Crise de Energia na Europa é sinal de recessão mundial?
Investidores de renda fixa e variável no Brasil devem trocar medo por informação de qualidade diante do noticiário europeu
A energia – no caso, a escassez dela – se tornou um problemão para a Europa. Como os países do continente dependem muito do fornecimento do gás vindo da Rússia, o fato de o país estar em guerra com a Ucrânia vem afetando o abastecimento na região, desde fevereiro, início do conflito.
O clima azedou de vez no início desta semana, quando os russos anunciaram que só voltarão a vender mais gás para os europeus, por meio do gasoduto Nort Stream 1, quando as penalidades aplicadas à Rússia pela invasão da Ucrânia forem revistas.
A questão envolve decisões políticas sensíveis, de um lado e de outro, o que torna o desfecho desta novela imprevisível. Também não se sabe quanto tempo o impasse irá durar.
No campo da economia, especialistas já começam a se perguntar: essa fonte de energia é a única possível para os europeus? Há um risco de apagão no continente? E como os mercados de outras partes do mundo, entre elas o Brasil, vão ser afetados com isso?
As repostas começam pelo raciocínio: menos energia significa preços mais altos e inflação, justamente num momento em que a Europa convive novamente com esse fantasma depois de tanto tempo.
Os preços da energia, em alguns casos e países, chegaram a subir mais de 400% em um ano.
Aumento dos juros
Para tentar domar a inflação, o Banco Central Europeu (BCE) adotou, na quinta-feira 8, um remédio amargo, mas necessário: aumentou os juros em 0,75 ponto percentual, de zero para 0,75%.
É bom lembrar que, sempre que isso acontece, há menos dinheiro na praça e buscar crédito fica mais caro, o que tem como consequências o desestimulo ao consumo e o desaquecimento da economia.
Se os preços da energia continuarem a subir e o BCE aumentar novamente os juros – o que a instituição já indicou que irá fazer -, cresce muito a possibilidade de uma recessão na Europa ser mais forte e duradoura do que se imaginava.
Por isso, a decisão dos russos vem sendo tão lamentada, ainda que não haja riscos de um apagão europeu neste momento.
Socorro bilionário
Para tentar amenizar os estragos do preço alto nas contas de energia para o caixa das empresas e o bolso da população, algumas das principais economias da Europa lançaram pacotes econômicos bilionários.
Na Alemanha, a ajuda será de 65 bilhões de Euros. A França investirá outros US$ 26 bilhões.
No Reino Unido, o tema energia também ganhou destaque na política. Ao tomar posse, na terça-feira, a nova primeira-ministra, Liz Truss, prometeu colocar em prática o maior investimento do Continente, despejando 100 bilhões de Libras, cerca de R$600 bilhões, para reduzir os impactos do valor da energia na vida dos britânicos.
A situação é tão séria que até a União Europeia entrou em campo para dizer que planeja propor aos 27 países que compõem o bloco que adotem medidas drásticas para reduzir o consumo e limitar os preços da energia.
Impactos no Brasil
Num cenário de alta e falta do gás russo, os preços internacionais do petróleo podem voltar a subir. E essa nunca é uma boa notícia, já que possíveis aumentos da gasolina sempre pesam no bolso da população. Isso sem contar que transportadores podem repassar os aumentos à indústria e ao comércio, o que faria os preços dos produtos aumentarem, pressionando ainda mais a inflação.
Com a chegada do inverno Europeu, no fim do ano, e as ameaças russas de não fornecer mais gás, é provável que o preço do barril volte a subir, o que pode, por outro lado, beneficiar o faturamento da Petrobras e tornar as ações da companhia atraentes.
Como fica a Renda Fixa?
Ao contrário do que acontece nos Estados Unidos e na Europa, que estão aumentando juros para conter a fase mais pesada da inflação, no Brasil esse movimento parece estar no fim. Mas, por enquanto, só parece.
Tudo vai depender da resistência da inflação. A expectativa é de que, na reunião que começa no próximo dia 20, o Comitê de Política Monetária (Copom) eleve a taxa dos atuais 13,75% para 14%.
Assim, investimentos em Renda Fixa, mesmo os mais conservadores, passarão a render um pouquinho mais e podem ser um porto seguro para alguns investidores, num momento de grande turbulência das principais economias globais.
Recessão e Renda Variável
A possibilidade de as economias de Estados Unidos e Europa enfrentarem recessões pesadas e a de a China dar uma freada muito brusca está no radar diário dos investidores de Renda Variável de todo o mundo.
Dessa forma, sempre que dados como emprego e inflação (para ficar apenas em dois dos mais importantes) forem divulgados nesses locais, o preço das ações pode até subir, se as informações forem positivas.
Oportunidades e riscos na Bolsa
Para depender menos de carvão e petróleo no futuro, países na Europa e nos Estados Unidos há tempos vêm investindo em fontes menos poluentes de energia. Por isso, prestar atenção nas empresas com essas características e ações negociadas na B3 pode ser uma boa opção para o investidor que quer diversificar sua carteira pensando em possíveis ganhos de longo prazo.
Ainda pensando em empresas listadas na Bolsa, as brasileiras que atuam na Europa, por outro lado, podem sofrer com a crise energética entre Europa e Rússia, principalmente se a recessão for longa.
Segundo relatório divulgado pelo Santander, a recessão no Velho Continente pode afetar empresas como Iochpe-Maxion, Tupy, Braskem, WEG, Embraer, Natura, Klabin e São Martinho, pois elas têm entre 15% e 30% de seu faturamento e custos atrelados ao mercado europeu.
Informação como aliada
É importante lembrar que possíveis cenários são traçados, mas somente o tempo fará uma hipótese virar realidade. Ou seja, situações como recessão, disparada nos juros europeus ou valorização de ativos ligados à energia renovável podem ou não acontecer em breve.
Todo investidor precisa saber que, na economia, uma informação se relaciona com a outra, e é assim que as coisas passam a fazer sentido no nosso bolso.
Para entender e se preparar em relação às finanças, o mais importante buscar informações com especialistas em gestão de recursos, avaliando possíveis riscos e oportunidades. Quem conhece seu próprio horizonte de investimento não fica no escuro na hora de tomar decisões.