Copom eleva Selic para 15% ao ano, mas indica que ciclo de alta chegou ao fim
Colegiado antevê uma interrupção do ciclo de altas na próxima reunião
O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, decidiu elevar a Selic em 0,25 ponto porcentual, para 15% ao ano. O mercado estava dividido entre a expectativa pela manutenção ou por uma alta de 0,25 p.p. A decisão foi unânime entre os membros do colegiado.
No comunicado da decisão o comitê indica que, caso o cenário evolua como esperado, “antecipa uma interrupção no ciclo de alta de juros para examinar os impactos acumulados do ajuste já realizado”. Ou seja, se não houver novidades, o ciclo de altas pode ter chegado ao fim. Mas o comunicado deixa a porta aberta para possíveis mudanças de rota, ao pontuar que “o Comitê enfatiza que seguirá vigilante, que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em prosseguir no ciclo de ajuste caso julgue apropriado”.
Segundo o comitê, “o ambiente externo mantém-se adverso e particularmente incerto em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, principalmente acerca de suas políticas comercial e fiscal e de seus respectivos efeitos”. O colegiado destaca também a volatilidade de diferentes classes de ativos, com reflexos nas condições financeiras globais. E conclui: “tal cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes em ambiente de acirramento da tensão geopolítica”.
Decisão do Copom é vista como dura
Para Marcelo Bolzan, planejador financeiro CFP e sócio da The Hill Capital, o comunicado não traz grandes mudanças na comparação com o anterior, mas “dá um peso menor para o cenário internacional se comparado aqui com o último comunicado”. Na avaliação de Bolzan, a decisão traz um tom hawkish. “Acredito que foi bastante positivo esse último aumento. Ele deixou em aberto, acho que não poderia falar que encerrou o ciclo, porque pode ser que ele tenha que fazer mais aumentos de juros no futuro, mas eu acho que eles fecharam aqui com chave de ouro, de ter feito essa subida adicional aqui e interromper o ciclo”.
Pablo Spyer, Conselheiro da ANCORD, concorda. “A decisão do Copom de elevar a taxa Selic para 15% ao ano é dura, mas coerente com a persistência das pressões inflacionárias e a falta de clareza no ajuste fiscal”, diz.
“A decisão reflete o compromisso do Banco Central com a convergência da inflação para a meta, em um contexto de inflação persistente, expectativas desancoradas e incertezas elevadas no cenário global e doméstico”, avalia Ariane Benedito, economista-chefe do PicPay.
Para Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, o mercado deve reagir no próximo pregão com “valorização do real e, eventualmente, a redução das expectativas inflacionárias”.
Ele destaca que o IPCA projetado pelo Copom segue acima da meta e que a atividade econômica segue resiliente. “A taxa deve permanecer nesse campo contracionista por um período suficientemente longo. Então, acredito que seguiremos com esse juro em 15% por um bom tempo — entrando no ano que vem, senão até o meio do ano que vem”.
Marcio Saito, CFO da Entrepay, destacou que o aumento deve causar impacto no mercado de crédito e no consumo da população. “Juros mais altos tornam o crédito mais caro para pessoas e empresas, o que impacta o consumo e o ritmo de vendas, especialmente no varejo e em serviços que dependem de parcelamentos ou financiamentos”, diz. Apesar do sinal de que o ciclo de alta pode ter terminado, Saito ressalta que o mercado pode passar a reajustar suas projeções. “Para quem já projetava a Selic chegando a 16% até o fim do ano, essa elevação pode ser vista como um passo antecipado nesse caminho. Isso pode levar empresas e investidores a reverem suas estratégias para se proteger da alta dos juros ou para aproveitar oportunidades nos investimentos de renda fixa”, completou.
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