ESG

Sustentabilidade é questão financeira – e o Brasil pode liderar essa agenda, dizem executivas

Durante evento Fin4She, especialistas debatem tendências e expectativas para investimentos sustentáveis

A sustentabilidade deixou de ser um tema paralelo nas empresas para se tornar um fator central na gestão de riscos e alocação de capital. “Não é uma questão não financeira, é uma questão pré-financeira, porque vai bater no financeiro das empresas, seja via custo e risco, seja em produtividade, custo de insumo de diversos gêneros, custo de capital”, afirmou Maria Eugenia Buosi, CFO do Grupo Melhoramentos, durante painel sobre finanças sustentáveis no Fin4She Summit.

Essa mudança de percepção tem sido acelerada pela regulação, segundo Denise Hills, conselheira na Anbima. “Nenhuma boa decisão de risco e de alocação de capital de mais de 2 anos está sendo feita sem isso [análise de risco climático]”, afirmou. “A regulação está trazendo para dentro das empresas uma coisa absolutamente primordial, mas é preciso fiscalização também.”

Ainda assim, essa nova abordagem exige engajamento dos investidores. “Clientes têm que querer fazer investimento nesse tipo de produto [de investimentos sustentáveis]”, disse Mariana Oiticica, sócia no BTG Pactual. O problema, segundo ela, é que “grande parte dos investimentos são de curto prazo, mas difícil prever no curto prazo qual o impacto climático. Isso traz uma dificuldade de engajar os investidores”.

Ana Luci Grizzi, sócia na ALG Consultoria, destacou que a movimentação precisa vir de quem detém os recursos. “Os donos do dinheiro precisam querer que esses temas entrem na pauta. A gente está falando de gerenciamento de risco, isso é gestão do negócio. Cadê o asset owner? A gente precisa do asset owner indicando que o asset manager tem que fazer avaliações climáticas, e o que é material tem que estar na conta para decidir onde fazer seu investimento.”

Essa mudança de mentalidade ganhou força recentemente. “Antes, os temas de sustentabilidade não subiam para as diretorias, porque não tinham essa avaliação de risco e oportunidade como temas estratégicos para geração de valor e produtividade. Isso muda em 2020, 2021. Em 2025, o que tenho visto, é que em empresas brasileiras que têm presença internacional ou em empresas multinacionais, esse tema está em discussão no conselho com aprofundamento. Isso agora está no conselho porque virou diferencial competitivo”, diz Ana Luci.

Na prática, um dos mecanismos para essa transição é o mercado de carbono. “Várias empresas se comprometeram com net zero – reduzir ao que possam as emissões de suas operações, e o que não puderem reduzir, compram crédito de carbono”, explicou Mariana. “É uma forma de remunerar a pessoa que é proprietária da terra para que você consiga que a floresta permaneça em pé. Na nossa visão, nem só os proprietários privados de terra mas povos originários podem ser beneficiados. Para que consiga fazer dinheiro com a natureza.”

A expectativa no painel é que a discussão sobre créditos de carbono deve ganhar força na COP 30, que será realizada no Brasil. “Espero que definitivamente tanto precificação quanto financiamento tenham incentivos melhor alinhados”, disse Denise. “E que o Brasil possa se beneficiar de ser solução para vários problemas do mundo. A gente começa a olhar para um padrão de desenvolvimento que a gente ainda não conhece, mas em que o Brasil pode ser reconhecido.”

Mas há entraves. “A maior parte dos investimentos de impacto são em países desenvolvidos, o que é um contrassenso”, observou Maria Eugenia.

E há desafios também para consolidar os novos instrumentos. “O mercado de carbono está quase resolvido, mas tem passos para integração internacional. O que se discute na estratosfera de acordos internacionais, é feito no setor privado de cada país. E sem financiamento a gente não tem investimento para fazer essa redução”, apontou Ana. “Teremos ativos novos que serão precificados. É um terremoto no balanço que vai impactar bottom line. É tão importante quanto entender os novos tributos.”

Apesar dos obstáculos, Mariana encerrou com otimismo: “Acredito que a negociação de crédito de carbono vai trazer fluxo de capital para o Brasil”.

Quer simular investimentos no Tesouro Direto? Acesse o simulador e confira os prováveis rendimentos da sua aplicação. Se já é investidor e quer analisar todos os seus investimentos, gratuitamente, em um só lugar, acesse a Área do Investidor.