Entenda o impacto da deflação chinesa nos mercados e na economia mundial
Preços ao produtor chinês tiveram deflação de 5,4% ao ano. Movimento ajuda no controle da inflação mundial, mas atividade mais fraca impacta no crescimento das economias
A China voltou ao foco do mercado financeiro global, após a publicação de dados fracos de inflação na segunda maior economia do mundo. A crise no setor imobiliário do país, que representa um terço da produção, também alerta para o enfraquecimento da atividade econômica.
O índice de preços ao produtor (IPP) da China, que mede o custo de produtos na porta de fábrica, caiu 5,4% em junho na comparação com o mesmo mês de 2022. O resultado aprofunda o declínio de 4,6% registrado em maio.
Essa é a leitura mais fraca desde dezembro de 2015, quando o IPP caiu 5,9% no ano, segundo publicou o Departamento Nacional de Estatísticas do país (NBS) nesta segunda-feira, 10/07. O valor também ficou abaixo das expectativas do mercado, de queda na casa dos 5%.
Na comparação mensal, o IPP da China recuou 0,8% em junho. No mês anterior, a queda havia sido de 0,9%.
Para o consumidor, o índice de preços permaneceu inalterado (0%) no mês passado em relação ao ano anterior. Essa foi a taxa mais fraca desde fevereiro de 2021, o que aumenta a especulação sobre um potencial estímulo econômico.
Impactos no mercado financeiro
A deflação nos preços ao produtor chinês preocupa toda a economia mundial. Isso porque preços mais baixos das commodities chinesas apontam para uma demanda econômica mais fraca no país. Se a população chinesa consome menos, há queda nas importações e investimentos.
O economista-chefe do banco Master, Paulo Gala, explica que essa deflação nos preços aos produtores chineses pode indicar uma crise futura.
“Antes, o mercado estava muito preocupado com a inflação alta. Agora começa a ficar preocupado com a deflação, porque pode indicar uma crise adiante ou uma desaceleração muito forte. O minério de ferro teve uma queda intensa depois de um dado pior do que se imaginava”.
Os contratos futuros de minério de ferro nas bolsas de Dalian e Cingapura caíram mais de 3% nesta segunda-feira, pior valor desde outubro do ano passado.
No Brasil, a baixa na cotação da commodity causa perdas nos papéis de mineração e siderurgia, setores com peso forte no Ibovespa.
Essa queda generalizada acontece porque a China é um dos maiores importadores de minério de ferro do mundo: o insumo é usado em seu robusto mercado imobiliário. No entanto o setor está em crise no país há mais de dois anos, o que está sufocando a recuperação da economia local.
Esses problemas são causados pela queda na venda de casas e no alto endividamento das incorporadoras, após a realização de fortes investimentos sem retorno. O governo chinês tem apoiado o setor, mas até agora os problemas não foram sanados.
Impacto na economia global
A deflação aos produtores chineses traz um impacto ambíguo na economia brasileira e mundial, que pode ser explicado em dois pontos.
1. Ajuda na desaceleração da inflação
“Por incrível que pareça, a deflação auxilia no controle da inflação e, portanto, dos preços nos Estados Unidos e no Brasil. Isso traz certamente uma pressão de juros mais para baixa. Ou seja, reforça a tese de corte da Selic e do término dos ciclos de alta nos Estados Unidos e na Europa”.
2. Queda na atividade econômica com forte impacto global
“O que preocupa em uma atividade mais fraca é a falta de capacidade de reação da economia chinesa. Os investidores gostariam de ver uma China um pouco mais robusta, com crescimento mais forte do que têm visto”.
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