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Copom mantém Selic em 15% ao ano. Veja análises

Decisão da Selic veio em linha com as expectativas, e comunicado teve poucas mudanças, segundo especialistas

O Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa básica de juros, a Selic, em 15% nesta quarta-feira (30). A decisão foi unânime e era amplamente esperada pelo mercado, que agora volta suas atenções para a discussão sobre quando terá início o ciclo de afrouxamento monetário, ou se ainda haverá necessidade de novas elevações.

O colegiado havia elevado a taxa nas últimas sete reuniões consecutivas, desde setembro do ano passado. Nesse ciclo, a Selic foi de 10,50% aos atuais 15%. O comunicado da decisão, embora tenha trazido poucas novidades, reforçou a cautela do comitê diante das incertezas econômicas.

No documento, o Copom ressalta “um cenário externo mais adverso e incerto”, destacando a atual política econômica dos Estados Unidos, principalmente nos âmbitos comercial e fiscal, assim como seus efeitos sobre a atividade.

Em relação às próximas decisões, o comitê apontou que o cenário, marcado por muitas incertezas, exige cautela na condução da política monetária. Por isso, voltou a afirmar que “se confirmando o cenário”, deverá manter a taxa Selic no patamar atual.

“O Comitê antecipa uma continuação na interrupção no ciclo de alta de juros para examinar os impactos acumulados do ajuste já realizado, ainda por serem observados, e então avaliar se o nível corrente da taxa de juros, considerando a sua manutenção por período bastante prolongado, é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta”, destacou.

Por outro lado, o colegiado aponta que “seguirá vigilante, que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso julgue apropriado.”

Decisão esperada e próximos passos em debate

“O comunicado veio muito em linha com o último, num tom hawkish”, analisa Marcelo Bolzan, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital. Segundo ele, o destaque ficou para a preocupação com o ambiente externo. “Afirmam que o comitê tem acompanhado com grande atenção os anúncios referentes à imposição de tarifas comerciais para o Brasil, pelos Estados Unidos, e que nesse cenário ele reforça uma postura de cautela em função da maior incerteza”, diz Bolzan.

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Para as próximas reuniões, ele diz esperar pela manutenção dos juros em 15%, mas lembra: “se eventualmente tiver uma pressão inflacionária, se eles entenderem que faz sentido subir os juros, o comitê deixa em aberto essa possibilidade. Não é o nosso cenário hoje”, resume.

Marcio Saito, CFO da Entrepay, destaca, no entanto, que ainda existe a “possibilidade de uma elevação adicional da taxa para 16% até o fim do ano, a depender do comportamento da inflação e do cenário de credibilidade fiscal”.

Melhora nas projeções e queda na Selic

Apesar de o comunicado com “poucas novidades”, Roberto Padovani, economista-chefe do banco BV, aponta que o comitê melhorou suas projeções em relação à última reunião.

Mesmo assim, destaca que a estratégia do colegiado continua a mesma, “que é manter juros parados por um período suficientemente longo de tempo até que as expectativas de inflação convirjam”, diz. “De fato, ele justifica essa postura mais cautelosa, olhando a desancoragem das expectativas e a inflação de serviços ainda impressionado, muito em função de uma economia que está operando acima de sua capacidade, e dúvidas sobre a taxa de câmbio, em função tanto de incertezas globais quanto em relação a temas fiscais locais.”

Na visão de Padovani, a taxa básica poderá permanecer no nível de 15% até o final do primeiro trimestre de 2026.

Para Natalie Victal, economista chefe da SulAmérica Investimentos, a taxa Selic também só deve começar a cair partir do primeiro trimestre de 2026. “Como o Copom entregou estabilidade, é natural que o debate sobre espaço de cortes se fortaleça. Em particular se confirmado um panorama de câmbio ok, inflação corrente benigna, e concretização da desaceleração da atividade – já reconhecida pelo BCB no comunicado”.

No entanto, Rafaela Vitoria, economista-chefe do Inter, acredita que o comitê pode começar o ciclo de queda de juros em dezembro. “A inflação dá os primeiros sinais de queda e o esfriamento da atividade deve continuar com a desaceleração do crédito. O câmbio mais favorável e a recente queda de preços ao produtor ainda terá efeito na inflação ao consumidor nos próximos meses, e as expectativas de inflação devem continuar a tenência de revisões de baixa”.

Impactos nos investimentos

A decisão do Copom deve manter elevada a volatilidade do mercado acionário brasileiro, segundo Otávio Araújo, consultor sênior da ZERO Markets Brasil. Para ele, o ambiente é favorável para setores defensivos, como utilities, energia e bancos.

Já os setores mais sensíveis aos juros devem ainda aguardar por uma sinalização mais clara sobre o início de cortes na taxa básica de juros para mostrar recuperação mais acentuada.

Na renda fixa, o consultor aponta que títulos pós-fixados mantêm atratividades no curto prazo, assim como ativos IPCA+ de médio prazo. “Títulos prefixados exigem cautela devido à volatilidade de expectativas inflacionárias e incertezas sobre o timing de cortes futuros”.

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