. “O ritmo de ajustes futuros na taxa de juros e a magnitude total do ciclo de aperto monetário serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerão da evolução da dinâmica da inflação“, diz o texto.
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Segundo o comunicado, “o ambiente externo permanece desafiador, em função, principalmente, da conjuntura econômica incerta nos Estados Unidos, o que suscita maiores dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed”.
A decisão foi unânime entre os nove integrantes do colegiado.
O que motivou a decisão da taxa Selic
Para o Copom, além do cenário externo desafiador, o momento doméstico ainda inspira atenção, principalmente em relação aos indicadores de atividade econômica, do mercado de trabalho, inflação e questões fiscais.
Entre os riscos que podem elevar a inflação, o comunicado cita:
- uma desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado;
- uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado; e
- uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada.
Entre os riscos de baixa, ressaltam-se:
- uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e
- os impactos do aperto monetário sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.
O comunicado ainda ressaltou que tem acompanhado com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. E, destacou sua que uma política fiscal crível e comprometida contribuirá para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros.
“A percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal tem afetado, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes, especialmente o prêmio de risco e a taxa de câmbio”, apontou.
Repercussão do mercado
A alta de 0,50 p.p. da Selic já era amplamente esperada pelo mercado. Para a economista-chefe do Inter, Rafaela Vitória, o comitê “indicou novas altas nesse ciclo”, mas deixou em aberto o ritmo dos próximos ajustes e o tamanho total do aperto. “A visão do balanço de riscos permanece com um viés altista, devido ao mercado de trabalho aquecido e o hiato positivo”, comentou a economista. “Nesse ponto, o Copom deixa de considerar uma visão prospectiva de desaceleração da economia devido ao impacto do aperto monetário maior, principalmente via arrefecimento do crédito”, disse Rafaela Vitória, que lembra que o “juro real já está em patamar bastante restritivo e a defasagem desse efeito deve ter impacto na desaceleração da atividade nos próximos meses”.
Marcelo Bolzan, estrategista de investimentos e sócio da The Hill Capital, destacou o fato de a decisão ter sido unânime, algo que é bem-visto pelo mercado. “O comunicado foi muito parecido com o anterior, na minha opinião. O comitê sinalizou um cenário mais desafiador, tanto externo quanto interno”, comentou.
Outro ponto de destaque foi a importância dada pelo Comitê ao lado fiscal, avalia Raphael Vieira, co-head de Investimentos da Arton Advisors. Segundo ele, o mercado já demonstrava preocupação com os rumos da política fiscal do governo e o comunicado indicou para o Executivo a necessidade de um maior comprometimento com a sustentabilidade da dívida e a importância do equilíbrio das contas públicas.
Já na análise de Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, o trecho em que o Copom afirma que o ritmo e a magnitude dos ajustes futuros da taxa de juros serão ditados pelo compromisso com a convergência da inflação à meta “deixa em aberto a possibilidade de uma aceleração para 0,75 p.p. à frente, apesar não acreditarmos ser provável”. O cenário-base da casa é de mais uma elevação de 0,5 p.p. em dezembro, com a Selic chegando a 12,50% até março de 2025.
O planejador financeiro e especialista em mercado de capitais Idean Alves considerou que o tom do comunicado veio “hawkish”, com especial atenção às incertezas da economia global. Para ele, a ressaca da decisão do Copom deverá influenciar um cenário volátil na bolsa, junto com a pressão sobre o câmbio, a desconfiança nas políticas fiscais do governo e as expectativas em relação aos juros nos EUA.
*colaborou Nino Guimarães, especial para o Bora Investir
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