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Discurso de Powell indica cortes de juros mais graduais, dizem economistas

Powell frisou que as eleições presidenciais americanas, com a vitória do republicano Donald Trump, não terão impacto nas decisões de curto prazo

Por Maeli Prado
Após a decisão do Federal Reserve de cortar os juros norte-americanos em 0,25 p.p., reduzindo o ritmo em relação à reunião anterior, o presidente do banco central dos Estados Unidos, Jerome Powell, sinalizou ao mercado que o Fed deve reduzir os juros de forma mais gradual, possivelmente intercalando reuniões sem cortes e com cortes na taxa básica.  

Essa foi a interpretação do mercado e de economistas sobre a tradicional fala do presidente do Fed após o encontro do Fomc, colegiado de política monetária dos EUA, que levou a taxa básica ao intervalo entre 4,50% e 4,75% ao ano. 

Antes da decisão, apenas 32% de participantes de mercado esperavam uma manutenção dos juros na reunião de dezembro do Fed, segundo o CME Group. As declarações de Powell mudaram o cenário, com esse percentual saltando a 74,5% após a fala. 

“O Powell voltou a dizer que está levando os juros em direção ao patamar neutro, sem antecipar a velocidade. Como sinalizou que o Fed pode reduzir o ritmo, que já está em queda de 0,25p.p., a conclusão é que farão uma espécie de zigue zague, cortando numa reunião e pausando na outra, para que haja um corte por trimestre, e não um corte por reunião”, apontou o economista chefe e sócio da gestora Quantitas, Ivo Chermont. 

Ele lembra que o Federal Reserve espera uma taxa de juros no intervalo entre 3,25% a 3,5% no final de 2025. “Se fizerem um corte por trimestre, chegarão a esse patamar”, afirmou Chermont. “Naturalmente, se o mercado de trabalho se mantiver super forte, ele pode parar antes”. 

É a mesma percepção de Francisco Nobre, economista da XP Investimentos. “O Fed, aparentemente, prepara terreno para potencialmente começar a cortar os juros uma vez a cada duas reuniões”, diz ele, lembrando que Powell afirmou que a autoridade monetária não tem nenhum motivo para cortar a taxa de juros de forma apressada, e que conforme os juros se aproximarem da taxa neutra, que não estimula nem desestimula a economia, é apropriado reduzir o ritmo de cortes. 

“Disse também que há uma incerteza sobre o quão restritiva a política monetária está atualmente. Nesse contexto, faz sentido cortar os juros de forma mais gradual, até para tatear e estimar qual a taxa neutra apropriada”, apontou Nobre. 

Naturalmente, apontam analistas, esse é o plano atual do Federal Reserve, sem considerar o que será anunciado por Trump assim que assumir a Casa Branca. Powell frisou que as eleições presidenciais americanas, com a vitória do republicano Donald Trump, não terão impacto nas decisões de curto prazo do colegiado de política monetária do Fed. 

“Sobre política econômica, Powell disse que, no curto prazo, nada muda na postura do Fomc. O comitê vai continuar reagindo aos dados. Caso o Congresso faça mudanças – impostos – o Fomc vai modelar os efeitos e adaptar a política monetária aos dados novos. O mesmo sobre as tarifas”, disse José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do banco Fator.

Pedro Moreira, sócio da One Investimentos, lembrou que o Fed demonstrou certa preocupação apenas com o núcleo de inflação.

“O Fed ainda entende que a atividade econômica está se expandindo num ritmo sólido, um ritmo aceitável, e lembra que a inflação de longo prazo está convergindo para a meta de 2%” apontou Pedro Moreira, sócio da One Investimentos. “A única preocupação que eles colocam é que o núcleo de inflação ainda permanece elevado.” 

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